Monstros é ao nome da série da netflix que tem a intensão de contar a história de grandes criminosos que mobilizaram a mídia americana com seus crimes bizarros. Ano passado eles estrearam com "Dahmer: Um Canibal Americano". A temporada contava a história do serial killer Jeffrey Dahmer que matou e comeu parte de várias de suas vítimas durante anos. A série foi um sucesso de crítica e público e eu nem sei ao certo se havia intenção de fazer daquilo uma franquia ou se resolveram fazer a partir desse sucesso. Todos nós sabemos que isso é sempre um risco e que quando uma obra é um mega sucesso a sua continuação vem cheia de expectativas que raramente conseguem ser alcançadas (tá aí Coringa que não me deixa mentir), todavia com os Irmãos Menendez eles conseguiram.
Dividida em nove episódios a série conta a história de Erik e Lyle Menendez dois garotos de 18 e 21 anos que assassinaram seus pais. A série começa a partir do crime, mas toda trama em torno do julgamento e desdobramentos do caso vai contando tanto sobre acontecimentos anteriores e posteriores como também mostra outras versões, mas é importante destacar que toda construção do roteiro é feito pela ótica da defesa, as outras óticas que aparecem são apresentadas sempre por antagonistas. Tanto que no fim qualquer um que assista está solidário aos assassinos, isso é tão claro que, apesar do Erik ter feito uma carta púbica mostrando seu descontentamento com a narrativa, a forma que a opinião pública se colocou a favor deles hoje é um dos pontos que a família está considerando favorável pra tentar tira-los da cadeia na atual apelação.
Eu confesso que assisti os primeiros episódios achando meio "meh", basicamente por que achei que a franquia monstros contaria a história de assassinos em série, logo ter ocorrido um único assassinato no primeiro episódio me dava um sentimento de que tudo estava meio morno, mas se o foco em Dhamer era a quantidade de crimes absurdos e bizarros que ele cometia e não era pego, aqui o foco tá no julgamento dos irmãos e a forma que aa opinião pública foi se fazendo e se refazendo a medida que o tempo passava e novos eventos apareciam. A virada, pra mim, foi quando no terceiro episódio surge a advogada Leslie Abramson, figura polêmica que vai conduzir muito da forma que a história vai ser contada. Dali pra frente eu comecei a entender que a franquia era sobre true crime, mas não necessariamente assassinos em série.
As atuações são excelentes, desde o veterano Javier Barden até outras figuras não tão conhecidas do grande público, mas todas entregaram muito e o roteiro realmente tá um primor. Não é fácil contar uma história policial cheia de versões, não é a toa que a tentativa brasileira de contar a história de Suzane Von Richthofen se converteu em dois filmes narrando os fatos nas versões dela e dos irmãos Cravinhos. Isso é ainda mais complicado quando as partes envolvidas nas história estão vivas e ter suas história reviradas muitas vezes causa desconfortos e desdobramentos, mas Ryan Murphy foi cirúrgico e muito eficiente.
Se há algum dúvida sobre a grandiosidade da série ela cai por terra no quinto episódio. Ele acontece em uma única cena de 36 minutos, onde Erik conta em detalhes para a advogada os abusos que sofria por parte dos pais. A cena começa com ela de costa e ele sentado de frente pra ela, permanece assim até o final, mudando apenas o foco da câmera que lentamente vai fechando a medida que ele vai contando de forma emocionante violência terríveis em plano sequência. Uma cena forte, impactante e que contava apenas com um bom jogo de câmera, um roteiro bem escrito e uma atuação grandiosa. É daquele tipo de cena que merece ser estudada em cursos de cinema e afins.
Ouvi uma crítica dizendo que Dhamer era uma história mais pesada e eu até concordo, mas honestamente acho que em termo de obra Menendez é bem mais, basicamente por que acho que de alguma forma a pegada gore do Dhamer é algo que a gente enquanto público já viu várias vezes, poderia fazer uma lista grande de filmes com cenas tão violentas quantas, mas pouquíssimas obras da dramaturgia que conta de uma forma tão honesta e sensível um relato de violência como esse. Uma ousadia uma cena dessa sem corte, uma coragem de quem sabia o roteiro e os artistas que tinha na mão, eu fiquei congelado, sem conseguir pegar o celular pra olhar a hora, durante toda a cena. Quando o episódio acabou tomei um suto, por que não acreditei que fiquei fixado ali o tempo inteiro, num mundo em que quase nada prende tanto a atenção do expectador por tanto tempo.
Irmão Menendez reforça minha tese de que os maiores ativos de uma obra audiovisual é roteiro e atuação o resto é penduricario pra melhorar a forma que isso é contado, é claro que você pode matar uma cena dependendo de como ela é contada, mas tentar pegar uma obra oca e segurar ela só com efeitos especiais e explosões você nunca vai fazer nada com consistência. Irmão Menendez tem direção de arte, tem roteiro, tem atuação, tem absolutamente tudo e não vai me espantar se vermos ela concorrendo em diversos circuitos de premiação.
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