16.7.23

Nunca será

 



Quantas vezes mais eu vou tentar um retorno?


Dificuldade minha de entender que as coisas passam, deve ser por que amo vir aqui ver registros do meu passado, detalhe do que pensava, de como via as coisas, acho um barato e queria ter registros de 2023 pra ter em 2033, mas olha... É luta! Quando retornei com o blog estava trabalhando em um emprego quase do lado de casa e outro em home office, os dois trabalhos mal somavam 40 horas... Agora eu tô com três empregos, sendo um em uma cidade há 150kms de distância e comecei a fazer mestrado em outra cidade. Quer dizer, né??? Cortei várias coisas... Raramente consigo ver um filme, parei com o candy crush, comprei um kindle pra ler nas horas vagas, tenho tido dificuldade em manter minha rotina de atividades físicas e uma alimentação adequada, o que dirá escrever um blog. É um absurdo eu não ter escrito sobre a herança do Gugu, vou fazer uma força pra poder tentar pq o assunto merece, mas de verdade... Tá difícil manter.... Tive um trecho da minha vida muito bem marcada, escrita com lembranças vivas sobre o que pensava e vivia, uma outra parte vai ficar marcada pelas frívolas lembranças do Instagram, que provavelmente um dia vai acabar quando ele cair de moda que nem as lembranças do FB que eu abandonei, ou os registros mais anteriores dos flogs... É tudo tão plástico nas redes sociais, não há comparação... É uma pena mesmo.  

24.1.23

Perdón que te salPique

 

Começo de um Sonho

Aí o amor...

Vamos da fofoca que tá roubando a  atenção do mundo.. A música que Shakira fez pra rachar a cara de Pique. Eu confesso que tenho acompanhando essa fofoca muito de longe desde que o divorcio rolou. Pq eu tô numa idade que ainda gosto de fofoca, mas a fofoca tem que ser simples, ficou muito complexo eu já vou cansando. Família Poncio, por exemplo, eu corro. Toda vez que surge algo eu coço a cabeça e penso "essa é quem mesmo? A traída, a nora, a criança, a sogra pastora".. Ai eu não tenho força de ir pro google procurar e desisto.

Eles tinham separados numa separação tumultuada... Rumores de traição, uma briga por causa de um avião de 100 milhões, os Gramys de Shakira no escritório de Pique que ele não queria devolver, uma confusão em torno da mudança das crianças de país e etc .. Mas a conversa subiu três degraus quando Shakira lançou a música "BZRP (Musica sessions 53)" - Que vamos combinar com um título desses, vai ser eternamente a música do Pique - Na canção a diva colombiana taca titica no ventilador e fala da traição dele inclusive com referencias ao nome da moça.

Recentemente Shakira teria confirmado que houve traição e em um vídeo dele em casa de 2021 a amante passa no fundo, num período que Shakira estava em viagem. Reza a lenda ainda que quando Shakira retornou de viagem deu por falta de uma geleia de morango na geladeira, iguaria que ela ama e o marido não come. Eu confesso que fiquei de cara que Shakira deu por falta da geleia, várias amigas disseram que também dariam e eu respondi para todas: Por que você é pobre, você sente falta até de 0,50 ctvs que tava na bolsinha na hora de pagar a passagem, mas pra mim Shakira nem ia na cozinha, ela pedia pra empregada que servia a geleia numa taça carérrima.... Mas nossa eterna diva da copa sacou. Os outros compositores da música declararam que a letra original que ela escreveu era muito pior, que inclusive ela fala de uma IST que pegou... Baixaria mesmo...

Inclusive lembrei desse clássico



Assim gente, Shakira tá vivendo esse divorcio com toda sua latinidade, a verdade é essa, me lembrou muita a separação de Joelma e Chimbinha com Joelma chorando nos palcos do Brasil dizendo que a lua não trai, quem trai é o homem. Shakira, que tem sua casa do lado da casa da sogra, pendurou numa sacada uma bruxa pro lado da casa da velha, aumentou os muros e deixou 24 horas a música tocando no último volume. Na Europa nem deve ter lei pra esse tipo de importunação por que eles nem sabem o que é isso.. A amante falou que ficou abalada com a música... A mulher entrou na casa de Shakira, comeu a geleia de Shakira, sentou no marido de Shakira e tá se doendo com isso.. Alguém tem que contar pra ela que do lado de cá do atlântico o povo raspa cabeça.

Pique tá sendo um escroto, na música Shakira fala que ele trocou um Rolex por um Cassio e uma Ferrari por um Twingo... Ele já esteve em dois eventos públicos com ambos os produtos. Tão mais bonito se desculpar, né? mas a gente sabe que hoje o mais importante na vida é dominar a narrativa na internet e ele precisa falar com o fandom machista dele de fãs de jogadores de futebol... é o que ele tá fazendo.

Honestamente eu não quero culpar Shakira por nada, acho até que tá bem certa em descontar o sofrimento  em sua arte, não só por que ela transforma um limão numa limonada ganhando uma grana com isso, mas por que é o que um artista faz de melhor, grandes álbuns nasceram de desilusões amorosas e acho que é o que vai rolar aqui, não é a primeira música que ela lança pra ele e é possível que faça um álbum inteiro. A música era pra ser só colaboração num trabalho e foi parar no top 10 da billboard, feito que Shakira não fazia desde beautiful liar que gravou com Beyonce em 2006. A diva disse que não acreditava que chegaria de novo a isso com 45 anos, numa indústria extremamente estarista, sobretudo com mulher. Então se gravar um álbum inteiro, tá é certa! Só torço pra que ela ao sair disso não se disponibilize a estar novamente numa relação com tantos sinais de que vai dar merda. Pique só está reagindo como a gente pode esperar de um homem que está no arquétipo dele. Se você vai se envolver com um jovem jogador de futebol branco europeu (rico e padrão) e você é uma mulher latina, saiba que existem uma relação abusiva e ancestral em muitos níveis nessa história. Esse pampeiro todo por que esse homem traiu (e sim, eles em geral são absolutamente ciumentos e infiéis) mostra o quanto ela achou que aquele homem era maior do que todos os símbolos que ele carrega e isso é tão incomum quando esses símbolos são vinculados a privilégios que dá até pra dizer que é praticamente impossível. Ele tem tudo a favor da possibilidade de viver sua liberdade sexual como quiser e ter uma parideira em casa para cuidar dos seus filhos, a estrutura coopera tanto nesse sentido que se quer se preocupou da quantidade de furos que a presença de uma amante em casa pode ter. Inclusive há boatos de que ele já traiu a amante (que virou atual) e quem esperava alguma coisa diferente disso? Então torço pra que ela repense sobre suas escolhas, ganhe debate, entenda seu lugar no mundo, não caia mais na esparrela do príncipe europeu e nunca mais coloque seus gramys em outro escritório que não seja o seu.  Uma loba como tu já tá na terra tempo suficiente pra saber onde pisa, porque se uma situação te engana uma vez a culpa é dela, se te engana duas a culpa é sua.

Deu tudo errado

22.1.23

Smiley




 Smiley é uma série espanhola ambientada em Barcelona de temática LGBTQIAPN+ que estreou no fim do ano na netflix, ela tem 08 episódios com uma média de 30 minutos e arrebatou de cara as Yag. É uma comedia romântica gay, de natal, cheio de personagens queridos e um clima de "o amor está no ar" em meio a um pano de fundo tão ápero que é o nosso querido mundinho GLS.

Primeiro comentário que fiz sobre a série no twitter é que não falaria nada para não ser o chato ranzinza, pq sim.. Tem muitos problemas conceituais, mas aqui eu hablarei, pq o blog é meu, papai compô pá eu. Na verdade ela nem de longe escapou do tribunal de Haia do twitter, então se eu falsasse não estaria sozinho.

Antes de tudo eu devo dizer que o gênero comédia romântica foi amplamente explorado nas décadas de 90 e 2000 e teve um declínio a partir da década de 10, pq de fato tem muitos problemas socio políticos em torno dele e com a ascensão de determinados debates, não tinha como passar sem nenhum arranhão. Construía padrões caricatas de mulheres desesperadas por casamento e nutria um ideal de amor romântico que até hoje tem um monte de desavisada  esperando Richard Gere chegar na sua porta numa limosine branca com uma flor vermelha. Smiley quando adapta essa estrutura pra um mundo gay não deixa de fora esses problemas o que acaba se agravando pq em todo o momento o protagonista demoniza a forma que os afetos e sexualidade se dão nesse universo para sonhar pra si uma historia repleta de heteronormatividade. 

A série acompanha a história de dois caras que se interessam um pelo outro e seus amigos, tendo como principal cenário o bar que um dos rapazes trabalha. Tudo começa quando Álex leva um fora do rapaz que tá saindo e de forma impulsiva manda uma msg de voz para cobrar o sumiço. Na mensagem ele fala sobre como se decepcionou e sobre tudo que gostaria de ter vivido, do quão disponível está pro amor. A msg cai acidentalmente no celular de Bruno, um outro homem gay que se vê solitário e também busca pra si uma história (olha como o amor pode acontecer dos lugares mais inusitados, gente? Fica orando aí que pode acontecer na vida de vocês também... rysos) .. Bruno responde a msg, eles se falam e ele acaba indo ao bar que o Álex trabalha e a conexão entre os dois é imediata (afinal é uma comédia romântica_, mas eles precisam enfrentar diferenças que não são poucas.. E a partir daí a série leva oito episódios de voltas mais reviravoltas para chegar no fim óbvio.

As coisas da diferenças são curiosas... O Álex faz um menino jovem, bonito e desejado, mas que é burrinho e fútil por que gosta de coisas como Rupaul ou mesmo de academia. Constrói-se aí a ideia de que quem cuida do corpo necessariamente alguém fútil (talvez seja por isso que eu tenha crescido com um sentimento que academia não é um ambiente que me caiba) e que existe um padrão de cultura (normalmente feita por homens brancos e europeus) que tem mais valor do que outros.  Já o Bruno é um cara feio e culto... Só que a questão é que Bruno não é feio, ele só é mais velho que o Álex... Então o que faz dele alguém abaixo do padrão do Álex é apenas uma questão de juventude. Bruno é vivido pelo ator espanhol Mikki Esparbé que tem 39 anos e Álex pelo ator Carlos Cueva de 27 anos como o belo. Imagens do culto feio:




Tá sentindo o cheirinho de etarismo? Eu tô!

Não bastasse isso tem toda coisa em cima de uma exaltação a monogamia. Álex há todo tempo deixa claro que busca um amor pra si, exclusivo, só falta dizer que quer documento de posse registrado em cartório. Em uma cena alguém comenta sobre algum casal gay com anos de relacionamento ele desdenha dizendo que com certeza é não monogâmico. Eu acho que você pode querer uma relação monogâmica pra si e tudo bem, eu vejo muitos problemas nesse modelo de relação, mas acho que é um direito todo seu escolher estar nele, o que você não pode fazer é deslegitimar o modelo do outro. Manter uma relação duradoura com qualidade não monogâmica é tanto mérito quanto manter monogâmica. Se você para pra pensar no caso das relações poli pode ser até mais desafiador em muitos aspectos, mas talvez vc pense diferente disso pq enxergue virtude no sacrifício e privação, quando pra mim a virtude está na satisfação, gozo e prazer. 

Tem muito mais coisas pra poder ser dito, no meio do caminho, por exemplo Álex se envolve com um homem negro e mais pro fim da história larga esse homem no aeroporto quando tá indo pro Senegal conhecer sua família pra ir atrás do grande amor da sua vida branco. Tem muitas camadas de problemas nisso, mas eu não vou entrar nesse debate por que se fosse falar sobre cada problema da série vou ter que escrever um livro inteiro. Quero agora virar a chave e dizer que mesmo com tudo isso... Eu veria de novo e to louco por uma segunda temporada... risos... Buguei sua cabeça? Explico...

É problemático, mas sim.. É fofo.. A ambientação é deliciosa, eu adoraria frequentar aquele bar, eu realmente gostei muito das histórias secundárias e os personagens em torno deles são muito bem explorados, eu amo histórias de natal, as cenas que mostram a dinâmica do grinder são realmente bem divertidas e amo seriezinhas com temas leves de 30 minutos, é do tamanho que minha saúde mental consegue assistir após um dia inteiro de trabalho... É isso ou Dra Sandra Lee a Rainha dos Cravos. A netflix ainda não bateu o martelo pra renovação, inclusive ela já cancelou Uncoupled uma outra comédia romântica gay de 2022 cheia de problemas e que por mim nem tinha fim, ela ficaria com toda semana um novo episódio sendo lançado por cinquenta anos... rss.... Se decepcionei alguém com esse fim inusitado, sinto muito é o meu jeitinho..  A culpa de mamãe que levou anos da vida vendo Luciana Gimenez por horas e repetindo o tempo inteiro "que mulher idiota, meu Deus". Acho que na vida é assim, tem coisa que a gente gosta e merece criticas e não devemos passar pano pra isso... Eu gosto, mas é traste... Quem nunca? 




7.1.23

A cultura do Block - Qual o limite?!

 


O ano é 2023, os discursos de ódio ganham lastro com a ascensão das redes sociais. Nunca tivemos tanto acesso as percepções políticos ideológicas do outro. Antes do advento das redes sociais o quanto você saberia sobre os hábitos, opiniões e gostos de pessoas totalmente aleatórias que vc só conhece? De repente você descobre através do storie do whatsapp que o motorista que tá no grupo do ônibus da sua faculdade votou no Bolsonaro, que a vizinha do 402 que você só cumprimenta no elevador tem simpatia por regimes fascistas, que a corretora que alugou a casa pra você é contra o aborto, que a mãe de um coleguinha do seu filho da escola é contra a "ideologia de gênero".

Num período de tanta polarização determinadas bandeiras protestam contra direitos e as vezes contra a existência de alguns seguimentos. Determinadas convivências parecem inconciliáveis e bloquear parece a única alternativa.  O debate contemporâneo sobe bloqueio também não chega a um consenso sobre a construção da tal bolha. Se por um lado defende-se a ideia de que precisamos aprender a conviver e ouvir a diferença por outro entende-se a importância da manutenção de relação entre pares em prol de saúde mental. Não há como viver em constante embate ou recebendo mensagens que te crie desconforto. 

Além disso tem um outro aspecto que precisa entrar pra conta. O que estar sempre bloqueando pessoas causa em você? Como diria Falcão "Também morre quem atira". Se livrar de uma pessoa que promove postagens desagradáveis aqui, outra acolá, vai gerando uma cultura do bloqueio. Em pouco tempo você está bloqueando por todo e quaisquer motivos. Em se tratando do mundo gay o bloqueio também presta um serviço de peneirar quem é interessante pra mim e neste caso não é nada incomum que os critérios de bloqueio flertem com motivações racistas, homofóbicas, misóginas, gordofóbicas, etaristas, capacitistas, psicofóbicas, bairristas, xenofóbicas, classistas e outras opressões disfarçadas de gosto.  A formula é simples: Começo bloqueando o que me faz mal e termino bloqueando tudo aquilo que não quero enxergar por puro hábito, é simples e confortável fazer.  A gente sabe quando a  cultura do bloqueio está sedimentada quando a pessoa começa a postar orgulhosa em redes sociais que bloqueia mesmo, como se a habilidade em afastar pessoas fosse um mérito.

Minha série favorita na vida, Black Mirror, é uma espécie de scifi que mostra histórias diferentes em cada um dos seus episódios, mas sempre tratando da relação do homem com a tecnologia. Na segunda temporada ela apresenta um episódio chamado White Chritmas (Natal Branco) em que existe uma tecnologia que pode bloquear pessoas na vida real. O episódio traz reflexões importantes quando faz pensar o que significaria no presencial um hábito tão perpetuado no virtual. 




Tem uma frase imortalizada por Jean Paul Sartre que diz que "O inferno são os outros". Há quem diga que a frase completa é "Se o inferno são os outros, também esta é a nossa única alternativa". Conviver é ao mesmo tempo um imperativo e um dos exercícios humanos mais difíceis que a gente não tem feito muito bem desde que existimos enquanto espécie.  Eu também já bloqueei pessoas e acho que é necessário fazer eventualmente, só entendo que essa não deve ser a sua primeira  alternativa e muito menos motivo de orgulho. É preciso ser refletido, é preciso se perguntar o quanto você tem utilizado desse recurso, é preciso tentar vincular gestos individuais a propósitos maiores de vida. Pergunte-se sempre a pessoa que você quer ser e como determinadas formas de se relacionar podem te afastar ou te aproximar disso. Busque ser a mudança que quer ser no mundo... E depois disso decida se bloqueia ou não. Vou concluir esse post uma frase do Pantera Negra que casa muito bem para essa reflexão: 

Em tempos de crises os sábios constroem pontes, enquanto os tolos constroem muros. 


6.1.23

Eu sempre soube

 O Brasil viveu o governo mais desolador da história contemporânea. Eu poderia escrever uma bíblia de motivos para confirmar essa frase. Seja por sua desonestidade, pela anticiência, pelo enfraquecimento das instituições, pelas ameaças golpistas a democracia, pelos ataques a minorias, pela o acirramento da polarização política, pelo total desrespeito as pastas ambientais, pelo desmonte da cultura, pela gestão desastrosa e corrupta da pandemia, pelo fundamentalismo religioso, pela cafonisse e pobreza de espirito... Olha... Foi horroroso, sobrevivemos a esses 04 anos de um governo medonho que foi o primeiro a não se reeleger desde a redemocratização. 

A grande maioria da classe artística apoiou Lula por motivos óbvios (que não tem nada  a ver com a lei rouanet). Além do desmonte da cultura desde a extinção do ministério e que seguiu de forma desastrosa na mão de figuras dantescas como Regina Duarte e Mario Frias, não dá pra deixar de esquecer o que foi a gestão da cultura na pandemia pra um setor que foi o primeiro a fechar e o último a reabrir. 

Porém no que se refere ao sertanejo, poucos não apoiaram Bolsonaro, o que gerou imagens como essas aqui:



Numa análise mais simplista a gente poderia apenas falar sobre a ligação desses caras com o agronegócio que se beneficia de uma política de apoio ao desmatamentos e a manutenção de grandes latifúndios.. Mas não é só isso... Tem muito a ver com machismo, tanto Bolsonaro querendo nutrir a sua imagem como a  de um homem simples com hábitos e valores interioranos como desses caras que sustentam valores patriarcais e valorizam "o homem de antigamente". 

O meio sertanejo é absolutamente machistas e mesmo com o advento das femineja é muito comum a letra das suas músicas ter uma estrutura totalmente misógina e tóxica nas músicas. Claro que há avanços, mas ainda é um território muito reacionário e de difícil penetração de ideias progressistas.

É curioso que a vida inteira eu tive irritação com a figura do cowboy no reality show. Toda vez que tem um reality que tem essa persona eu já fico puto de cara, pq eu sei que o mais provável é que ele vai vomitar  patriarcado na face do Brasil e vai ser comprado como o cara "coração bão" com valores do interior e mano não é, simplesmente não é. Não é por que uma pessoa tem um sotaque X ou por que lida com vaca que isso vai fazer dela um ser humano louvável, não é sobre isso. O estilo de vida por si só não deveria conferir vantagem a ninguém por que tem gente maneira e canalha em todos os lugares, é simples assim.

Ainda sobre o apoio do sertanejjo a Bolsonaro é claro que essa questão de costumes com a ao lucro que esses caras tem com o estimulo a um agronegócio predatório em todas a sua cadeia produtiva, pq se eles se sentissem lesados nos seus interesses financeiros acho que apoio não seria tão amplo, mas ainda sim ele se sustentaria em grande parte com o machismo. Um bom exemplo disso é o Ratinho que chegou a  reconhecer na entrevista com Lula no seu programa que ganhava mais dinheiro durante seu governo, mas nem por isso deixou de apoiar Bolsonaro. 

 Eu diria até que não se trata deste setor apoiar Bolsonaro, mas do Bolsonarismo ter surgido a partir de valores nutridos neste setor. Bolsonaro existe por que o eu lírico de Vidinha de balada de Henrique e Juliano diz que tá afim da menina e que ela vai ter que ficar com ele, vai namorar e se reclamar vai casar também ou então por que Henrique e Diego em Malbec cantam que vão levar a menina pra casa, malandramente vão domina-la e com vinho Malbec ela não nega nada. É um escarnio e nós sabemos que foi do escarnio que nasceu o bolsonarismo. E sim... NUNCA ME ENGANOU!




5.1.23

#TodaBabada XV (João Guilherme)

Para provar para meus seguimores que sou uma pessoa completamente aleatória quando o assunto é gosto pra homem, 24 horas após trazer Baco Exu do Blues um homem negro, forte e que enche uma cama, trago João Guilherme sem glúten e sem lactose, mas com muita gostosura.

Bem.. Tudo que eu sabia dele até dar uma lida para fazer esse post era que ele era influencer e filho do sertanojo Leonardo. Porém lendo eu descobri que o boy tbm é ator e trabalhou nos sucessos "Cúmplices de um Resgate" e "As aventuras de Poliana", mas engula este riso debochado, pq ele na verdade teve uma carreira de ator mirim quando tinha seus 09 anos.

Além deu real achar ele um gatinho e acha-lo uma ótima referência no que se refere a estilo nessa geração, João tbm se posicionou contra o governo Bolsonaro indo em colisão com o pai. A situação rendeu uma treta até com a madrasta em redes sociais, mas o boy segurou mesmo com tão pouca idade. Também acho legal o fato de mesmo sendo hetero (e é conhecido, mesmo com essa cara de bebê, por passar o rodo)  ser bem feshionista e desprendido dessa ideia cafona de moda por gênero. João Guilherme é um influencer bastante queer na sua estética e faz isso furando uma bolha.


Bem, vamos ao que interessa.. Ibagens.. Informo que apesar da cara de 15 anos, muito sustentada por seu 1,70 e 60 kg, o boy tem 20.. Já pode!


é príncipe que fala?


Aqui com sua tia lésbica (Leonardo), mais novinho um pouco

Aqui de cueca tapando a face... Bem geração Z


Sendo Fashionista aqui

E aqui de novo

Mais uma vez...






Fechando deixando sua msg para Bolsonaro.

E aí? Fariam?
Minha vida agora é oração para vazar um nude de João Guiherme!
Pq, sim! João Guilherme nu é tudo que quremos.

4.1.23

Chico Felitti e sua mais nova série investigativa: O Ateliê

 Se você é brasileiro e passou por 2022 certamente sabe quem é Chico Felitti. O jornalista paulistano estourou ano passado com o podcast "A Mulher da Casa Abandonada". A história começa em torno da curiosidade de Chico sobre uma mulher que vivia numa casa abandonada em um dos bairros mais ricos de SP. Ao puxar esse fio Chico encontrou uma grande história. Margaria Bonetti, a tal mulher da casa abandonada, era foragida do FBI por ter escravizado outra mulher enquanto viveu naquele país.

Antes de fazer o podcast Chico já tinha bastante trabalho reconhecido ele já havia escrito três livros.  "Ricardo & Vânia" de 2019 com a história de uma figura icônica no imaginário paulistano reconhecidoa té então apenas como o Fofão da Rua Augusta. Escreveu "A Casa" em 2020 que contava sobre a seita do médium João de Deus em Abadiânia e escreveu Mulher Maravilha também em 2020, contado a biografia de Elke Maravilha.

Eu conheci o Chico num podcast que ele fez em parceria com o Fantástico chamado "Isto está acontecendo" em que ele mergulhava em fenômenos inusitados da contemporaneidade. Meu episódio favorito desta série foi o que ele conta sobre a rotina de pessoas que participam de grupos de votação no BBB. Na sequência me apaixonei por um trabalho anterior que era o podcast "Além do Memê" em que Chico vai  trás de personagens de memes famosos que viralizaram na internet, buscando entender como tudo aconteceu e onde essas pessoas foram parar. Além do meme tem duas temporadas e eu devorei as duas inteiras.

Não bastasse ser um jornalista que de fato entrega um entretenimentos que muito me agrada, pesquisando um pouco mais sobre o Chico descobri que ele era um homem gostoso e gay assumido. E eu posso provar:


Esse é o macho

OBS: Um passarinho me contou que você pode encontrar nudes do Chico Felitti bem aqui. Enquanto eu tiver na vida de vocês não vai vos faltar nada!

A mulher da casa abandonada foi um fenômeno, chegou a estar entre o mais ouvido em vários países e Chico que tinha trinta e poucos mil seguidores saltou para 220K. O podcast gerou tanto estrondo que as consequências envolveram figuras bastante midiáticas como Datena e Luiza Mel. Chico subiu alguns degraus na escada da fama, há quem diga inclusive que furou a bolha do podcast e trouxe um novo público que não consumia o produto.

Enquanto ainda vivia a hype do podcast Chico foi buscado por Mirela Cabral, uma jovem artista plástica que está num momento de auge de sua carreira, mas relata ter passado por um a ateliê de arte no centro de São Paulo que tinha toda dinâmica de uma seita. Na época Mirela estava lendo "A casa" e sentiu que Chico era o homem certo para tornar público o que acontecia dentro daquele espaço.

                   Mirela Cabral
 
O primeiro episódio lançado hoje (04/01/2023) fala de forma pueril todo o processo que Mirela passou até resolver denunciar o espaço, o caminho que fez até Chico e a decisão de processar seu abusador  Para a produção do podcast diversos alunos e ex colaboradores contam sobre abusos físicos, financeiros, psicológicos e sexuais proferidos pelo responsável pelo ateliê. Rubens Espirito Santo, o dono do espaço não tem se quer o ensino médio e nenhuma projeção no meio, mas atribui a si o título de mestre e entende ter uma metodologia que é recheada de toda ordem de violência.  Rubens deu entrevista pro odcast e isso ainda vai ao ar, mas o que fica claro no primeiro episodio é que ele não nega os eventos, só não os entende como abusos.

Rubéns Espirito Santo

Chico mais uma vez achou uma boa história, uma seita no centro de São Paulo sem que ninguém se quer tenha percebido. O sentimento que eu tenho é que no decorrer da vida todos nós já vimos ou no mínimo ouvimos a história de alguém que se intitula mestre de qualquer coisa, atribui a si uma metodologia sem base pedagógica ou cientifica e repleta de violência. Esse "Gran Mestre" pode ser um karateca, um chef de cozinha, um diretor de teatro, o dono de uma galeria ou qualquer coisa, basta que ele encontre pessoas frágeis que sintam a necessidade de ser parte de algo que ele vai conseguir passar sem questionamentos uma doutrina de coisa alguma e repelta de violência.

No fim do episódio Chico deixa um telefone para denuncias desse tipo de abuso, tal qual fez com A Mulher da Casa Abandonada e que na ocasião aumentou significativamente o número de denuncias de trabalho análogo a escravidão. Algo me diz que uma onda similar vem por aí.

Se você quiser ouvir o podcast vai encontrar no spotfy e nas principais plataformas de som, hoje saiu o primeiro episódio e o Chico criou um "apoie-se" onde por R$ 9,90 você receberá toda primeira quarta feira do mês quatro episódios. Para finalizar vou deixar aqui o vídeo de divulgação que o Chico liberou hoje no seu instagram.  




#TodaBabada XIV (Baco Exu do Blues)

 E no momento toda babada de hoje trazemos aqui o homi que atualmente, pra mim, poderia ganhar o título de mais gostoso do Brasil e que ainda por cima é Baiano.... Baco Exu do Blues.

Para quem eventualmente possa não conhecer Baco é rapper e começou a fazer sucesso dentro do seu nicho coma  faixa suicídio em 2016. Seu nome de batismo é Diogo e seu nome artístico é uma mistura de referências identitárias. Baco o deus grego do vinho, Exu entidade do candomblé e Blues uma referência a música negra.  Apresentado aos desavisados, vamos a o que viemos fazer aqui hoje. 

Os números de Baco me surpreendem... O boy tem 1,76 e eu achei que ele tinha dois... Ele tem 26 anos e eu achei que tinha pelo menos 30.... Mas nada disso diminui a certeza que este blogueiro tem do pedaço de macho que é esse boy. Vocês pediram provas? Esfregarei elas em vossas faces. Como diria a Panterona: Segura a marimba aí, Monamour! 


é um ombro ou uma cobertura?


Jogando com a minha vida!

Tbm tô pronto, Nego!



Te amo, Disgraça!


E como eu não deixo faltar nada pras minhas guerreiras um pouco do Baco Exu do Blues gostoso e se mexendo:


E aí? Tá passada?

3.1.23

Dandara




Eu o conheci quando ele tinha 16 anos, era um garoto inexperiente, no seu primeiro emprego formal quando eu já era uma referência naquele mesmo espaço. 

De cara tivemos boa afinidade, com meu olhar afiado sabia que era um adolescente enrustido e era muito solidário. Adolescente, evangélico, negro e com uma padrão de vida que sempre chamou muito minha atenção. Sabe o menino pobre que a igreja """adota""""? A criança que vive uma situação familiar precária e que as pessoas de bem da igreja levam generosamente para passar fins de semana na sua casa e depois devolvem para sua opressão regular? Pois é, é ele... Eu já vi esse filme e em geral nunca da bom.

O menino negro retinto dizia ter alergia a sol, sua pele coçava, seus amigos da igreja eram todos brancos e de classe média, padrão do padrão e tratavam ele "como se fosse da família". Aos 16 , diante do seu primeiro emprego saiu da fazenda da mãe, que na época tinha graves problemas com bebida e ainda vivia com o padrasto que abusou dele durante da infância. tendo um salário e apoio dos amigos da igreja foi morar sozinho numa quitinete no centro. 

Meu marido dizia que ele era sem noção, eu dizia que ele era completamente desorientado de tudo e tentava na medida do possível, ajuda-lo... E ele sempre me ouviu.. Emprestei livros, tive conversas... Viramos amigos. 

Ele viveu uma grande crise com os amigos da igreja, tudo começou no mesmo período que assumiu sua homossexualidade. Já não tão criança e gay, as portas começaram a se fechar e velhos amigos faziam chacota na internet. Lembro de um filho de pastor, rico, branco escrevendo no facebook que ele acusava a igreja de mentir, mas que no fim a mentira estava dentro dele, mas que quando precisasse ele iria voltar. A situação se tornou insustentável quando ele falou pra todo mundo que a mãe morreu, todos o abraçaram, inclusive eu, ele chegou a ser hospitalizado, levei pra minha casa e foi um pastor da igreja o primeiro a descobrir que na verdade ela estava viva.

A história da mãe morta foi um divisor de água, cada vez mais ele tava sem a tutela da igreja, fora do trabalho, o cerco foi se apertando. Ficou amigo de uma galera super progressista da universidade federal da minha cidade. Morou um tempo com amigos numa serra, virou bicho grilo, foi nessa época que passou a usar saias. A mentira da mãe tbm inaugurou muitas outras, vivia mentindo, contava mil histórias. Um dia bateu na minha porta vestido de mulher e disse que a partir daquele momento se chamava Dandara.

Eu acolhi, recebi, mas olha... Sei que era fácil pra qualquer psiquiatra falar em disforia, num contexto de muitas invenções, além disso nada anteriormente indicava essa transgeneridade, pelo menos nada aparente, ams eu fiz o que me restava, acolhi. Ser uma mulher trans preta, trouxe um lugar de notoriedade, visibilidade, a gata começou  a palestrar e qualquer coisa que dissesse recebia inúmeros aplausos. nessa época era o período das ocupações das escolas, ela morou em algumas, mesmo já não sendo secundarista.

Depois de um tempo foi embora pro Rio, dividiu apartamento com Black Blocs, passou a se prostituir, tatuou um "Puta" com A de anarquismo na bunda, passou a usar drogas pesadas, a participar de forma violenta de atos e por aí vai... Esse período é um período bem nebuloso da sua vida, por que a única vez que esteve aqui na cidade foi me ver e contou muitas mentiras absurdas... Falava que estava com HIV, câncer e alergia a todas as medicações menos antialérgico, que fizeram pelo menos 4 documentários com a sua história, que conhecia pessoas trans famosas o cenário musical... Nada fazia muito sentido.  Ela tinha 18 anos quando foi presa pela primeira vez, fugiu, chegou a  me ligar, me contar que tava vivendo com uma amiga, que batia carteira pra sobreviver. Se emocionou quando perguntei onde estava aquela pessoa com tantas ambições que eu conheci, que queria ir pra África ajudar pessoas, que queria salvar o mundo.

Meses depois soube que foi pega por policiais aqui na nossa cidade, pulou de uma ponte, estava com cocaína, voltou para cadeia. Me ligou da cadeia, me contava que não via a hora de sair... A ligação era péssima, tentei aconselhar como podia. Em 2020 ela saiu...Na verdade não era mais ela, era ele.. Voltou com a expressão masculina e usando nome masculino, dizia estar de saco cheio de ser alvo, que não suportava mais. Conversando com ele eu olhava um pouco espantado, o jeito, as gírias... Era outra pessoa. Ele contou que engravidou uma menina, que ela era prostitua, que o filho vivia largado e que ele tinha vontade de pegar. 

Ele voltou a morar com a mãe, já livre do álcool, mas vivia falando da dificuldade de se ressocializar, da falta de amigos, do fato de ninguém dá uma oportunidade, da vontade de fazer merda, do medo que tava de ir mensalmente no Rio assinar documento na casa de detenção e ficar. A mãe do seu filho vivia chamando pra ele ir pra lá, eles se prostituiam juntos.... A vida sexual da cadeia tbm deixou suas marcas, sentia falta da alta rotatividade e da variedades de homens. Encaminhei ele pro CREAS e tentei fortalecer o máximo que podia para não cair. 

Algum tempo depois ele conseguiu emprego de frentista num posto de gasolina, alugou uma quitinete, para morar próximo por que ficava num lugar um pouco ermo. Foi tomando gosto pela casa, por ter suas coisas... Reclamava apenas da solidão.... Queria namorar alguém, tinha vergonha do mamilo que cresceu em função de hormônio, sabia que além de preto e pobre carregava consigo o passado, isso com apenas 24 anos. As vezes fazia um programa, volta e meia se via tentado a fazer besteira, mas se manteve firme. Não retornou a igreja, mas resgatou um contato com a fé o que ajudou bastante. 

Depois de um tempo conseguiu um emprego de frentista na baixada através de uma prima... Alugou uma casa melhor, organizou seu espaço, comprou um notebook, fez vestibular para CEDERJ, está tirando carteira de motorista e por causa de uma bobagem acabou de ser demitido. Me ligou essa semana, ficamos um tempo no telefone, saiu do emprego anterior deixando portas abertas, discuti com eles estratégias para gerir o dinheiro da rescisão, terminar autoescola, retornar pra sua cidade e continuar nesse caminho. Ele tá sereno e eu fico aliviado, só me preocupando com essa solidão... Com os homens pseudo heteros que ele se dispõe a ficar, que leva pra tento de casa, que colocam ele numa situação de risco. Tenho medo do quanto o sistema carcerário ainda está dentro dele, embora ele esteja fora, mas nunca deixei de apostar nesse que um dia atribuiu a si a força de Dandara. 

2.1.23

Sem foto, sem papzzzzz...

 


Essa conversa de "sem foto, sem papo" é daquelas coisas socialmente aceitas que ninguém nem reflete, mas tem camadas e mais camadas de complexidade nisso. O discurso é tão aceito que é perpetuado até por quem não tem foto de rosto em aplicativos de geolocalização e nego não enxerga o tiro no pé que tá dando com isso. Comentei no post que fiz sobre o rando chat, aplicativo que costumo entrar e que é repleto de muito anonimato, que falaria sobre o fato de não pedir foto de ninguém e eis-me aqui.

Sobre o rando especificamente atribuo a falta de fotos a ter muita gente da geração z, que não é pouco comum ter problema com autoimagem e daí não tem foto, ou tem foto com pedaços do corpo, ou tem foto com cara de cachorrinho, com pintas, chifrinho, ou qq outra coisa que ajude a mostrar menos. Eu seria simplista se parasse aqui, tem muito casado no sigilão e tbm muita gente que usa o espaço como escapismo então não coloca sua imagem pra poder ter ali uma espécie de avatar no denso mar da socialização. Acho que é importante a gente entender que existem motivos diferentes pra que as pessoas não tenham fotos e isso também se expressa de forma diferente em espaços diferentes. 

No grinder,  por exemplo, quanto mais no interior você está, mas você encontra pessoas sem foto. Ele é um aplicativo de encontros, por geolocalização, então um espaço em que você lida com a comunidade gay local... Você pode encontrar lá seu vizinho, seu chefe, seu cliente, seu fornecedor, seu professor e por aí vai. Isso  acaba limitando ainda mais as coisas. Aliás devo dizer que eu mesmo tenho um perfil de casal no grinder, mas em função de morar numa cidade pequena do interior somada a minha profissão e todo preconceito em torno de relações não monogâmicas, eu opto por não me expor. Todavia no rando que falo com pessoas do Brasil inteiro, faço sem nenhuma cerimonia. 

Eu acho natural um discurso corrente que antipatize a figura do não assumido, mas a bem da verdade a mesma comunidade que pressiona seus pares por imagem, adora adular homens de 35 anos que procuram encontros no sigilão. Adora adular tudo que faz parecer não ser gay... E a contradição não para por aqui. Apesar de um tom de crítica a falta de ousadia, o que se quer mesmo é fazer uma avaliação para saber se vale a pena não só encontrar, mas manter no seu "cardápio". Enquanto um homem fora do padrão a vida inteira construí minha autoestima enviando fotos e sendo bloqueado. O universo gay nunca somou pra minha autoestima e acho que no fundo não soma com a de ninguém. Isso já rolava na era MSN e na era grinder é muito pior, por que o aplicativo bonifica quem bloqueia. Você tem uma rede limitada de pessoas, então se vc bloqueia esse cara por quem não tem interesse, outro cara aparece como uma possibilidade. No fim a bem da verdade é que a foto na era grinder vem como uma espécie de análise fria, pra avaliar se vale a pena te manter como um contato possível.

Então não me venha sustentar uma narrativa de envio de foto por uma questão de justiça em função deu estar me expondo. Pode haver isso, mas é secundário, em geral a  principal preocupação é atualização do catálogo. A gente precisa parar pra perceber que o "mundinho GLS" não se restringe a pessoas gays, assumidas, profissionais liberais, de classe média, nos grandes centros. Mesmo pessoas assumidas podem se sentir expostas em aplicativos de relacionamento por que estar nesse espaço pode ser problemático em algum campo da sua vida. 

A matemática pra mim é muito simples. Eu não deixo de falar com ninguém por aparência, não tô dizendo que sou uma Madre Teresa de Calcutá piranha version que se disponibiliza a ficar com qq um por empatia (embora meu filtro seja bem amplo mesmo), mas o fato deu não ter intenção de ficar com alguém não significa que tenho que fechar um canal de comunicação... Acho absolutamente arrogante a ideia de que alguém é tão feio que não pode nem me dar "Bom dia". Eu entendo que quem não tem foto, tem motivo para não ter foto e em função disso eu não peço foto. Ela pode não querer mandar por sua profissão, por problema de autoimagem, por estar numa relação, por mil motivos que não me cabem. A pessoa manda quando sentir-se a vontade pra tal e segue o baile. Lógico que não ter imagens pode restringir muito as coisas... Eu não vou, por exemplo, encontrar com ninguém com quem eu nunca tenha trocado fotos. Se for em aplicativo de geolocalização, tbm não vou fazer confissões ou partilhar fantasias com quem tá a 155metros e não sei quem é... mas ainda sim a gente pode se falar.  A única coisa que realmente não faço é, nos espaços em que eu tenho foto, mandar mais foto pra quem não tem foto nenhuma. Por que aí é muito desaforo.

Outro anexo importante desse assunto é o nude, que realmente tornou-se o passaporte de qq diálogo que tenha uma intenção de encontro. Eu não gosto de enviar (principalmente em aplicativos de geolocalização) e me sinto totalmente incomodado quando me perguntam "por que". Quer saber os motivos com qual intenção? Vai sentar e refletir comigo por quais motivos eu devo quebrar meus protocolos de autopreservação pra atender a sua curiosidade? Vai para puta que o pariu, né Gente Boa!

Resumindo.. Essa conversa de "pópópó é muito chato conversar com fantasminha" é meu ovo... O que você está fazendo é só perpetuar a aspereza nesse grande destruidor de autoestimas que são esses aplicativos de geolocalização. Flertar entre gays em 2022 é um eterno se perguntar 'Tô confusa, é fã ou é hater?"




1.1.23

O Ex Quase Namorado


 


Eu nem lembro quantas vezes na vida contei essa história, ela volta e meia é assunto, basicamente por que tem sempre alguém fazendo a seguinte pergunta sobre minha relação: Nunca rolou de se apaixonarem ou de considerarem ter algo com outra pessoa? Então.. Em 10 anos aconteceu uma única vez e quaaase rolou por isso volta e meia eu conto essa história.

Antes de começar o fato em si eu preciso fazer alguns adendos. Eu conheci meu marido em 2009, ano que começamos a namorar, em 2011 fomos morar juntos e em 2013 abrimos a nossa relação. Entre os anos de 2013 e 2017 o acordo era que só poderíamos ficar com pessoas se fosse juntos. Eu topei e achei o melhor dos mundos, todavia hj com um pouco mais de debate e tendo total clareza de minha natureza completamente poligâmica, esse modelo não tinha mesmo como funcionar pra mim. Em 2016 a gente viveu uma grande crise e foi a  primeira vez que consideramos terminar. 

Quem tem um debate mais avançado sobre não monogamia se quer entende essa estrutura como não monogâmica. Inclusive é muito comum as pessoas enxergarem "swinguers" como um pouco conservadores e não sendo incomum terem muitas travas. A rigor o fato das pessoas estarem envolvidas sexual ou emocionalmente com outras já deveria classifica-las como poligâmicas. Porém se eu usar uma métrica tão engessada também deveria considerar  infidelidade poligamia. O que eu entendo hoje é que nesse modelo as estruturas de controle do sexo, do corpo e do afeto do outro são mantidas e isso não é em nada um amor livre. Porém eu entendo isso hoje, não entedia tão bem antes.

 A partir de 2017 nós deixamos de ter perfis de casal e passamos a ter individual e passamos a poder ficar com outras pessoas individualmente. As experiências enquanto casal foram ficando mais escassas  e os debates sobre esse formato volta e meia eram renegociados. Só agora em 2022, aparentemente, chegamos num acordo um pouco mais claro. Atualmente continuamos a ter liberdade para experiências individuais, mas tentando priorizar experiências juntos. Foi em 2022 inclusive que voltamos a ter um perfil de casal.

Porém, no meio disso tudo, em 2019 conhecemos um rapaz que vou chama-lo aqui de Wanda... Em homenagem a WandaVision. Quem conheceu Wanda foi meu marido, no tinder dele, ele morava na minha cidade natal que ficava a uma hora e meia da cidade que estávamos morando naquela época.  Eles não chegaram a se encontrar e marido dizia que ele fazia muito meu tipo. Eu que em geral gosto de garotos pequeno e magrinhos vi pela primeira vez a foto do menino de 1,55 e 48kgs animado com a possibilidade. Ele era bastante disponível e educado, em pouco tempo foi nos encontrar e a química super bateu, nós três funcionávamos bem.

Com 21 anos Wanda não trabalhava e não tinha se quer concluído o ensino médio... Na verdade não tinha a ver com não concluir, mas de nem ter entrado. Ele também não era um play boy de classe média sustentado pela família. Pelo contrário, morava numa comunidade, era de uma família bem simples e dizia ter dificuldade para trabalhar em função de morar longe. Eu tenho uma autoregra de que dinheiro não define em nada minha relação com as pessoas. Eu não me aproximo e nem me afasto de ninguém em função de dinheiro então esse não era esse o problema... Mas haviam dois.. Bem graves.

O primeiro era que ele queria entrar na relação fechando o que pra mim nem de longe é uma possibilidade. Eu sou uma pessoa que passo a vida militando pela possibilidade de viver uma vida marital que não tenha que sacrificar o bem tão precioso que é a liberdade. Eu realmente entendo que essas coisas podem andar juntas e acho muito esquisito a normalização da ideia de que abrir mão da sua autonomia par atender a insegurança do outro é um gesto de amor. 

A segunda é que ele era extremamente encostado, muito mesmo.. E se eu já sofro por me sentir sobrecarregado ele claramente seria mais um peso. Não tem iniciativa nenhuma, o fato dele não trabalhar de forma crônica eu poderia até passar por cima, o que na verdade eu não tinha analisado no início é que a consequência disso poderia tornar aquela possibilidade inconciliável pra mim. A bem da verdade é que fazia pelo menos 6 anos que essa pessoa não tinha nenhuma atividade, que não cumpre um horário, que não se encontra com um coletivo para a execução de uma atividade em comum e isso nutre nele uma postura totalmente prostrada.

O pior de tudo é que (segundo minha visão) para viver dessa forma e ainda parecer alguém razoável ele criou uma realidade paralela pra si na internet. Wanda tem 10k de seguidores no instagram que pra mim é claramente comprada (as fotos não tem comentários e em geral não chegam a 20 curtidas) e quando o conheci estava no seu perfil "futuro fisioterapeuta". Basicamente por que dizia querer essa profissão, mas numa conversa com ele de cinco minutos fica claro que ele nem tem uma noção exata do que faz um fisioterapeuta, muito menos faz qualquer aceno pra isso se concretizar. Depois de um tempo ele começou a fazer edição de foto e uns freela, mas que vc tbm não percebe nenhum profissionalismo na condução disso. Hoje em dia no perfil dele tá editor, modelo, manequim e blá blá blá... O instagram dele é cheio de selfie com mil efeitos e isso é tudo.

Nós começamos a nos conhecer em agosto de 2019, ele deixou claro seu desejo de fazer daquilo um namoro. Eu falei que ele estava em estagio probatório. Mais ou menos em novembro eu estava bastante envolvido, mas racionalmente tudo dizia não. Ele sempre ia lá pra casa e ficava papo de 10 dias, era bastante tempo. Em uma das vezes ele teve uma crise de gastrite, eu o levei aos hospital e comprei todas as medicações. Fiquei incomodado com o fato dele se quer ter perguntando o preço dos remédios. Foi barato e eu nem falaria, mas ainda que ele tivesse sem dinheiro, acho que deveria perguntar e oferecer de pagar mesmo que fosse depois. A naturalidade com que ele tratou eu pagar por aquilo me incomodou. A minha expectativa é que após a crise ele fosse embora no dia seguinte (a ida estava marcada para dois dias depois), por que ele estava lá em casa há um bom tempo e a gastrite exigiria uma alimentação mais específica, então é um momento para se estar em casa. Por fim ficou claro que ele ainda queria ficar, então fui no super mercado e comprei o que era necessário, como ele precisava comer de duas sem duas horas, arrumei lanchinhos em potinhos para ele não deixar de comer. No dia seguinte eu e marido estávamos faxinando a casa, ele sentado no sofá jogando e de duas em duas horas eu levava um pote na mão dele no sofá, pq ele esquecia de pegar na geladeira. Todas a s vezes que eu dava ele falava "não precisava" e eu respondia "então fica atento ao relógio, por que se você não comer vai passar mal e eu vou ter que voltar com vc pro hospital". Totalmente mãe, totalmente puto. Depois desse episodio tive uma conversa séria com ele, mas a verdadeira gota d'água foi numa viagem que fiz em que, ao abrir o grinder o perfil dele apareceu a um metro de distância. Basicamente ele usou o fake GPS pra saber se eu estava em aplicativo, ele já havia colocado frases do perfil no ginder do meu marido no storie dele do inta como indireta... Como se quisesse dizer "eu vi"... Mano... Eu ajudei meu marido a fazer o tinder dele! Meu marido ouvindo áudio meu nessa viagem ouviu barulho do grinder no fundo e não comentou nada pra não me constranger e esse moleque nessa onda errada. No dia seguinte comuniquei a marido o que faria, liguei pra ele de vídeo e perguntei por que ele fez aquilo.. Ele gaguejou pra lá, gaguejou pra cá.. Eu mandei ele tratar de cuidar da vida dele e sumir. Fim do primeiro ato.

Um pouco antes disso ele tinha feito uma prova do ENCEJA, para quem não conhece é como se fosse uma espécie de vestibular para pessoas que não fizera o ensino médio. Se você tira a partir de uma nota x consegue ter o seu diploma. Caso você perca em alguma das disciplinas tem como faze-la através do CEJA, uma espécie de supletivo e finalizar seu ensino médio. Wanda fez ENCEJA em 2019, porém foi pra casa almoçar e ficou na internet conversando, acabou chegando atrasado e não fez a parte da tarde zerando todas as disciplinas. Na ocasião eu estava muito ligado nessa prova por que estava trabalhando num programa de jovem aprendiz e acompanhava um grupo de jovens que estavam vivendo esse mesmo momento.

Em maio de 2020 ele começou a comentar coisas minhas e a gente voltou a se falar. Na época ele sempre que podia dizia que se abriu ao poliamor e entendeu como as coisas funcionavam. Me contou todo orgulhoso que conseguiu concluir o ensino médio no CEJA, mas até hoje eu não acredito nisso. Pra mim ele nunca concluiu, por que com a pandemia as unidades do CEJA tb chegaram a parar.  Para ele concluir todo o ensino médio até maio ele teria que ter feito isso em tempo muito recorde, no meio da pandemia, para mim é ele mais uma vez se vendendo como um pouco mais razoável do que é.

Em 2021 ele chegou a vir aqui em casa de novo, nos ajudou na mudança e eu cheguei a encontrar com ele na nossa cidade algumas vezes, mas com o tempo a inviabilidade de qualquer coisa foi ficando cada vez mais clara. A gente gosta dele, mas a verdade é que três anos depois tudo continua no mesmo lugar. Atualmente ele foi morar com uma irmã que se separou, está numa casa num bairro mais central, me contou que seria mais fácil para trabalhar, que já tinha algo na mão... Nada aconteceu. 

O cronos é uma dimensão da realidade muito cruel, por que ele não espera nada, ele vai pra frente, logo se vc fica parado, isso não é exatamente uma inércia, é um andar pra trás, por que o tempo não para. Em 2019 ele tinha 21 anos e estava  a 6 anos sem nenhum compromisso profissional ou de estudo. Em 2022 ele tem 24 e está parado a 9 anos. Se ele não se mexer em 2028 ele vai ter 30 anos e vai estar parado a 14. Entendem que não é a mesma coisa? Que piora a cada ano? 

Certa vez ele botou uma caixa de pergunta, alguém comentou alguma coisa de trabalho e ele respondeu de forma áspera, na ocasião questionei ele falou que tava dando um "chega pra lá" na irmã... Marido disse que de início sempre que sabia de curso gratuito ou vaga de emprego mandava pra ele, mas que foi percebendo aos poucos que estava incomodando de alguma forma.  De pouco a pouco as pessoas vão desistindo. Hoje ele botou um desenho no store que dizia que todo pequenininho tem o grandão dele e botou a legenda "menos eu".. E a bem da verdade é que enquanto ele não encarar a realidade de frente e criar uma ação ele não vai construir coisa alguma.

Em todos esses anos eu posso dizer que nunca considerei deixar meu marido pra ficar com ninguém. para ficar sozinho confesso que já pensei algumas vezes, mas a troca nunca foi um desejo. Poucas vezes me senti envolvido a ponto de querer ter algo real com outra pessoa, seja em paralelo ou junto com meu marido... E a única vez que isso foi colocado na mesa como uma possibilidade foi com um ficzeiro blogueirinho. Faz sentido? Aparentemente nenhum... Talvez tenha sido assim por que de fato ele é bom em criar narrativas e até manipular situações que sustentem sua inércia... Talvez tenha sido a brecha daquele momento... Talvez ele seja de fato um cara muito legal, mas com um problema que não dá pra passar por cima. Independente dos motivos eu entendo que mais importante do que sentimentos são escolhas e infelizmente a gente achou melhor não. O mais importante que ficou para o casal é nosso entendimento de que a gente realmente não busca um terceiro travesseiro, mas que essa não é uma impossibilidade a depender do candidato e das circunstancias.