Ontem fui surpreendido pq um cara que fazia show de Drag na minha cidade natal foi brutalmente assassinado. Depois vim a saber que a situação envolvia menores de idade e prostituição. Aqui na minha cidade foi o amigo de uma amiga que há uns meses atrás tomou 13 facadas de um garoto de 15 anos numa história que envolvia grana, cocaína e sexo.
Aliás essa tríade já levou e permanece levando muita gente bacana pro buraco, lembro quando eu tinha 13 anos e meu pai me perguntou se eu era gay, ao negar ele me dizia que não gostaria disso, da mesma maneira que não gostaria de ter um filho mulherengo cheio de gente fazendo escândalo na porta por uma vida sexual desregrada, mas que não jogaria nenhum dos dois fora. Daí me fez entender que a preocupação dele com o filho gay era que todo homossexual terminava um dia enforcado com um fio de ventilador por algum pseudohetero que topou receber uma mamada por dez contos. Eu discordo da premissa, mas a bem da verdade é que meu pai não chegou nessa opinião do nada, esse é o último capítulo de muitas histórias. A medida que fui crescendo fui percebendo que PARTE do gueto tinha sua pegada underground, há nele um "q" de submundo e sendo assim, não é incomum, por exemplo, no lugar em que se tem muito cheirador vc encontrar muito gay, sempre disposto a uma aventura furtiva em prol de uma cerveja ou uma carreirinha.
Nos colocamos em risco, longe de mim querer culpabilizar a vítima, mas é o preço que pagamos em romper essa merda toda vivendo livremente nossas sexualidades onde na verdade não há toda essa liberdade.
Lendo o FB de um amigo da vítima vi um depoimento emocionado por entender que os culpados não teriam uma justa punição, falou a favor da menor idade penal, prisão perpetua e outras coisas medonhas. Daí veio com aquele velho argumento de sempre de que já distinguem o bem do mal, são capazes de fazer o mal e nesse momento se tornam vítimas do sistema. Ora senhores, sejamos razoáveis, com 16 anos eu estudava numa escola salesiana, via a vaca e o frango no cartoon network e ainda brincava de carrinho, acho que seria ingratidão com a vida, da minha parte, não entender minimamente que esses meninos que aos 16 anos iam pra casa de um adulto fuder por 150 reais, não tiveram muito das oportunidades que tive..
Por toda conta nas costas dos dois meninos é peso demais pra um problema muito anterior aos 16 anos de vida deles, se o fenômeno se repete por diversas vezes e em diversos lugares é preciso se pensar sistemicamente nas causas e é nesse momento que a gente se esbarra na maldita homofobia. Não que os meninos tivessem uma relação de ódio com a figura homossexual (não sei), nem acho que a questão sejam eles... A questão somos nós mesmos... Nós que não rompemos com o formato heteronormativo, nós que espalhamos "não curto e nem sou afeminado nos sites de relacionamento", nós que nos incomodamos com os trejeitos dos colegas e tentamos suprimir os nossos... Nós que não conseguimos criar crítica a essa adulação a figura do pseudo hetero, que damos status de virilidade ao cara que tem 30 anos que morre de medo que mamãe descubra que ele é gay, que sentimos muito tesão pelo pai de família que engana mulher e filhos, que não enxergamos o quão viril é o nosso enfrentamento quando nos assumimos.
Os meninos de 16 anos são apenas personagens de um script pronto, pagamos um preço alto quando fizemos deste que está na sombra a pedra mais alta do jogo, o ideal de desejo.... Nós demos e damos diariamente ao estereotipo deles esse status. Em algumas vezes na vida tive oportunidade de conversar com segurança de boae gay, ou alguma organizadora hetero de festa gay, ou ainda de taxista de porta de boate gay e ambos diziam ser um ótimo público pra se trabalhar, que raramente tem problemas com brigas, armas ou qualquer coisa do gênero e então pq esse script se repete??? Esse script se repete pq existe um discurso inflado que vc ajuda a encher ainda mais todos os dias que bom mesmo é aquele que tem uma relação hipócrita, oportunista e por vezes doente com a própria sexualidade.... Caminho esse que vc foi homem suficiente pra romper, mas não conseguiu ser inteligente o suficiente pra criticar.