Eu nem lembro quantas vezes na vida contei essa história, ela volta e meia é assunto, basicamente por que tem sempre alguém fazendo a seguinte pergunta sobre minha relação: Nunca rolou de se apaixonarem ou de considerarem ter algo com outra pessoa? Então.. Em 10 anos aconteceu uma única vez e quaaase rolou por isso volta e meia eu conto essa história.
Antes de começar o fato em si eu preciso fazer alguns adendos. Eu conheci meu marido em 2009, ano que começamos a namorar, em 2011 fomos morar juntos e em 2013 abrimos a nossa relação. Entre os anos de 2013 e 2017 o acordo era que só poderíamos ficar com pessoas se fosse juntos. Eu topei e achei o melhor dos mundos, todavia hj com um pouco mais de debate e tendo total clareza de minha natureza completamente poligâmica, esse modelo não tinha mesmo como funcionar pra mim. Em 2016 a gente viveu uma grande crise e foi a primeira vez que consideramos terminar.
Quem tem um debate mais avançado sobre não monogamia se quer entende essa estrutura como não monogâmica. Inclusive é muito comum as pessoas enxergarem "swinguers" como um pouco conservadores e não sendo incomum terem muitas travas. A rigor o fato das pessoas estarem envolvidas sexual ou emocionalmente com outras já deveria classifica-las como poligâmicas. Porém se eu usar uma métrica tão engessada também deveria considerar infidelidade poligamia. O que eu entendo hoje é que nesse modelo as estruturas de controle do sexo, do corpo e do afeto do outro são mantidas e isso não é em nada um amor livre. Porém eu entendo isso hoje, não entedia tão bem antes.
A partir de 2017 nós deixamos de ter perfis de casal e passamos a ter individual e passamos a poder ficar com outras pessoas individualmente. As experiências enquanto casal foram ficando mais escassas e os debates sobre esse formato volta e meia eram renegociados. Só agora em 2022, aparentemente, chegamos num acordo um pouco mais claro. Atualmente continuamos a ter liberdade para experiências individuais, mas tentando priorizar experiências juntos. Foi em 2022 inclusive que voltamos a ter um perfil de casal.
Porém, no meio disso tudo, em 2019 conhecemos um rapaz que vou chama-lo aqui de Wanda... Em homenagem a WandaVision. Quem conheceu Wanda foi meu marido, no tinder dele, ele morava na minha cidade natal que ficava a uma hora e meia da cidade que estávamos morando naquela época. Eles não chegaram a se encontrar e marido dizia que ele fazia muito meu tipo. Eu que em geral gosto de garotos pequeno e magrinhos vi pela primeira vez a foto do menino de 1,55 e 48kgs animado com a possibilidade. Ele era bastante disponível e educado, em pouco tempo foi nos encontrar e a química super bateu, nós três funcionávamos bem.
Com 21 anos Wanda não trabalhava e não tinha se quer concluído o ensino médio... Na verdade não tinha a ver com não concluir, mas de nem ter entrado. Ele também não era um play boy de classe média sustentado pela família. Pelo contrário, morava numa comunidade, era de uma família bem simples e dizia ter dificuldade para trabalhar em função de morar longe. Eu tenho uma autoregra de que dinheiro não define em nada minha relação com as pessoas. Eu não me aproximo e nem me afasto de ninguém em função de dinheiro então esse não era esse o problema... Mas haviam dois.. Bem graves.
O primeiro era que ele queria entrar na relação fechando o que pra mim nem de longe é uma possibilidade. Eu sou uma pessoa que passo a vida militando pela possibilidade de viver uma vida marital que não tenha que sacrificar o bem tão precioso que é a liberdade. Eu realmente entendo que essas coisas podem andar juntas e acho muito esquisito a normalização da ideia de que abrir mão da sua autonomia par atender a insegurança do outro é um gesto de amor.
A segunda é que ele era extremamente encostado, muito mesmo.. E se eu já sofro por me sentir sobrecarregado ele claramente seria mais um peso. Não tem iniciativa nenhuma, o fato dele não trabalhar de forma crônica eu poderia até passar por cima, o que na verdade eu não tinha analisado no início é que a consequência disso poderia tornar aquela possibilidade inconciliável pra mim. A bem da verdade é que fazia pelo menos 6 anos que essa pessoa não tinha nenhuma atividade, que não cumpre um horário, que não se encontra com um coletivo para a execução de uma atividade em comum e isso nutre nele uma postura totalmente prostrada.
O pior de tudo é que (segundo minha visão) para viver dessa forma e ainda parecer alguém razoável ele criou uma realidade paralela pra si na internet. Wanda tem 10k de seguidores no instagram que pra mim é claramente comprada (as fotos não tem comentários e em geral não chegam a 20 curtidas) e quando o conheci estava no seu perfil "futuro fisioterapeuta". Basicamente por que dizia querer essa profissão, mas numa conversa com ele de cinco minutos fica claro que ele nem tem uma noção exata do que faz um fisioterapeuta, muito menos faz qualquer aceno pra isso se concretizar. Depois de um tempo ele começou a fazer edição de foto e uns freela, mas que vc tbm não percebe nenhum profissionalismo na condução disso. Hoje em dia no perfil dele tá editor, modelo, manequim e blá blá blá... O instagram dele é cheio de selfie com mil efeitos e isso é tudo.
Nós começamos a nos conhecer em agosto de 2019, ele deixou claro seu desejo de fazer daquilo um namoro. Eu falei que ele estava em estagio probatório. Mais ou menos em novembro eu estava bastante envolvido, mas racionalmente tudo dizia não. Ele sempre ia lá pra casa e ficava papo de 10 dias, era bastante tempo. Em uma das vezes ele teve uma crise de gastrite, eu o levei aos hospital e comprei todas as medicações. Fiquei incomodado com o fato dele se quer ter perguntando o preço dos remédios. Foi barato e eu nem falaria, mas ainda que ele tivesse sem dinheiro, acho que deveria perguntar e oferecer de pagar mesmo que fosse depois. A naturalidade com que ele tratou eu pagar por aquilo me incomodou. A minha expectativa é que após a crise ele fosse embora no dia seguinte (a ida estava marcada para dois dias depois), por que ele estava lá em casa há um bom tempo e a gastrite exigiria uma alimentação mais específica, então é um momento para se estar em casa. Por fim ficou claro que ele ainda queria ficar, então fui no super mercado e comprei o que era necessário, como ele precisava comer de duas sem duas horas, arrumei lanchinhos em potinhos para ele não deixar de comer. No dia seguinte eu e marido estávamos faxinando a casa, ele sentado no sofá jogando e de duas em duas horas eu levava um pote na mão dele no sofá, pq ele esquecia de pegar na geladeira. Todas a s vezes que eu dava ele falava "não precisava" e eu respondia "então fica atento ao relógio, por que se você não comer vai passar mal e eu vou ter que voltar com vc pro hospital". Totalmente mãe, totalmente puto. Depois desse episodio tive uma conversa séria com ele, mas a verdadeira gota d'água foi numa viagem que fiz em que, ao abrir o grinder o perfil dele apareceu a um metro de distância. Basicamente ele usou o fake GPS pra saber se eu estava em aplicativo, ele já havia colocado frases do perfil no ginder do meu marido no storie dele do inta como indireta... Como se quisesse dizer "eu vi"... Mano... Eu ajudei meu marido a fazer o tinder dele! Meu marido ouvindo áudio meu nessa viagem ouviu barulho do grinder no fundo e não comentou nada pra não me constranger e esse moleque nessa onda errada. No dia seguinte comuniquei a marido o que faria, liguei pra ele de vídeo e perguntei por que ele fez aquilo.. Ele gaguejou pra lá, gaguejou pra cá.. Eu mandei ele tratar de cuidar da vida dele e sumir. Fim do primeiro ato.
Um pouco antes disso ele tinha feito uma prova do ENCEJA, para quem não conhece é como se fosse uma espécie de vestibular para pessoas que não fizera o ensino médio. Se você tira a partir de uma nota x consegue ter o seu diploma. Caso você perca em alguma das disciplinas tem como faze-la através do CEJA, uma espécie de supletivo e finalizar seu ensino médio. Wanda fez ENCEJA em 2019, porém foi pra casa almoçar e ficou na internet conversando, acabou chegando atrasado e não fez a parte da tarde zerando todas as disciplinas. Na ocasião eu estava muito ligado nessa prova por que estava trabalhando num programa de jovem aprendiz e acompanhava um grupo de jovens que estavam vivendo esse mesmo momento.
Em maio de 2020 ele começou a comentar coisas minhas e a gente voltou a se falar. Na época ele sempre que podia dizia que se abriu ao poliamor e entendeu como as coisas funcionavam. Me contou todo orgulhoso que conseguiu concluir o ensino médio no CEJA, mas até hoje eu não acredito nisso. Pra mim ele nunca concluiu, por que com a pandemia as unidades do CEJA tb chegaram a parar. Para ele concluir todo o ensino médio até maio ele teria que ter feito isso em tempo muito recorde, no meio da pandemia, para mim é ele mais uma vez se vendendo como um pouco mais razoável do que é.
Em 2021 ele chegou a vir aqui em casa de novo, nos ajudou na mudança e eu cheguei a encontrar com ele na nossa cidade algumas vezes, mas com o tempo a inviabilidade de qualquer coisa foi ficando cada vez mais clara. A gente gosta dele, mas a verdade é que três anos depois tudo continua no mesmo lugar. Atualmente ele foi morar com uma irmã que se separou, está numa casa num bairro mais central, me contou que seria mais fácil para trabalhar, que já tinha algo na mão... Nada aconteceu.
O cronos é uma dimensão da realidade muito cruel, por que ele não espera nada, ele vai pra frente, logo se vc fica parado, isso não é exatamente uma inércia, é um andar pra trás, por que o tempo não para. Em 2019 ele tinha 21 anos e estava a 6 anos sem nenhum compromisso profissional ou de estudo. Em 2022 ele tem 24 e está parado a 9 anos. Se ele não se mexer em 2028 ele vai ter 30 anos e vai estar parado a 14. Entendem que não é a mesma coisa? Que piora a cada ano?
Certa vez ele botou uma caixa de pergunta, alguém comentou alguma coisa de trabalho e ele respondeu de forma áspera, na ocasião questionei ele falou que tava dando um "chega pra lá" na irmã... Marido disse que de início sempre que sabia de curso gratuito ou vaga de emprego mandava pra ele, mas que foi percebendo aos poucos que estava incomodando de alguma forma. De pouco a pouco as pessoas vão desistindo. Hoje ele botou um desenho no store que dizia que todo pequenininho tem o grandão dele e botou a legenda "menos eu".. E a bem da verdade é que enquanto ele não encarar a realidade de frente e criar uma ação ele não vai construir coisa alguma.
Em todos esses anos eu posso dizer que nunca considerei deixar meu marido pra ficar com ninguém. para ficar sozinho confesso que já pensei algumas vezes, mas a troca nunca foi um desejo. Poucas vezes me senti envolvido a ponto de querer ter algo real com outra pessoa, seja em paralelo ou junto com meu marido... E a única vez que isso foi colocado na mesa como uma possibilidade foi com um ficzeiro blogueirinho. Faz sentido? Aparentemente nenhum... Talvez tenha sido assim por que de fato ele é bom em criar narrativas e até manipular situações que sustentem sua inércia... Talvez tenha sido a brecha daquele momento... Talvez ele seja de fato um cara muito legal, mas com um problema que não dá pra passar por cima. Independente dos motivos eu entendo que mais importante do que sentimentos são escolhas e infelizmente a gente achou melhor não. O mais importante que ficou para o casal é nosso entendimento de que a gente realmente não busca um terceiro travesseiro, mas que essa não é uma impossibilidade a depender do candidato e das circunstancias.
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