Separação

No dia 07/07/06 eu sai da minha casa para poder assinar como testemunha de um casamento.... Hoje fui assinar como testemunha do divorcio deste mesmo. Desde que acordei pensei no que, naturalmente, escreveria sobre isso. Sobre o simbólico do fim, da falta, do vazio que fica no lugar de tudo que se esperou. Porém a coisa seguiu numa outra direção....

Bem, primeiro devo frisar que fomos escolhidos dois amigos próximos da minha amiga pra assinar como testemunha eu e um pastor que merece o capítulo a parte.

Esqueça da tradicional imagem de um pastor, o rapaz não ouve Cassiane, não fala o nome de Deus a cada frase e nem aparenta ter a deliberada intenção de te converter. Dissidente e incendiário o pastor segue, no seu universo, tb na contra-mão. Já nos conhecemos pela via dessa amiga e ele não tem menor problema qdo falo de assuntos libidinosos, pelo contrario, pergunta e conversa normalmente. De alguma forma o sinto mais severo quando seus “iguais” usam a palavra de forma babaca do que com quem é diferente. Pra vocês terem idéia da abertura, no caminho ele falou que era melhor um amigo viado e outro pastor do que um marido filho da puta.

Enfim, formamos um grupo no mínimo incomum. Ao chegar ao cartório encontramos com o então marido, sua avó e a advogada... Papeis entregues, clima pesado no ar. A avó dizia que os casais de hoje não era como os de antigamente, que o seu marido vivia na rua cheio de mulheres e que ela praticamente criou sozinha os três filhos, mas hoje em dia não se tem amor.. É.. Hoje em dia se tem amor próprio, né vovó??? Graças a Deus.

A advogada era missionária e convidou ex-marido, ex-mulher, testemunhas e avó para poder assistir sua pregação na quarta-feira... Enquanto isso eu ouvia Ivete Sangalo no Ipode do pastor (OBS. Eu achei q ia ter Fernanda Brum, ele disse que eu encontraria João Gilberto.. E ouvi mesmo foi flor do reggae).

Cansada do clima de velório, minha amiga me senta na escada na frente do cartório, o pastor vai atrás logo depois fui eu.. Ficamos sentadinhos falando sobre casamento, relações e existência. Qdo me passa um conhecido... Pedi pra ele tirar uma foto nossa, ele vai bater com a câmera vira do lado contrario e diz:

“Desculpa é que eu fumei agora, to chapado”

Detalhe: Ele cumprimentou o pastor pelo nome, que não sabe dizer de onde o conhece.

OK.. Lamurias choradas, fotografia batidas fomos convidados a entrar....

Hora do show... (por que ele ainda não tinha começado)

Entramos todos e ficamos com aquele que eu acredito ser um tabelião...

Tabelião – Eles são as testemunhas????

Noiva – São.. Foram do casamento e estão sendo do divorcio.

Pastor – Eu não.

Eu – Eu, fui..

Tabelião – AHHHHHH você amarrou e desamarrou, hein.. HAUhauHAUhauHAUhau (riu sozinho)

Eu – Eu não desamarrei nada. (todos riram)

Tabelião lê os documentos, as partes concordaram, ele entrou para fazer algumas alterações e ficamos todos lá.. Esperando... Ai começa:

Noiva – Eu mesma posso pegar esse documento e levar no cartório que casei pra ver meus documentos com nome de separada?

Advogada- Eu não sei, vou perguntar a ele quando ele voltar...

Eu – Ela já assina aqui com o nome de solteira?

Advogada – Eu acho que sim...

Noiva – A nova lei do divorcio já tá vigorando, ou ainda tem de esperar um ano..

Advogada – Eu não sei, vou perguntar aqui...

(silêncio)

Advogada – é que é o primeiro divorcio que eu faço... To acostumada com processos mais burocráticos.

Eu, Noiva e Pastor – Hummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

(volta o Tabelião)

Advogada – Eles mesmos podem ir no cartório que casaram e tirar os documentos de solteiro.

Tabelião – Podem sim, mas vc pode fazer o serviço cobra mais um honoráriozinho HUAhauHAUhuahUAHuahU (ri sozinho)

Eu – Bem humorado ele, né???

Noiva – MUITO

Advogada – É bom que descontrai... Animado...

(fala-se mais uma meia dúzia de bobagem volta um assunto que estava lá fora, onde a advogada disse que o pastor tem cara de cientista social)

Advogada – Parece sim, parece cientista social... (aponta pra mim) e vc parece estilista.

Eu – São os óculos...

Advogada – É, mas não tem cara de psicólogo, não...

Eu – Com os óculos de grau vc me acharia com cara de psicólogo.

Advogada – Hummmmm.. E por que você tá usando esses óculos aqui dentro??? Tá com algum problema?? Conjuntivite???

Eu – Eu tenho fotofobia... Não posso com luz...

Pastor – Ele tem Câncer...

Eu – Credo, Pastor... Tah repreendido em nome de Jesus.

Advogada – É... Não brinca com essas coisas.. Sabia que a palavra tem poder???

Eu – depende da palavra

Advogada – Qualquer palavra..

Pastor – É mesmo??

Advogada – É, você tá rogando maldição pra vida dele...

Pastor – fazendo o que ???

Advogada – Rogando maldição...

Pastor – Você tá.. (noiva cutuca ele)

Noiva – Para, pastor...

Advogada – E você prega onde?

Pastor – Me formei como pastor, mas tive que me afastar por motivo de doença..

Advogada – Qual doença?

(silêncio tenso)

Pastor – Você gosta muito de perguntas, né?

Advogada – A gente pergunta assim pra poder orar pela doença certinha, né?

Eu – Falta muito pra acabar????

(o tabelião começa a pedir pras pessoas assinarem os papeis)

Tabelião – Meu patrão assina aqui, agora vc meu patrão... vem cá meu patrão.. Vc tb!!!

Pator – Você trabalha em muitos lugares, né rapaz?? Que vc tem tanto patrão...

Tabelião – Claro, é de vocês que eu ganho meu tutu, né??? HAUhauHAUhauHAU (ri sozinho)

Após esses e mais alguns bizarros diálogos, terminamos a via sacra e fomos embora, o trio improvável.. A noiva ainda com lágrimas nos olhos morria de rir da falta de noção dos envolvidos no processo. E eu... Eu só reafirmei mais uma vez a fé que tenho no humor, na convicção que o bom humor é a melhor das alternativas, que quando conseguimos sorrir do absurdo em que vivemos significamos a vida de uma forma diferente. Hoje a ex-casada certamente vai sentir de forma um pouco mais pesada a presença de uma ausência, mas sem a menor sombra de dúvida um pouco mais pra frente vai conseguir lembrar desse dia e simplesmente rir.