1ª - Duas primas, paulistanas, começaram o namoro mais ou menos na mesma época, com um único diferencial: Uma conheceu o namorado pela internet e ele morava no interior de Santa Catarina, e o outro morava a uma quadra de distancia. Ambos os namoros começaram com muitas juras, planos, expectativas e a certeza de que dessa vez seria diferente. As duas passaram por um evento balisador... No primeiro caso o encontro presencial, que conseguiu superar as expectativas. No segundo a troca de emprego do namorado pra trabalhar com algo que ele tava muito afim há muito tempo. Passado o período dos eventos, alguns problemas começaram a aparecer... O virtual que inicialmente era atencioso e carinhoso começou a pecar pelo excesso, ligava com muita freqüência, duvidava que ela estivesse em determinados lugares e com determinadas pessoas, fiscalizava orkut, reclamava qdo saia ou chegava tarde em casa. O outro começou a ficar mais distante, nunca tinha tempo pra passar na casa da namorada, as ligações passaram a ser menos freqüentes e as saídas na tentativa de se enturmar com os amigos do novo trabalho, constantes. Cada vez mais esgotadas tentaram uma alternativa... A primeira foi passar férias com o namorado, um mês, na certeza que a muito da insegurança estava na distancia e a segunda resolveu procurar ser mais presente e participar mais dos programas que envolvessem pessoas do trabalhos do namorado. As duas descobriram que se enganaram... Insegurança não tem a ver com geografia e participar da vida de alguém não depende só da sua boa vontade. De um lado o esgotamento aumentava ainda mais por um excesso que a aniquilava, começou a perceber que estava perdendo vida social... Do outro a falta evidente e a presença de uma ausência aumentava ainda mais o sentimento da solidão... Na mesma semana ambas terminaram os namoros.
"Só depois que a tecnologia inventou o telefone, o telégrafo, a televisão, a internet, foi que se descobriu que o problema de comunicação mais sério era o de perto."
Millôr Fernandes
2º - O menino era gay, mas nunca demonstrou, não tinha amigos gays, não freqüentava lugares, não tinha trejeitos, gostava de futebol e já tinha tido algumas namoradas. Morava em casa ele, os pais, a irmã e depois do falecimento do avô veio morar a avó, segundo ele uma velhinha simpática, que parecia alheia a tudo que se passava na dinâmica daquela família. Não se sabe ao certo se fazia isso por que não queria interferir ou se o abalo gerado pela viúves a deixou mais distante mesmo. No período da tarde só avó ficava em casa, quietinha no quarto dela, n fosse a televisão qualquer um podia jurar que a casa tava vazia. O rapazinho, se aproveitando da situação leva o namorado em casa e vai pro quarto, mas surpreendentemente papai chegou mais cedo em casa e pega o garotão dele, quase que literalmente, com a boca na botija. Começa o escândalo, gritos, muito soco na parede e etc... A primeira preocupação do garoto era colocar o namoradinho (17 anos) pra fora, mas o pai trancou a porta, por que dali ninguém saía. E a discussão começou a ganhar mais consistência, de um lado o filho tentando falar que aquele era um problema deles e que o moleque deveria ser liberado, do outro o pai bufando, urrando, grunhindo... E no meio desse furacão surge a simpática velhinha da porta e trava o seguinte dialogo:
- Luiz Otavio, você pode falar mais baixo que eu não estou ouvindo a televisão?
- Ta bom mamãe, desculpa.
- Juninho, você trouxe um coleginha? Eu não tinha visto...
Na seqüência a discussão se deu acerca da covardia do menino em se aproveitar da alienação da avó. Esta por sua vez, ficava da cozinha pra sala, enqto a briga continuava. Pai e filho discutindo aos berros, avó trançando e namorado sentado de olho arregalado no sofá. Quando avó terminou de colocar a mesa disse:
- Vamos crianças, vamos comer que dessa vida se leva o que se bebe e o que se come... Para de falar Luiz Otavio, deixa os meninos comerem.
O filho logo sentou na mesa e chamou o namorado pra se aproveitar da situação, o pai ficou atônito sem saber como agir, e a vó solta mais uma pérola...
- Luiz Otavio, você pode comprar adoçante que o meu acabou e eu queria tomar um refresquinho.
- Claro mamãe.
Quando ela terminou saiu andando e ele recomeçou a berraria, foi qdo ela voltou rapidamente e disse.
- Luiz Otavio, é agora.
- Ta bom mamãe.
O pai saiu de casa, e foi a deixa pro menino conseguir tirar o namorado de lá, a discussão continuou mais tarde, os dois sozinhos com os ânimos bem menos alterados.
"É incrível quão inocentes são as pessoas quando ninguém as espreita"
Elias Canetti
Adorei os dois contos, como sempre criativo e com finais inesperados. Praticamente um Nelson Rodrigues.
ResponderExcluir