21.12.09

Então tá... Vamos falar sobre música....




Fiquei bem animado qdo vi a idéia do Jay do meme sobre música, não me recordo de ter falado do assunto antes e acho que o tema diz muito sobre mim.

A minha pasta de música costuma gerar muitas risadas e espanto pela diversidade. Lá vc pode encontrar de Chico Buarque a Kelly Key e confesso ter alguma dificuldade para definir afinal, um gênero favorito. Acho que minha historia com a diversidade começou num certo incomodo com o dito “Cult”... Não que eu ache o Cult ruim, mas acho ruim o que fazem com ele, dele e em nome dele. Num dado momento uma elite intelectual opta por um determinado estilo, baseado nos seus acessos, educação e cultura, em nome disso rechaça tudo que não faz parte desse lugar.

Acho um pouco complicado a crítica muito severa a cantores populares, não que eles não tenham pontos negativos, todos temos, mas pk acredito que ela secreta uma serie de estereotipo e preconceitos, não se trata apenas de uma preocupação com os rumos da arte ou qualquer coisa do gênero.


Como poderíamos esperar que a menina do morro que estudou até a 7ª serie, nas piores condições, passando fome, frio e o diabo, se identifique com a complexidade de Caetano Veloso???? A compreensão da lógica na frase: “Todo mundo quer saber com quem vc se deita, nada pode prosperar”, pode parecer turva e distante... Muito mais acessível é: “Eu dou pra quem eu quiser que a porra da buceta é minha”, na voz de Deize Tigrona. O sentido é bem parecido o que muda é a acessibilidade.


Paulo Freire muito bem disse quando postulou que “A ideologia do dominante permeia a consciência do dominado”... A todo o momento o sistema tenta esvaziar o individuo de si mesmo e provar que um padrão externo a sua vida é melhor, de mais bom gosto e mais interessante. No fundo se trata de um grande jogo de conveniências e interesses... Hoje, por exemplo, o samba de raiz é possível no universo “Cult”, mas muito possivelmente quem aplaude agora apedrejaria qdo ele surgiu e era marginalizado. O gosto das pessoas acaba sendo condicionado as suas necessidades de provarem para outras (e pra si mesmas) que pertencem a uma determinada casta.


Não ficarei espantado se a micareteira Ivete Sangalo, amanha se tornar o Roberto Carlos de hoje. O “Rei” não era mais que um cantor pop, que vendia bem pra televisão e entretinha a população com seu iê iê iê enqto a ditadura comia e a galera da tropicália tentava fazer a diferença.


Se for pra criticarmos então que façamos criticas a coisa certa. Nada mais obvio do que falar que o funk fala apenas de sexo e drogas, seus artistas falam do que vêem e é bom ressaltar que a maioria deles mesmo com o sucesso não saem dos lugares de onde vieram. Se tivermos de criticar algo, que critiquemos a educação. Se o radio toca mais funk do que MPB é pk funk da mais audiência, e se ele consegue isso mesmo sem ter a erudição que quem o critica considera necessária é por que fala para uma massa que não teve os mesmos acessos do que uma minoria. Enqto for assim acharei importante sim, que Tati Quebra Barraco, negra, gorda do morro tenha espaço na mídia, por que a menina da favela precisa acreditar que ela pode ser bem sucedida a sua maneira, que pode ter espaço tb, que a sua vida é contada em algum lugar... Se a única opção fosse a pele branca, olhos verdes e voz branda de Adriana Calcanhoto teríamos como resultado a sensação de que a felicidade está num lugar que não te pertence.


Todos os gêneros falam de algum lugar e é importante que tenham seu espaço. Não nos enganemos pensando se tratar apenas de uma questão de gosto e que isso é algo intrapsiquico, livre de influências externas... Seria muita inocência achar que se trata apenas de uma trama interna desconectada de toda relação de poder e dominação que vivemos inseridos.

11 comentários:

  1. Bela crítica...olha, digna de 10 na redação do Eném meu amigo! (se é que Enem é motivo de elogios nos dias de hj)
    hehehe


    ahh sim vc tem um gosto muito estranho pras músicas...hauhauahuahauah

    bjuxxx

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  2. Kelly key... ai meu pai! ahauahauahauahau

    "Eu quero ser que nem a Valeska, da gaiola das popozudas!"

    Quantas vezes eu não escutei isso das minhas alunas nas salas de escola pública?

    Apesar de ter picuinha com alguns estilos musicais, admito que todos tenham seus méritos e suas razões de existir. Uma informação faz mais sentido para alguém, quando a mesma tem alguma relação com a realidade que ela vive. De nada adianta dizer que a melhor forma de pescar no mar é com rede de arrasto, se as pessoas moram em uma cidade ribeirinha de interior! Com a música, não é muito diferente.

    Se algum estilo nasce e se propaga, é porque aquilo faz sentido para alguém...

    Beijos!

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  3. Querido Yag:

    Belíssima crítica musical. Realmente cada um se manifesta da forma como apreende a música.Cada um no seu quadrado.Minha única observação é o seguinte: Por quê os jovens de hoje não valorizam a qualidade da música como antigamente? Ouço tanta bobagem, tanto lixo e exaltam tanta coisa inclassificável e deixam de valorizar artistas que de fato mereciam..num sei...super complexa esta discussão. Bjão e te espero no luadosgatos.

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  4. ai, adoro Kelly Key... a fase cachorrinho dela e tudo!

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  5. Amigo, excelente tema, ótimo texto. Vou falar um pouco do funk. Costumo dizer que o mesmo muitas vezes expressa os acessos de determinado grupo, e em sí muitas vezes é uma crítica a educação. Desde do momento em que o português é utilizado de uma forma muito informal, ao conteúdo de sua letra. Entretanto não podemos considerar que o funk tem apenas esses atributos. Percebo que exste o funk crítico, que denuncia a violência nas favelas, funk que aborda o sexo, funk que aborda o amor e o outro faz apologia ao tráfico. Não importa onde se encaixa, todos apresentam em si o que nós estamos fazendo com as nossas camadas populares. E respondendo um pouco a indagação de Edilson segue o link do clip da música "Nomes de Favela", de Moyses Marques. http://www.youtube.com/watch?v=VVTOQfgCGiA Entende a diferença de ontem e hoje?

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  6. Nomes de Favela com Leci Brandão no Samba Social Clube volume 3.

    http://www.youtube.com/watch?v=wFP4lPoeqcw

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  7. ops ... que análise sociológica inteligente sobre o tema eim? parabéns ...
    mas querido, faço minhas as palavras do Athila:

    "ahh sim vc tem um gosto muito estranho pras músicas...hauhauahuahauah"

    bjux

    ;-)

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  8. Música é música
    O gosto é de cada um
    E viva as diferenças
    !!!

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  9. Wellllllllllll...
    Música é música. Se te agrada e faz vibrar é o que conta. Gosto não se discute e cada um toca o que gosta... só não me convide para a Kelllllly Queyyyyyy... hehehe!
    Cara, feliz natal pra vc e tudo de bom! Valeu pela visita e pela atenção! Abraço!

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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