A maioria das vezes que sou questionado sobre o que penso do movimento emo tenho uma ligeira irritação. Geralmente o fato ocorre quando estou com algum amigo mais novo e que normalmente, mais do que não gostar, odeia eles. A minha irritação se da não pelo assunto em si, mas pela importância atribuída. Não consigo entender por que uma coisa que é da ordem do outro pode causar tanto incomodo... Ou até entendo, se pensarmos bem a discriminação aquilo que clarifica a diversidade existente nas possibilidade de viver a masculinidade e feminilidade, não é nenhuma novidade... A agressão gratuita ao emo, muitas vezes física, na verdade é um comportamento de intolerância a androginia.
No mundo atual cada vez se torna mais politicamente incorreto a discriminação ao homossexual, mas o preconceito existe e nesse caso escolheram um subgrupo onde isso pode ser feito e é legitimo. Com a mesma freqüência e tranqüilidade que um homem heterossexual agredia um gay na rua na década de 80, hj se faz isso com um emo. A cerne do preconceito em ambos os casos é a mesma.
Vocês devem ta se perguntando por que motivo resolvi trazer para o meu blog essa discussão teen. Ontem assisti um programa falando sobre androginia na Fashion TV e gravei para um amigo. O movimento que tem sua representação máxima hoje com os emos, sempre me pareceu fantástico. A ousadia com aquilo que é mais tabu na sociedade, a sexualidade, foge do obvio, confunde e atordoa a ordem. Tenho cada vez mais sentindo uma certa fragilidade no macho heterossexual. O capitalismo é um sistema tão cruel que nas suas criações serializadas cria marcas a quem não está na norma e também para seus ícones. A classe media, por exemplo, vive o medo de se tornar pobre e muitas vezes se incomoda em ver a pobreza diante da forçante empatia que o faz pensar que um dia pode estar naquele lugar. Os belos vivem o terror de se tornarem feios, num eterno “desasossego” com uma espinha que surge, ou um quilo a mais na balança... E o homem heterossexual, o pânico de ter sua sexualidade posta a prova. Já ouvi mais de uma vez aquela máxima “não existe homem hetero, existe homem mal cantado” eu discordo, mas sabemos que em boa parte dos casos uma boa ocasião faria sim o ladrão. E vocês já perceberam o discurso do cara que vive uma vida heterossexual e começa a se enveredar pelo outro lado??? Não existe nenhum questionamento ou duvida a cerca do interesse por aquilo, ou se realmente lhe dar prazer. A preocupação é pela imagem que vai passar a ter, o lugar que vai ocupar. Olhando dessa forma podemos entender bastante coisa... Pensem bem: Está lá o cara... Macho, viril, forte, poderoso... E ai surge aquela criatura esquisita, que confunde, destoa... Ele tem algo de feminino, atrai... A maquiagem nos olhos, o esmalte na unha, uma certa delicadeza... Esse macho que vê pornografia na internet e não perde a ereção quando ocasionalmente no meio das fotos das siliconadas aparece um homem fazendo sexo oral no outro, é desconsertado por aquele fantasma que precisa ser eliminado, agredido, rechaçado, pra que o agressor diga pra si mesmo que não o deseja e que nunca desejará.
Além desse macho também temos aqueles que já sabem e aceitam o fato de gostar de homens, mas que já perceberam que o vinculo a homossexualidade de alguma forma os reduzem e mais do que admitir o preconceito endossam e reproduzem (tiro no pé). Eles são, mas não querem parecer ser e naturalmente odeiam quem, independente de ser, parece. Está na contramão de suas tentativas de provar ao mundo (e pra eles mesmo, é claro) que gostando de outros homens não precisam ter traços de feminilidade, que ninguém precisa ser daquela forma. É melhor tentar se adaptar sendo um pseudohetero do que tentar entender e ter uma critica a essa onda.
Em linhas gerais acho o movimento emo hardcore (e qualquer outros de androginia) ótimo e isso por que costumo gostar daquilo que desestabiliza o sistema, que põe em cheque toda essa babaquisse escrota. O preconceito é surdo e só ouve o que lhe interessa, quem é limitado reproduz sem racionalizar e se contenta com o um simples “não gostar” sem procurar entender de onde isso vem, achando que o incomodo que sente diante daquilo tem a ver apenas com uma cara melancólica ou maquilagem nos olhos, não percebendo que esse é aquele mesmo tacanho preconceito que sempre existiu, mas agora disfarçado. O mesmo preconceito que passaram as primeiras mulheres a usarem calças, mas que deram a cara pra bater e saíram da posição de mocinhas que precisavam cruzar as pernas delicadamente se privando de uma serie de atividade antes designadas aos homens única e exclusivamente pelas suas maneiras de se vestir. Mudança simples, mas que é parte de um movimento que garantiu a mulher o direito a voto, acessão no mercado de trabalho etc etc etc... É preciso ousar, o esmalte da sua unha é uma maneira de seguir na contramão, não nos enganemos, a mudança se da do micro pro macro, são atrevimentos como esses que permitem que sigamos em frente e ainda temos muito para avançar.
Não fossem os travestis, ainda estaríamos no armário. Quem sabe agora os emos sejam a nova revolução (e não apenas gay)? Sou a favor!
ResponderExcluirDemorei a passar aqui e me arrependo, pois gostaria de ter comentado quando os textos foram publicados, mas faço questão de comentar agora, de onde tinha parado.
ResponderExcluir1 – Lolita – Poético o seu texto. Pergunta: A sua “Lolita” existe mesmo? Nossa! Caso exista, escreva mais sobre “ela”. É um enredo fantástico, caberia num livro e conseqüentemente numa minissérie da Globo. Imagino quem seriam os atores, com certeza o psicólogo seria Wagner Moura, para ficar estar a sua altura. O Lolito poderia ser algum jovem desconhecido.
2 – Você é polêmico sim.
3 – Tenho sorrido bastante, mas pela noite fica complicado esconder a tristeza de mim mesmo.
4 – Já sou fã da sua mãe. Preciso conhecê-la. Lembro-me das terras altas que ela comprou se preparando para a elevação do nível do mar. Me pego constantemente rindo disso.
5 – Todo mundo se liberando, não tem idade. A Internet tornou-se muito importante para os homossexuais, assim como, o celular, a camisinha, o gel pra lubrificação íntima e os laxantes em sache. Incomodado ficava a sua bicha avó.
6 – No meu CrossFox... Salve Stefhany!
7 – Por mais que eu me negue a acreditar que existam pessoas que se prestem a fazer um material tão ruim quanto o dos quadrinhos da campanha contra o aborto, eles proliferam. É triste saber que existem pessoas que se lançam no grande debate dos impasses sociais com uma argumentação tão baixa e infundada. O Estado é laico. Será que eles não sabem disso?
8 – Infelizmente não pude ouvir o podcast, limitação do sistema, mas pelos comentários eu imagino que ele deve estar ótimo, mal vejo a hora de chegar a casa e ouvi-lo.
9 – Emo – Sim são interessantes, mas não me convencem. Sou meio cético em relação a sustentabilidade de pretensões adolescentes. Aos quinze temos que ser, se somos humanos, questionadores e de oposição. Quem não é revolucionário aos quinze anos não tem coração, em regra. Porém quem continua sendo depois dos trinta, geralmente, não tem cérebro. Preciso saber, é dúvida mesmo, depois você me explica. Existem Emos com mais de trinta anos? Com normalidades, ou seja, pessoas que seguiram uma vida como Emo, vindo a se tornarem trabalhadores e pais nessa condição. Você sabe de algum caso?
Respondendo a pergunta do Ricardo com relação a postagem...
ResponderExcluirDe fato vejo como pouco provável que exista o emo de 30 anos, muito menos que chegue emo aos 70, mas não acho que isso desmereça o movimento.... Ainda sim retrata uma época e sua abertura para as diversas possibilidades de vivenciar o gênero. No programa que comentei ter visto a historia da androginia é contado pelo viés da moda e sendo mesclado com a historia... O estilo emo é uma expressão de algo que vem acontecendo no decorrer dos anos e irá continuar a se expressar e enfrentará preconceito enqto se expressa. Além do que esses jovens que hj vivem isso podem não chegar emo aos 30, mas muito possivelmente serão adulto diferente daqueles que cresceram vendo a banheira do Gugu.
Sempre acertando no alvo... esse é um dos posts mais inteligentes e interessantes que lí últimamente... quando você trabalha com certos esteriótipos e com o comodismo social... assim como a moral que o cristaliza... terá pessoas revoltadas.
ResponderExcluirTema propício!!!
Inté
oláaa. desculpa a invasao. mas estás convidado a entrar no meu blog se quiser. adorei o tema e você escreve muito bem. poucos blogs q conheço sao tao interessantes como o seu. Gostei sobre o que vc falou sobre os emos e não conhecia muito a respeito dessa tribo urbana.
ResponderExcluirmeus parabens"!!!
cultura já!!
leandro cardoso.
caraca vc anda a 1000 com suas postagens densas e reflexivas ... parabéns mais uma vez ... vejo com naturalidade e como mais um movimento de contra-cultura como tantos outros que já experenciamos em nossa sociedade ... todos eles deixaram suas marcas na malha social tornando-a melhor, mais aberta, mais democrática ... é claro que, tudo vai se adequando a uma realidade posterior mas isto não invalida nenhum movimento e, as gerações pós "emo", haverão de colher os frutos destas conquistas, assim como a minha colheu do movimento hippie. enfim, chega de qualquer tipo de preconceito, isto me dá coceira ... fico pasmo como o ser humano é tão pretensioso e irracional qto aos preconceitos ... quem neste mundo, de alguma forma, em algum momento de sua vida não sofrerá algum tipo de discriminação? pobre, gordo, negro, gay, velho, feio, burro, ignorante, e mais e mais e mais ...
ResponderExcluirbjux
;-)
Amigo irretocável o texto. Engraçado que parece qeu passei por pedacinhos de cada fase, sem exagero ou violência ao próximo. Mas foi pior sabe? Foi o sentimento que por momentos habitou meu coração. Mas eu mudei, que bom!
ResponderExcluirEmos, realmente intrigantes. Não tinha pensando na possibilidade de virem a se tornar adultos melhores, mas realmente podem vir a ser. Meu medo é que seja um caminho de alienação e não de esclarecimento. No entanto, deixemos o futuro trazer as respostas.
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