Morre hoje, aos 73 anos João Ubaldo Ribeiro. O escritor, que era o 7º ocupante da Acadêmia Brasileira de Letras deixa um legado enorme em obras contribuindo de forma significativamente para construção da identidade nacional. Porém não quero falar sobre a grandiosidade de João Ubaldo, quero falar sobre a intimidade, a minha e a dele, a nossa cumplicidade.
Em 1999 João foi convidado pela editora Objetiva para escrever para a coleção Plenos Pecados, na ocasião sete imortais foram chamados para cada um escrever um livro tendo por tema um pecado capital, para o João Ubaldo ficou o pecado da luxúria pelo qual ele escreveu "A Casa dos Budas Ditosos", que eu chamo carinhosamente de "minha bíblia", "meu manual" e outros nomes nesse sentido.
O livro é narrado por uma mulher de 68 anos, nascida na Bahia, falando de sua própria vida, e de como jamais se furtou a viver - com todo o prazer e sem respingos de culpa - as infinitas possibilidades do sexo. Através desta força descomunal que é o sexo João Ubaldo vai na base da sociedade, nos tabus mais enraizados, no centro de tudo e toca sem dó. Incesto, drogas, fetiches diversos, tudo que traz junto consigo uma série de culpas e paranoias junto a ereções é colocado sem culpa nenhuma...
Não me lembro da data exatamente que entrei em contato com ele... Algo em torno de 2001 ou 2002... Era um período estranho onde Britney Spears se fortalecia internacionalmente e os reality shows começavam a ser uma febre no Brasil.... O gato daquela época era totalmente diferente do gato de hoje, recém entrado na faculdade, ainda não havia se assumido gay nem para os amigos gays, tinha um discurso meio moralista, era chamado por uma amiga de falso libertário... O mundo era outro e eu era outro, mas havia uma chama do que sou agora, uma leve chama que ganhou gasolina através de João Ubaldo Ribeiro.
Se engana quem pensa que estou falando de um livro de sacanagem aqui, tem sacanagem, mas a coisa vai muito além, aliás acho que a sacanagem realmente é apenas instrumento pra um discussão politico/social muito maior. Aprendi muita coisa naquelas cento e vinte e poucas páginas (tão pouquinho, queria tanto mais), aprendi de forma concreta, por exemplo, que é na vida comum que toda trama filosófica se aplica... Na rotina, no que fazemos quando não estamos falando sobre Lacan ou Baudelaire. Foi dentro desse livro de Luxuria que encontrei a definição de Deus que melhor compreendi, que melhor alcancei, através da escrita do pecado da Luxuria vi Deus, e só João Ubaldo poderia fazer isso, só ele e mais ninguém.
Sempre recomendo o livro, já emprestei até pra minha mãe... Parentes, amigos, todos.. Aquele livro é um alerta, o ministério da educação deveria problematizar ele no ensino fundamental, o da saúde inclui-lo em algum programa de saúde pública.. Sexo é saúde pública, felicidade é saúde pública, se livrar de culpas criadas por coisas naturais, por viver sob regras que ninguém sabe quem criou e que no fundo ninguém segue é saúde pública... Tá lá, transparente como água, tá claro pra quem qusier deixar de ser babaca ver.
João Ubaldo conseguiu o que queria comigo.. Em 2004 Fernanda Torres fez uma montagem da peça... Eu fui assistir, Fernanda é maravilhosa, estava incrível no palco, mas a verdade é que ela não entendeu a proposta.. Eu entendi a proposta.
No seu apartamento no Leblon João Ubaldo morreu da doença que não me levou, embolia pulmonar! Até nisso fomos cúmplices, até o último minuto... Gostaria de ir ao cortejo dele e iria se tivesse no Rio de Janeiro (ou a Bahia, não sei onde será enterrado), acompanharia de longe, a espreita, não apareceria próximo ao caixão, somos amantes, não poderia me dar a esse luxo... E de longe, quando a última pá de terra fosse colocada sobre o corpo diria "Adeus, Querido.. Obrigado por tudo"... E teria a certeza de que de alguma forma ele estaria sorrindo, como sempre esteve, pra mim.
tenho certeza que somente por ter te feito tão bem a vida dele já valeu a pena. Afinal, se nós conseguirmos mudar a vida de uma pessoa que seja, já é algo positivo não é?
ResponderExcluirÉ.. Mudand pra melhor.. Acho que sim!!!
ExcluirNossa fiquei sabendo da notícia,aqui por vc.... Sinceramente nunca li nada dele, mas tenho vontade de ler exatamente o livro que vc tanto indica.
ResponderExcluirMas o mais lindo de quando morre um artista como ele é a gente saber que ele realmente será imortal, que sua obra passará de geração em geração!
Sim, a expressão imortal é ideal mesmo!!!
ExcluirE o Paulo Coelho aí... vivinho da silva... tsc, tsc, tsc...
ResponderExcluirUm perda terrível mesmo... o cara escrevia muito. Muito e bem. RIP!!!
Ficou "mara" teu post'menagem, Gatón! ;)
Ai credo, deixa o Paulo, gente...
Excluirhauahuaahauhaua
Gatónnnnn... agora foi o Ruben Alves!!! A bruxa tá solta!!!
ExcluirNossa... essa semana foi complicada, primeiro ele, no fim Rubem Alves... muitas perdas!
ResponderExcluirGrande abraço.
Puuuutz.. Não sabia do Rubem Alves.. Que bosta!!!
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