Até segunda ordem, sabemos que a intenção da palavra é proporcionar a comunicação. Eu tenho um vocábulo que se refere a algo, lanço mão dele para que o outro saiba do que estou falando. Porém algumas palavras, parecem mais secretar conceitos do que de fato esclarecê-los.
Um bom exemplo é a palavra amor, tenho a nítida sensação que em boa parte das vezes quando alguém diz “eu te amo”, está dando uma informação e quem ouve está entendendo outra. Alguns compreendem como um contrato, outros como um troféu, alguns outros como uma etapa e por ai vai. Se trata de uma questão de idiossincrasia, que nesse caso onde há tanto investimento, acaba sendo de fato muito controverso.
E o mais engraçado é você observar que a grande maioria das pessoas utilizam um “eu te adoro” como uma forma de dizer que tem apresso por alguém, mas ainda não chegou no patamar de amor... Porém se pensássemos bem acerca de tudo que falamos iríamos rever esse conceito. A primeira definição que o dicionário Aurélio da para amor é: “Sentimento que pré dispõe alguém a desejar bem de outrem”, tb fala em “amizade”, “afeição”, “simpatia”, entre outros. Adorar tem a ver com idolatria, o dicionário trás definições como “render culto a (divindade)”, “amar extremosamente”. A bíblia diz que devemos amar uns aos outros e amar a Deus sobre todas as coisas, mas adorar, somente a Deus. Olhando dessa maneira percebo que amo muitas coisas e pessoas, e digo isso não só fazendo uma análise semântica da palavra, mas da maneira que de fato sinto. Tenho carinho, quero bem, gosto de ter perto de mim um sem número de coisas, pessoas e situações. Posso dizer que amo minha vida e suas miudezas, isso inclui minha família, meus cachorros, meus vizinhos, meus amigos, meus professores, a senhorinha da venda do lado de casa que me vende picolé desde que sou criança. É claro que cada pessoa está alocada de uma forma diferente, mas não sei dar outro nome que não seja amor, para o sentimento que tenho, por exemplo, pela moça que trabalha aqui em casa que é tão generosa nos acompanha a tantos anos. Também não acho que isso desmereça ou reduza o meu amor, nem banaliza o que sinto, o que valida meu sentimento é a maneira que demonstro ele e não a quantidade de objetos para quem ele é direcionado.
A minha avó paterna costumava dizer que na vida mais importante do que ser amado pelo que se é, é ser amado apesar do que se é. E muita das pessoas que amo, sinto independente do que são. Algumas de fato não tenho uma puta admiração, não acho que dizem coisas incríveis ou fazem grandes feitos, mas ainda sim gosto delas. Outras eu amo e adoro... São as pessoas que gosto pelo que são... Digo seguramente que nem todo mundo que amo adoro, mas com certeza todo mundo que adoro eu amo.
Análises espistemológicas a parte o importante é procuramos ser honestos e nos fazermos entender em nossas falas. Se em algum momento sentimos que o que entendemos por amor é diferente do que quem está te ouvindo pode vir a entender, procuremos logo que possível, deixar bem claro o que de fato estamos falando, é o correto e evita dores de cabeça futuras.