O Menino de frente pra televisão

Hebe Morreu...

E com a morte de Hebe eu recebi um telefonema, sms e algumas msgs no FB.. E tipo.. Eu não sou da família da Hebe.. Sou um expectador, assim como as pessoas que me procuraram tb são... Ou será que sou mais???

Uma msg especificamente me chamou muito atenção.. É de uma amiga da época do segundo grau.. E ela nem disse nada demais, só falou que na hora que recebeu a notícia lembrou de mim (e ela n foi a única que disse isso). O fato é que essa amiga, especificamente, eu perdi o contato.... Não nos vimos mais, ela nunca foi em nenhum reencontro de nossa turma.. E 10 anos depois de nossa formação a primeira pessoa que ela lembrou ao ter a notícia da morte de Hebe fui eu.

E ai eu fique me perguntando: Desde qdo essa identidade minha enqto alguém absolutamente pop e televisiva, permeia a mente das pessoas?? Qdo foi que eu comecei a construir isso?? E o qto de fato eu mudei com o tempo???

Na verdade eu acho que mudei e vejo isso de forma muito clara, mas não posso negar que muita coisa ainda tah a . Lembro que qdo recebi meu diploma no segundo grau, minha professora ao entregar me disse: Não muda nunca, não deixa o mundo fazer vc perder essa irreverencia maravilhosa.... Qdo formei na faculdade a professora que me entregou o diploma me disse: Não muda, não perde essa alegria!!! Qdo comecei no emprego que to hj, algum tempo depois entrou uma fisio nova que veio me dizer: Nunca vi um psi que fosse tão simpático, dado, alegre...

Então alguma coisa continua igual e algo que naturalmente sou reforçado pela sua manutenção... Porém, no que tange ao meu humor, isso sempre ficou muito claro pra mim.. Eu acredito muito no humor, eu tenho muita fé no humor e acho que a gente só consegue ser feliz de verdade qdo consegue dar risada das próprias tragédias.. O riso traz leveza e qdo fica leve a gente aguenta.

Ok, o meu bom humor sempre esteve presente, mas essa identidade televisiva eu acho que mudou um pouco de cara com o tempo - e qdo falo acho, é pk acho mesmo . Não tenho certeza - Olhando pra trás eu podia ver três momentos claros.

1 - O menino que foi criado diante da TV e gostava de televisão.

2 - O estudante que por algum momento renega esse lugar ao ter contato com alguma erudição

3 - O cara que de fato resolveu abraçar essa identidade.

Eu acho interessante observar algumas bandeiras e perceber que algumas coisas não me convencem... Certa vez um blogueiro me disse que não interessava por nada que falasse ou pudesse vir a falar qq uma dessas musas bahianas. Fico muito espantado com alguém que é capaz de generalizar tanto, colocando todas no mesmo pacote e PIOR sendo tão PRÉ-CONCEITUOSO que de antemão já diz que o que vier a ser dito no futuro já não interessa.

Tal como esse blogueiro existem uma infinidade que pessoas acreditam estar pensando a cerca de algo qdo na verdade só aplaudem aquilo que foi  escolhido como "cultura" por determinidades instancias e naturalmente nunca verá nada de positivo naquilo que não foi.

Minha apropriação acerca da cultura pop passou muito por ai... É muito claro a importância da aceitação de minha identidade enqto negro, enqto gay, enqto brasileiro.. Isso é repetido por bastante gente... Difícil sou eu ter que entender que sou cria da sociedade da cultura de massa, do imperialismo, do capitalismo selvagem e me aceitar aqui.

Sou o gordinho comendo rufles e bebendo coca na frente do PC e desculpa, não acho que sou o retrato da derrota.. "aahh pk os eu padrão de vida gera doenças e blá blá blá"... E o seu??? Não gera???? Qual a fórmula??? Qual o sistema bem sucedido que o mundo conheceu onde não houve manipulação, corrupção,  doenças, problemas, alienação e etc e tal???

Eu demorei pra entender, mas compreendi que só vou conseguir fazer que as coisas de fato possam mudar qdo eu parar de olhar pro mundo em que vivo e vê-lo como O ERRO... Preciso enxergar sem preconceito a produção cultural das pessoas, a vida que elas levam, as batalhas que tem pra poder tentar tornar funcional.

A TV no Brasil se popularizou numa tentativa da ditadura militar em gerar unidade cultural. Falava-se em diversos movimentos separatistas e naquela época isso era muito plausível... Afinal, qual semelhança entre uma criança criada nos pampas gaúchos e outra no meio da amazônia??? Que vinculo cultural tinham??? E qual elas tem hj????

Hoje eu te respondo: Ambas foram criadas vendo Xuxa, ambas sabem quem é Silvio Santos, ambos sabem que ontem morreu a Hebe.. A televisão veio pra fazer parte da identidade das pessoas e eu sou uma experiencia bem sucedida nesse sentido.

Posso atrelar momentos da minha vida a grande momentos da Televisão Brasileira.. Parei vendo o caso Isabella Nardoni, quis saber quem matou Lineu Vasconcelos, quem era a mulher de branco, quem era o Cadeirudo, o segredo de Gerson,  qual era o assassino da próxima vítima, que fim teria a menina Eloah... Vibrei com a coça que Maria Clara DIniz deu em Laura, me emocionei vendo Lindalva saber que era filha de Maria do Carmo, com a volta de Hebe na primeira luta contra o câncer, fiquei tenso qdo os sequestrador invadiu a casa de Silvio Santos.. Torci por Elaine no No Limite, para Bárbara Paz na Casa dos Artistas, pra Monique Evans na Fazenda, pro Jean Willis no BBB, pra Wanesssa Jackson no Fama...

E é isso... Esse sou eu.. O lance é que eu achava que isso só passou a ser uma identidade no momento que compreendi algumas coisas, qdo na verdade é uma identidade de uma vida inteira.. E é por isso que na estreia do BBB meu telefone não pra, que qdo Hebe morre nego me da pêsame, qdo The Voice estreia meu FB começa a bombar.

Descobri, meio que sem querer, que eu sou o que sempre fui... Um menino  de frente pra televisão.. E com muito orgulho disso!!!