Menos rápido....

A pouco tempo fiz uma postagem sobre twitter onde dizia que só fui compreender qual é a sua sacada depois da segunda vez que entrei Falei sobre o caráter viral e a velocidade em que as coisas aconteciam naquele espaço. E é sobre isso que vim falar, velocidade. O mundo cada vez mais veloz, a contemporaneidade ajudou na formação de uma sociedade que tem pressa, fala-se até em síndrome da pressa, uma doença que embora ainda não seja reconhecida nos manuais é estudada desde a década de 80 e é caracterizada por esse afoitamento, essa correria constante, mesmo quando não há um motivo aparente pra isso. Avançamos sinais, queremos fazer leitura dinâmica, otimizar tempo... Mais e mais e mais rápido... Precisamos ser os primeiros ter informação, muita informação e rápido... Cada vez mais imediatistas, estamos nos tornando uma sociedade ansiosa. Os transtornos de ansiedade aumentam em proporção e número, não sabemos mais lidar com os processos lentos... Queremos não sentir mais a dor do fim de uma paixão pra ontem, e achamos que temos de nos recuperar pra ontem, encontrar um outro amor pra ontem, sermos felizes pra ontem. As coisas não funcionam dessa maneira, em geral o que é fundamental na vida se constrói lentamente e precisa ter cada faze do processo bem vivido. Não adianta querer pular a adolescência e ser um homem maduro de 16 anos, viver um casamento quando se está namorando, ser um excelentíssimo Dr. de 26. É preciso ser experenciado para lidar com cada uma das situações citadas, e uma real experiência... Se vivo um casamento quando deveria viver um namoro pulo um período fundamental em que aprendo a lidar com o outro numa distancia segura, se sou um adulto de 16 por que entendi certos processos ouvindo as pessoas nunca terei um entendimento real daquilo que, na verdade, não conheço. Lembro de uma amiga da faculdade que fazia tudo para terminar o curso em quatro anos, puxava matéria, estudava de manha e de noite... Corria e sempre tinha muito pouco tempo, o que talvez ela não entendesse é que mais do que o conhecimento técnico que nos era ensinado, a universidade era um espaço de troca e interação onde formávamos uma identidade profissional... As conversas de corredor ou no bar da esquina nos atualizavam não só dos eventos, mas do que era tendência, do que se discutia, do mundo que ela tanto ansiava em chegar sem muito se preocupar em de fato conhece-lo.... Se formou um ano antes de nós, que não pareceu fazer tanta diferença. A vida cobra, as coisas precisam acontecer no seu tempo, no seu ritmo...

Durante este período que estou doente tenho tido que aprender a lidar com a ansiedade da espera pela cura, em geral adoecemos, vamos ao médico, tomamos o medicamento e com uma, no máximo duas semanas estamos prontos pra outra. Dessa vez demorei pra descobrir o que era e quando descobri soube que é uma doença de tratamento chato e demorado... O tempo poderia ser longo e ainda tendo de fazer a tal dieta nesse período que daria a sensação de ser maior ainda. Comecei a entrar numa negativa em falar sobre o assunto, no meu MSN deixei um recado que dizia: “PS. A perna não melhorou, não pergunte.”... A msg ,um pouco mal criada, era por dois motivos. Primeiro que estava de saco cheio de contar sobre isso que virou uma espécie de assunto único durante um tempo razoável. E segundo por que as pessoas, queridas, sempre perguntavam à espera de boas noticias, chegavam pra mim todos os dias e falavam: “E a perna, melhor???”... E eu sempre tendo de dizer que não, num dado momento comecei a falar que sim por que estava ficando sem graça em da a mesma resposta que soava até um pouco antipática. A verdade é que eu precisava trabalhar em mim a tal ansiedade, precisava aceitar que seria demorado e a preocupação, sempre bem intencionada, dos meus amigos acabava por colaborar para que eu ficasse ainda mais afoito pela cura. Precisava cortar essa investida, e fiz... Decidi ontem após uma conversa que enviarei um e-mail para eles explicando o que aconteceu e por que dessa minha negativa em falar sobre o assunto.

Existe um único lugar certo em que todos vamos chegar,... A morte. A pressa não vai fazer com que vivamos mais, não vai atrasar e nem adiantar esse processo... Vivamos melhor cada momento... Vamos aprender a curtir a fossa, a lidar com a falta... É difícil, mas é preciso... As vezes corremos e pulamos fazes pra chegar logo um ideal, e o ideal nunca chega. Eternamente queremos sempre mais e mais... Até a exaustão... Deixemos que as coisas sigam seu próprios movimentos, nem que isso signifique ter menos.