24.3.10

Falando por uma classe.



*recomendo que antes de começar a ler coloquem o vídeo pra carregar, ele é curtinho quando chegar ao parágrafo possivelmente já vai estar no ponto e vai ser importante que veja pra prosseguir o texto.

Hoje eu assisti uma coisa que me instigou a falar de um assunto da maior importância: A responsabilidade que é ser representante de uma classe.

A nossa condição humana nos torna, felizmente, plurais... Participamos de grupos e instituições diversas antes mesmo de tomarmos consciência disso. Cor, idade, nacionalidade, gostos, orientação sexual, posicionamento político, religião, aspectos físicos, psicológicos, doenças e tudo que nos referencia acaba nos colocando em alguma classe e por esse motivo pertencemos a diversas delas concomitantemente.

Enquanto membro de uma classe, naturalmente me torno apto a falar dela, mas precisamos ter muito cuidado quando nos colocamos no lugar de representante e passamos a falar em público respondendo por varias pessoas.

O BBB é um ótimo exemplo disso, acho que foi a mulher asterisco que certa vez pontuou muito bem ao dizer que em momento algum perde de vista se tratar de um programa de entretenimento. BBB de educativo não tem nada, por tanto não exijamos dele mais do que de fato ele pode nos dar. A divisão de grupos dessa edição, na minha leitura não teve nenhuma função além da dinâmica do próprio programa. Muito se falou sobre a segregação e a idéia estanque de que o ser humano é uma coisa só. Em minha opinião isso é bobagem... O Sarados eram sarados e belos, como os belos tb eram sarados, os cabeças de cabeça não tinham nada e por ai vai... Os coloridos, por motivos lógicos, tomaram essa proporção visceral representativa. Não vejo nenhum sarado ofendido com a imagem que o dourado passa de grosseiro, brigão e truculento.

O Serginho, por exemplo, ocupou esse lugar de gay, mas também não deixa de ser um representante dos paulistanos, dos jovens, dos brasileiros, da classe media e etc. Alguns amigos já me disseram se incomodar com sua figura e que ele não os representa, mas acho que os mesmos que falaram isso de repente poderiam dizer que se incomodam com a postura do Willian que enqto negro tb não os representa, ou quem sabe do Eliéser que enquanto homem não os representa e etc.

O que me incomoda nos coloridos é que eles não só foram colocados nesse lugar como abraçaram completamente ele. Acredito que se tivesse em seus lugares tentaria deixar claro que sou representante de mim mesmo e do quão perigoso é falar em nome de uma classe. E por que não torço pro Dicesar??? Por que pra mim, pior que o Dourado é ele que uma vez se propondo ser representante de uma classe se acovarda na hora do embate. Quando Dourado disse que ele era viado, mas que fosse homem e depois veio com aquela conversa fiada de que falou daquela forma por que ele e o Serginho se tratam assim, logo ele não via mal, Dicesar se calou, disse não ter ouvido, ignorou e focou a discurssão no jogo.


Tenho pavor a essa coisa de se calar pra evitar discussão, não tinha o que ser evitado já estava feito. Dicesar diz que vai fazer e acontecer, mas nunca faz, o máximo que faz é ficar falando pelas costas de um e outro enquanto Dourado com sua falsa sinceridade vai ganhando espaço. Identifico-me com Dicesar por termos a mesma orientação sexual, mas não acho ele um ícone positivo, não por ser afeminando, mas por que pra ocupar esse lugar QUE ELE SE PROPOS é preciso ter culhão e agüentar o embate.

No barraco de ontem, finalmente resolveu dizer o que tantas vezes deveria ter dito, mas um tanto quanto fora de hora. Do nada ele me vem com "sou gay com muito orgulho" quando o assunto não foi nem tocado, dando margem para o questionamento de ser aquele gesto um apelo ou um desabafo. Se denfendeu uma causa ou se escondeu atrás dela.

A situação do BBB segue uma tendência muito comum nas discussões televisivas sobre homossexualidade, que é o despreparo dos autores. Luciana Gimenez faz um desfavor para comunidade gay quando coloca pastores da Igreja universal para discutir a PLC 122 com travestis que se prostituem na Lapa. Não que elas não possam falar a cerca do preconceito que sofrem, mas por que em geral estão despreparadas para discutir a lei.

Hoje no programa do Ratinho foram convidados Silas Malafaia e uma transexual para discutir a PLC. Segundo Ratinho, o Silas foi ao programa numa outra ocasião, discutido com a autora da Lei e que as pessoas pediram uma segunda discussão por terem achado que ele foi mais enfático que ela. Ratinho quando o convidou para ter a mesma discussão com uma outra pessoa ele respondeu: Debato até com o Diabo. Silas é articulado, conhece o assunto, leu a lei de cabo a rabo um zilhão de vezes. Quando Ratinho anunciou a transexual, pelas coisas que disse antes, imagineis e tratar de alguém ligada ao movimento, ao grupo arco-iris, alguma ONG, qualquer coisa além da simples vivencia da homossexualidade. Engano meu, completamente despreparada, a transsex foi engolida pelo Silas e falou um festival de bobagens.

Segue ai em baixo um trecho onde ela responde a pergunta de um deputado:


O posicionamento dela vai contra quaisquer discussões que aconteça por grupos que lutem pelo direito GLBT. No momento em que ela diz que não é a favor da idéia de que uma criança veja um casal homossexual se beijando na televisão automaticamente assume que há nesse ato o erro. E por que essa criatura assumiu a pica de ir num programa em rede nacional, quando claramente não tem preparo pra isso??? Eu, que até tenho uma discussão sobre o assunto, que sou psicólogo, que tenho alguma bagagem nesse sentido, não comprava um barulho desse. Certamente passaria pra um colega melhor preparado por que de fato a responsabilidade é grande demais. Só me colocaria nesse lugar se acreditasse poder bancar ele.

Acredito piamente que as mudanças acontecem do micro pro macro... Atitudes individuais fazem à diferença. Há pouco tempo um amigo me falou da satisfação de ter ouvido de uma amiga que ela tinha uma visão pejorativa dos gays e mudou a partir da convivência com ele. Essa é uma responsabilidade que invariavelmente já carregamos conosco a todo o momento, agora tenhamos cuidado na hora de assumir mais do que de fato estamos prontos para agüentar.

7 comentários:

  1. Sensacional o texto.
    Esse lance de segurar bandeira é bastante difícil. Eu concordo com você e não sei se teria culhão de defender toda uma classe, não sabendo se eu, efetivamente, saberia representá-la.
    Eu não torço pra ninguém no BBB. Não tenho acompanhado. Quando assisto, assisto apenas pelo lado curioso do ser humano, se assistir a outros humanos. Acho que a diversão deveria ser por aí. Mais autoconhecimento do que diversão em si.
    BBB é exibição de seres humanos, um zoológico, humológico. Como seria essa palavra?

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  2. Faço minhas as palavras e sinais de pontuação de Hello. E as suas também. Problema é que a idéia é justamente essa, acho: mostrar o massacre do despreparado. E a Gimenez ainda posa de amiga dos gays, o que agrava ainda mais. No fim, cabe mesmo a cada um seu bocadinho para mudar a visão geral da coisa. A exposição das "caricaturas" tem até seu lado bom, de levantar a discussão. Mas já estava na hora de ser uma discussão séria.

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  3. Sinceramente, não tenho mais saco para aguentar qualquer tipo de bandeira, seja ela de que cor seja ... esta mania do ser humano de se achar dono das verdades, donos dos discursos politicamente corretos, donos dos princípios e valores de respeito a minorias, defensores únicos de minorias ou de maiorias ... não perco mais o meu tempo com estas baboseiras, até porque não acredito nisto ...

    Voce foi extremamente feliz no desfecho de sua postagem hoje ... perfeito mesmo ...

    "Acredito piamente que as mudanças acontecem do micro pro macro... Atitudes individuais fazem à diferença. Há pouco tempo um amigo me falou da satisfação de ter ouvido de uma amiga que ela tinha uma visão pejorativa dos gays e mudou a partir da convivência com ele. Essa é uma responsabilidade que invariavelmente já carregamos conosco a todo o momento, agora tenhamos cuidado na hora de assumir mais do que de fato estamos prontos para agüentar."

    Para ratificar:

    "Acredito piamente que as mudanças acontecem do micro pro macro... Atitudes individuais fazem à diferença."

    Até tentei acompanhar o BBB este ano ... mas a minha paciência e tolerância acabaram logo no 3º programa ... não consigo aturar aquilo nem como entretenimento ... malucos e suas interações com a teia social ... basta eu e com as minhas ...

    bjux

    ;-)

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  4. Eu já carrego tantas bandeiras...mas minha vida na blogaysfera está me dando ganas de carregar mais algumas...será que cabe na minha mão?

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  5. Bandeira?!? Só a minha. Coisa de egocêntrico, tu entendes bem, né? Hehehehe! Dicésar é digno de pena mesmo! Muito boa a discussão proposta, Gato! Hugzzzzz!!!

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  6. Representar uma classe é complicado...

    Acontece coisa parecida quando acontece algum cataclisma ambiental, e chamam um microbiólogo para falar sobre a situação. Mas é claro que não vai saber falar tão bem quanto um ecólogo! A área dele é outra, só vai saber o básico do básico da ecologia, o mínimo necessário para sua formação como profissional. Então, porque as cabeças de bagre se propõem ai ir dar a cara a tapa, e falar besteira na maioria das vezes?

    Se alguém se propõe a representar um grupo, que esteja preparado. E sobre as discussões do PLC, é o que o Edu disse mesmo: A intenção é justamente massacrar o lado despreparado.

    E sobre o BBB, bah, já perdi de vista. Nem sei mais o que anda rolando. Mas não acho calar para evitar conflitos uma coisa ruim não. Acho que vale muita coisa tentar fazer a convivência se tornar suportável. Claro, isso se você considerar que calar não é necessariamente consentir...

    Beijos gatón

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  7. Que travestí ridicula...
    tudo bem, que defenda a sua família, mas que abra sua mente um pouco, manda ela ler! Se formar!

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