27.10.09

Para Essas Boas Mães



Quando eu tinha 15 anos fui numa excursão do colégio, para Ouro Preto, a minha mãe, pra variar, não podia esperar o ônibus chegar, me deixou lá muito mais cedo e foi seguir seus afazeres. Me recordo da mãe de uma amiga, que ficava em cima dela e nunca mais que saia de dentro do ônibus, eu cheguei pra ela brincando e falei:


- Eita mamãe, deixa o bebê....


Ela me olhou com um ar serio e disse: “Cadê a sua mãe?”

Ela quis me constranger

Ela conseguiu...


Minha mãe é hiperativa, hj não tenho a menor duvida disso, o que me clarifica muita coisa que outrora já foi bem mais difícil de lidar. Se filhos hiperativos dão dores de cabeças, mães geram falhas terríveis na autoestima. A minha mãe nunca fez a linha “boa mãe”, aquela mulher prendada, q lava, passa, cozinha, arruma, ajeita... Não, minha mãe é caótica por natureza...


Qdo pequeno ela me dizia “somos só nós dois, vc precisa me ajudar na sua criação pk eu preciso trabalhar, tenho que confiar em vc e vc n pode me decepcionar”... E essa frase me acompanha até hj... Numa outra ocasião quando, ainda adolescente, fui fazer uma longa viagem ela disse: “Independente de pra onde vc for, n se esquece nunca de onde vc veio”... N sei te dizer se ela foi boa mãe, mas era excelente com as frases de efeito....


Nas avaliações da minha avó (boa mãe) fui criado de qualquer maneira. Há pouco tempo, conversando com a vizinha ela dizia que eu tinha tudo pra ser o pior filho do mundo, que fui criado largado... N se tratava de ser largado, ela confiava (e confia) em mim, o que é muito diferente. Somos um pelo outro, acima de qq coisa somos parceiros. Há uns dois anos atrás após uma discussão minha mãe disse que eu nunca a decepcionaria que precisamos sempre tentar entender e colaborar um com outro, pk seremos sempre só nós dois.... Na sociedade em que vivemos, com o referencial de amor que temos, é difícil compreender esse amor despretensioso, que não se faz numa barganha onde em troca exige-se um determinado comportamento.


E querem saber??? Tenho andando cada vez mais de saco cheio das “boas mães”, q são excelentes, preocupadas e zelosas, mas incapazes de vencer o próprio preconceito qdo descobrem um filho homossexual, isso é muito mais do que seu dedicado amor pode suportar. Muitas vezes o que fazem é engolir a idéia e transformando num tabu, deixando seus filhos a deriva pra ter de descobrir tudo pela rua...


To cansado dessas mães que me deixam cheio de dedos qdo tenho um amigo mais novo, pk elas podem achar q estou influenciado e vir pra cima como umas leoas, me obrigando a ponderar meus conselhos a cerca de suas fimoses aos 20 anos de idade, por que suas tão zelosas mães não conseguiram ultrapassar suas vergonhas deixando o menino chegar nessa idade toda com um problema tão simples de ser resolvido e tão complicado de ser elaborado.


To de saco muito cheio dessas mães q se perguntam onde erraram, e ficam pensando em tudo que foram por esses filhos, mas n tem a humildade de pensar no que faltaram.. De pensar do qto eles sofreram calados, de pensar o mundo de coisas que deixou de ser divididas por suas limitações...


To muito cansado dessas mães que pensam muito na vergonha q vão sentir do vizinho, mas n se perguntam um segundo se quer do peso de suas vergonhas no ombro de um filho homossexual... Estou francamente cansado dessa merda toda.



5 comentários:

  1. queridão, vc sempre com seus temas fortes e muito bem contextualizados. vc está corretíssimo em sua análise, Mãe Boa são estas como a sua que, conscientemente ou por necessidade, isto não importa, criam seus filhos com respeito devido a um ser e não como uma propriedade, com diálogo aberto e franco, sem mesquinharias e ou barganhas afetivas. vivi exatamente o oposto de vc, mas felizmente consegui meu equilíbrio emocional e minha independência afetiva destas relações neuróticas, por volta dos meus 29/30 anos, claro que a custa de muita luta e muito sofrimento ... mas conquistei. daí minha permanente crítica ao modelo hétero de família, pois são poucos os casais preparados para terem filhos e os criarem de forma mais saudável e respeitosa. casam achando que ter filhos é só trepar, parir e depois cuidar do objeto parido como uma propriedade. dá no que é este mundo em que vivemos... enfim amigo ... VIVA AS MAMYS "NEGLIGENTES" elas sim são as BOAS MÃES ...

    BJUX

    ;-)

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  2. Vc disse tudo!
    Na verdade as mãesquerem sempre proteger o filho e a si mesma...mas do jeito delas.Algumas "protegem" o filho dos assuntos da família, outras "escondem" da vizinhança..enfim um mecanismo de defesa da mãe que sempre quer ser vista como "a mãe de filhos perfeitos".

    Abraços!

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  3. Que bom que a sua mãe nos deu Você!

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  4. Até entendo... mães sempre querem o melhor aos seus filhos... Nunca querem vê-los sofrendo e, como homossexuais sofrem bastante em relações... =/
    E viva a Ximbica!!!
    E, to chegando por ai na 5ª!

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  5. Ai ai....vejo a minha mãe nesse texto.
    Ela é uma excelente pessoa, sempre foi solícita comigo, nunca deixou-me passar necessidade, mas quando toco no assunto de homossexualidade ela tende a desviar o foco da conversa. Morre de vergonha, e sempre diz pra mim não contar para os parentes.
    Lembro-me de quando assumi a minha opção ela disse: "NÃO CONTE PARA O SEU PAI, E NEM PARA A SUA VÓ". Segundo ela, eles não iriam entender...até concordo com ela nesse ponto, pois se minha mãe não consegue conversar comigo sobre isso, o que esperar de meu pai e minha avó moralista e evangélicos?
    Sinto-me muito sozinho, precisava falar mais o que sinto. Tanto que hoje em dia eu tenho a certeza absoluta de que não sou íntimo com ninguém da minha família, pois demonstração de sentimentalismo ou desabafos sobre o que vc pensa é visto aqui em casa como uma demonstração de fraqueza.
    Para vcs terem uma noção, nunca conversei abertamente sobre sexo com a minha mãe, pai ou irmãos. Mas consigo falar abertamente com os meus amigos.
    Somos uma família com máscara. Para outros somos perfeitos, mas na verdade só temos que nos aturar pq temos o mesmo sangue, pq na realidade não temos a menor afinidade um com o outro.

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