9.4.12

Deus por favor desapareça da televisão...




Se ele é Deus e eu sou louca, mas ng
desconfia pois disfarçamos muito bem
Somos imortais.. A morte não existe...”

Paula Toller


Eu lembro que quando eu recebi a notícia do cancer de Reynaldo Gianecchinni fiquei meio sem reação.. O primeiro lugar que li sobre foi no TPM de Macho (nesse post aqui) e tão simplesmente comentei que nem sabia.

Devo confessar algo à vocês que na época nem comentei, tamanha a minha vergonha.... Mas o fato é que tenho um pouco de dificuldade de sentir pena de um homem na posição de Reynaldo Gianechinni, mesmo diante de uma doença dessas. Pk é akilo, né... Branco, heterossexual (até a página 20), rico, lindo de morrer, carismático, me chega na TV péssimo, mas como um galã na novela das oito e tah ai até hoje.. Ou seja... Um cu virao pra lua.

É claro que é uma doença grave, com um tratamento violentíssimos e a possibilidade da morte nivela as pessoas de todas as castas da sociedade... Nada é mais democrático que a morte. Porém não posso negar que logicamente é difrente quando se tem recursos para se enfrentar um cancer. Ainda que doente, Gianne certamente foi um privilegiado na sua doença... Mas ok, assumo que é escrotíssimo da minha parte pensar dessa maneira, já trabalhei numa ONG com pacientes oncológicos e sei que olhar tão de perto pra dentro do abismo que é a morte, com ou sem grana, é das experiencias existenciais mais punks que o homem pode viver.

No texto do Fred ele já me trazia um viés que era um tapa... A conclusão era a cerca do carnaval feito pela mídia, mas o corpo texto se fala da reação de imprensa e público quando um Deus se desmonta diante de nossos olhos e se mostra finito e humano.

Pois bem.... Nessa semana li que Reynaldo Gianecchini foi entrevistado por Marília Gabriela no programa da GNT e que no final após ler as palavras enviadas por uma fã, ficou emocionado, disse amar a apresentadora que lhe deu um selinho. Adoro a Marília Gabriela, mas domingo a noite é sempre complicado e ver outra coisa fora do meu roteiro, pk tem tanta coisa que eu gosto passando ao mesmo tempo... Sempre assisto uns três programas de uma vez e Gabi exige atenção... Eu sempre adorei Marília Gabriela e ela em geral me prende com suas entrevistas, inclusive a maratona dominical sempre termina com seu programa no SBT. Então resolvi gravar o programa para ver o badalado beijo e devia ser mais de 00:00 quando comecei a ver.

Primeiro deixa eu dizer que a imprenssa marron é foda mesmo, não foi nada como foi passado na internet, a ideia era que emocionado eles se beijam meio que num clima de revivel entre o casal.... Nada disso, ele passou a entrevista toda chamando ela de baixinha e ela ficava falando a cerca de toda sua participação nesse processo dando a entender que fazem parte da intimidade um do outro. No final ele lê a poesia, ela da o selinho com a naturalidade de quem sempre o faz e enquanto ela vai se despedindo ele diz “te amo” e ela responde um “tb te amo” educado e corrido.

Pois bem... Marilia Gabriela é uma sereia e sempre me prende, gravei pra ver o beijo, mas comecei vendo a entrevista e fui indo... E a verdade é que de todas as decepções a do beijo foi a menor. Se a doença desfez um Reynaldo Deus diante do público a entrevista mostrou que ele veio com garra para gritar por seu papel de Semideus...

Eu volta e meia uso aqui no blog a expressão “como um editor da Marie Claire” para me referir a o direcionamento de algumas pessoas, programas de TV, comentários e mais uma serie de colocações que abusam do politicamente correto, do comedido, do equilibado, do sensato e etc... Posicionamento que parecem fazer parte de um manual classe média Leblon de como se levar a vida. A Entrevista de Reynaldo Gianecchini foi uma ilustração perfeita da metáfora.

Marília Gabriela colocava em pauta a presença de uma morte próxima, a fragilidade da doença, o sentimento de estar tão somente a mercê da medicina e o galã (pk ali havia um galã e não um homem) dizia que em todo esse processo, mesmo sendo jovem, estando debilitado, tendo que interromper sua vida e seu trabalho, ainda sim em momento algum chorou de tristeza, ele só se emocionava era com o carinho das pessoas.... Que levou muito de boa a quimioterapia mesmo sendo “meio chatinho”... Encarou com muita naturalidade e serenidade a ideia da morte, sem medo algum... Declara não ter tido nenhuma reação de revolta ou tristeza durante o processo.

Num dos momentos falou algo que merece transcrição... A fala foi quando Gabi questionou o fato dele ter declarado que não chorou em nenhum momento, quando ela mesma viu um episódio desses... E ai ele respondeu:

Eu chorei sim, mas nunca foi de tristeza eu sempore chorei toda vez que eu constatava essa manifestação de amor, quando eu via esse amor.. Era uma coisa tão tocante que mexia demais comigo (Marilia Gabriela o interrompe e volta a questionar dizendo que ficou com pena quando o viu chorar e achou que era de medo)... Não.. Não.. Abslutamente... Mesmo... Nunca foi e eu não queria ser um super-heroi, pk eu não sou... Ng é... Eu não queria me fazer de forte... Era abolsutamente expontaneo, eu te falo super-de-verdade, eu não tive momento de tristeza... Não tive... Cada dia pra mim era uma descoberta tão bonita, mesmo, que tudo ficou tão pequeno, o sofrimento era tão pequeno perto de tudo de bonito que eu tava vivendo de todos os lados, das descobertas minhas internas e do amor que era movimentado e isso me emocionava demais, até hoje me emociona.. Eu fico muito emocionado quando eu vejo todo esse amor ainda...”

No fim de tudo conclui com uma vermelha e vistosa cereja no bolo... Pretende escrever um livro sobre a sua superação e reverter o dinheiro para instituições de caridade. Faltou alguma coisa???? Não, né??? E claro que ele não é e nem que ser um heroi... Tudo isso muito expontaneo.

Lembro que na época que trabalhava na ONG li um livro chamado “O cancer como ponto de mutação” e esse também foi o título do projeto que participavamos lá... A ideia era tentar a todo custo, com muito trabalho, refexão e introspecção fazer com que as pessoas chegassem no ponto que Reynaldo Gianecchini chegou com sacrificio zero.. Aliás acho que ele é o homem do sacrifício zero.Claro que existem pessoas que encaram de forma mais natural do que outras, mas também não é dessa amneira.

Na entrevista ele também fala que tinha perdido o pai há pouco tempo, o que pioraria esse processo, mas não para ele. Apesar de ter uma relação distante com o pai, nos últimos momentos falou tudo que precisava, de despediu de forma emocionada, abraçou o pai na maca e enquanto estava abraçado e dizendo que ele podia ir em paz agora, viu as taxas caindo no aparelho e começou a cantar no seu ouvido... Após essa experiencia mágica de novela das oito ele ressiginificou toda relação com o pai e é como se não tivesse mais ausencia e ele agora o sente a todo momento..

Ah vá toma no cu Reynanldo Gianechinni... Escrever livro pra ajudar a quem???? A você mesmo a manter sua perfeição??? Ao seu ego??? Pk a sensassão que eu tenho é que essa auto ajuda forçada, aqui em baixo, no reino dos mortais, não ajuda a ninguém.... Nego vai é se sentir péssimo diante de sua humanidade, de seus medos, suas pequenesas e ver que alguém vive isso com tanta naturalidade....

A entrevista me fez lembra u m pouco o blog do “alguém por ai” e das diversas vezes em que ele declarou não querer ler os manuais da vida feliz com HIV... “Alguém por ai” sim pode ajudar alguém, pk quem está diante do mesmo problema se identifica com o sofrimento e vê que mesmo quem sente igual a ele pode chegar a redenção... Que esse homem sofre, mas de pouco a pouco começa a seguir sua vida normal.

Lá pro fim da entrevista ele diz que está fazendo análise e ai eu pensei “finalmente reconhece uma fragilidade”, mas logo avisa que não foi pea doença e nem por nada disso, chegou na terapia dizendo que não estava ali por estar fragilizado pela doença, mas por que resolveu entrar numa aventura pra se conhecer... Gabi pergunta se tem sido dolorido (quem já fez análise sabe que é, por que toca-se numas coisas bem punk).. E ele diz que não, que lida bem com seus fantasmas e quem já enfrentou a morte que fantasma poderia assustar???

Existem fantasmas em vida pior do que a morte Reynaldo Gianecchini.. A expectativa de ser pefeito diante de um mundo de imperfeições talvez seja um deles... Fantasmas que pessoas como você todo os dias ajudam a criar com um leve tom de caridade.

Teria ganhado mais se tivesse visto a entrevista de Greatchen e Tammy no de frente com Gabi do SBT, que passou mais ou menos no mesmo horário... Vejo mais verdade nos 16 casamentos de Greatchen do que na luta contra o cancer de Gianechinni... Depois vcs não entendem por que eu gosto do trash, talvez por uma questão de proximidade, vejo mais verdade na Rede TV do que na GNT. 

8 comentários:

  1. tem pessoa que nasce com tudo tão perfeito que até o câncer ela tira de letra como se fosse uma gripe... tive uma aluna de 25 anos com o mesmíssimo câncer dele, teve os melhores tratamentos do mundo, era uma pessoa maravilhosa, e mesmo assim morreu. Vai entender...

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  2. Eu gostei da entrevista e de como ele encarou tudo isso, mesmo que seja mentira eu acho bacana ele passar essa mensagem de força. Amo o poema que ele leu no final da entrevista, já conhecia. A entrevista da Tammy e da Gretchen tb foi ótima, eu vi!!

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  3. eu vi a entrevista e pensei a mesma coisa!

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  4. Eu acho que a pessoa não precisa ficar expondo fraqueza, sabe? A gente sabe que não é nada confortável ficar deixando as feridas abertas por aí. O problema é que também é demasiado incômodo quando a pessoa paga de fodona. E facilmente perceptível.

    Encontrar a medida é complicado a beça.

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  5. Bom... eu não assisti a entrevista... mas se vc diz, eu creio. E o GNT tá ultra SBT mesmo!
    Grato pela citação!
    Abraços!

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  6. A única vantagem é que esqueceram daqueles boatos de que ele é gay. Ao menos nisso ele deve estar aliviado. Acho interessante como algumas pessoas só lembram das instituições de caridade quando estão doentes. Se for pra doar pro Didi Esperança, nem caridade será...

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  7. Nossa, achei fantástico tudo o que vc falou, nao assisti a entrevista e qndo vc começou a falar tive muita vontade, mas depois de ler um pouquinho mais fiquei com raiva também e com a certeza de perda de tempo.

    Um cara que nao consegue nem assumir sua sexualidade de forma natural consegue mesmo levar tao bem tudo? Ou um cara destes é muito drogado e nao sente nada, nao tem mais nem forças para pensar ou é simplesmente um idiota num mundo de vidro que nao pensa.

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  8. Bom, ninguém está obrigando o cara a expor suas fraquezas. Mas se ele aceita o convite pra dar uma entrevista sobre o tema, se ele se propõe a ajudar as pessoas, acredito que o mínimo que ele tem que fazer é se colocar humano e não como deus. Porque exemplos da ficção já temos o suficiente, não?

    Beijos!

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