O Umbigo de Lya Luft

Pois bem... Daí que nesse final de semana eu fiz um concurso, né?? E daí que na prova de português havia um texto da Lia Luft chamado Compostura e Caldo de Galinha falando sobre o BBB (confere aqui).

No texto a fabulosa Lia compreende os reality shows como um fenômeno natural numa sociedade em que tudo de alguma forma pode virar show business, inclusive a vida comum.

Você realmente acreditou que a Lya Luft naturalizou os reality shows??? Não, né???? Claro que ela não fez isso.

Classe média alta, filha de um juiz, branca, sulista, com 73 anos, criada numa colônia alemã... Não.. Lia Luft não naturalizou o fenômeno reality show... Não faria isso e nem ng que não tem os mesmos adjetivos que ela, mas tenta a todo custo deixar claro que ocupa o mesmo lugar social.

No inicio do texto ela começa falando a cerca de como acompanhou a “celeuma em torno de alguma cena tórrida numa das camas do big brother”. O episodio é ponto de partida pra um texto que fala em defesa do bom gosto e contra toda sorte de vulgaridade.

Acredito que a maioria das pessoas que leram o texto aplaudiram e acharam o máximo, o que é muito obvio Tb, quem iria vaiar uma heroína pronta a disparar as melhores palavras da língua portuguesa em nome do bom gosto e contra a vulgaridade??? Ninguém... Ou quase ninguém...

O problema é que eu sou um chato mesmo e ai fico me perguntando algumas coisas, né??? Tipo.. Qual a medida do bom senso??? Em um dado momento do texto ela diz “precisamos já grandinhas usar saia tão curta que a maioria fica tentando puxar um centímetro mais para baixo, num desconforto idiota?” O questionamento me remeteu a esta imagem da capa de um filme que gosto muito.

Desconforto pra quem cara pálida??? Talvez seja mais desconfortável pra ela que está vendo do que pra quem está usando. Bial fez uma brilhantemente comparação , numa dessas saídas desta edição, falando a cerca da primeira exibição de cinema ao público que se tem registro, quando o público saiu correndo ao ver a imagem de um trem chegando na estação e as diversas reações indignadas de tantas pessoas ao verem gente na televisão.. Gente com seus nuances, suas fraquezas,forças, méritos, misérias, medos... Gente!!!

Desde que mundo é mundo as mulheres passam por desconfortos idiotas em prol da beleza e ai eu me pergunto o por que do desconforto dos corpetes seriam mais legítimos do que os das micro saias???  Ou ainda o desconforto de um terno em dia de calor, de um sapato apertado usado na última hora pra uma festa, da depilação, das horas nos cabeleireiros...  E por ai vai.. Poderia fazer um blog só falando a cerca de desconfortos em prol da beleza para além das saias e decotes.

Quem mede a linha da compostura??? Onde ta o umbigo do mundo?? Na barriga da Lya Luft?? É complicado querer universalizar determinadas coisas, falar em gosto e compostura não é falar de um conjunto de informações concretas e sim de uma realidade que vai variar com a historia de cada um, as possibilidades de acessos, os padrões e etc. A coisa não é tão simples quanto podem tentar fazer parecer e o caminho que ela opta me parece perigoso por demais, afinal de contas um déspota não precisa estar fardado, pode ter apenas uma caneta na mão,

No final do texto ela conclui dizendo: “Minha esperança é que, apesar de tudo, se afirme e se espalhe a velha mania do bom gosto e da compostura que, como caldo de galinha nunca fez mal a ninguém”

A verdade que em nome da compostura já se fez (e se faz) muito mal sim... Já se coibiu, toliu, frustrou, afastou, bateu, apedrejou, espancou, matou .. E a minha esperança é que se espante a velha mania de se estigmatizar pessoas que não optam pelo caminho tido como razoável para um grupo de bem afortunados a ponto de tratar um estupro em rede nacional como uma tola celeuma que só serve como gancho para falar-se sobre compostura, que assim como caldo de galinha ( e tudo na vida) podem fazer mal a alguém.