O Psicólogo

Eu não falo minha profissão em toda e quaisquer circunstancias, na verdade raramente falo e o motivo é simples.. Tenho uma profissão moral, as pessoas em geral esperam uma conduta diante do que faço. Existem três reações básicas que me irritam muito...

1 – Assuntos chatos (seja de problemas pessoais ou de assuntos polêmicos em voga)

2 – A paranóia do “Vc tá me analisando” (Muito comumente seqüenciado por um: “para de ficar me analisando???”)

3 – A expectativa de toda uma rede de comportamento (Não tenho o sagrado direito ao surto)

Também não é muito difícil alguém querer saber minha opinião enquanto profissional e costumo dizer que só posso dar minha opinião enquanto profissional em casos que acompanho enquanto profissional e não numa conversa informal onde ouço uma historia partindo de um único referencial. Acho que tenho uma personalidade bem marcante e quando as pessoas convivem comigo o psicólogo fica de lado e eu consigo surgir... Nesse momento deixam de estar me pedindo minha opinião enquanto profissional e dão valor a o que o gato tem a dizer...

E pra dizer a verdade acho que as pessoas saem mais no lucro... Quando falo enquanto profissional para os meus assistidos, embora seja cauteloso, faço intervenções diretas na busca de soluções, mas se é pra opinar em assuntos gerais enquanto profissional, falar por uma classe te amarra, exige mais cuidado. Por isso é comum você ouvir psicólogo na TV falar, falar, falar e não dizer nada.

Um exemplo??? Ok... Farei um breve parágrafo do que falaria enquanto profissional sobre o caso Welligton Menezes e o que falaria enquanto gato... Perceberam a diferença.

O profissional:

Wellington Menezes possuía sinais claros de psicopatia. Em seus manuscritos referia-se a pessoas como Phillip e Abdul, possíveis personagens de sua mente transtornada. Os episódios de bullying na adolescência foram preponderantes para o ocorrido. Com as censuras reduzidas, em função da psicopatia, a rejeição encontrou um terreno fértil para proliferação de pensamentos obsessivos que se converteram na tragédia de realengo.

A pessoa:

Todos ficamos chocado quando um doido entra numa escola e sai metralhando todo mundo, tudo bem concordo que é de espantar mesmo, mas não basta, é preciso olhar o próprio umbigo. Vivemos num país de gente muito caridosa que doa muito dinheiro pro criança esperança, mas levanta o vidro do carro pro menininho no sinal e faz de conta que não vê. A gente só exclui, exclui e exclui... Um dia o excluído da o grito, toma face, vira o monstro e ninguém se pergunta quantos monstros cria por aí...

Percebam que no primeiro parágrafo não deixa de me ter enquanto pessoa, mesmo por que a psicologia tem diversas linhas e vertentes e a escolha por um direcionamento tem muito do meu referencial de mundo mesmo que anterior a ela. Na segunda, naturalmente, tem uma forma de pensar influenciado pela psicologia que acaba por me atravessar em todos os campos. Todavia na primeira eu tenho um compromisso maior com a fidedignidade à psicologia enquanto na segunda meu compromisso é com o que acredito. Sem falar na linguagem que me aprece infinitamente mais clara no parágrafo dois... É simples, claro e acessível...

Acho que sou suspeito a falar, mas, pra mim, a segunda alternativa diz muito mais... E devo confessar que pra escrever a primeira levei mais tempo.