30.9.24

Brigitte Vasaloo and me


Certa vez em uma entrevista Clarice Linspector falou sobre o fato de que não escrevia na esperança de que algo se alterasse, pq no fundo nada se altera e aí ela fecha dizendo "agente quer desabrochar de um modo ou de outro". Eu poderia citar diversos pensadores, de Paulo Freire a Sócrates, que vão defender a premissa que o processo de aprendizagem não tem a ver apenas sobre como aquilo está sendo passado, mas sobre como a minha experiência empírica vai me fazer absorver aquilo. Eu lembro que quando li Regina Navarro Lins fiquei extasiado ao me reconhecer no conceito de poliamor, mas a bem da verdade é que aquilo já estava muito claro pra mim, Regina trouxe complexidade, estabeleceu fluxos, relações de causa e efeito, lançou luz sobre corredores escuros e me espantou fantasmas, mas eu já sabia. Talvez você que esteja lendo suspeite que possa ser uma arrogância da minha parte ou a tentativa de querer passar uma imagem de "sabichão", mas a maior prova do que estou falando tá aqui nesse blog mesmo. Conheci o trabalho de Regina em 2013 quando li seu primeiro livro, mas em fevereiro de 2012 fiz um post aqui intitulado "conselhos para um gay iniciante", que dentre outras coisas escrevo: 

"Tb não me caia na esparrela de achar que um dia vc vai encontrar o homem certo e ai vc vai desejar apenas ele... Isso é uma grande tolice... Continuará desejando tantos qtos parecerem interessantes pra vc... Talvez vc entre numa relação onde consiga dar vazão a isso (e eu recomendo isso mesmo, desde que haja maturidade pra entender o quão seria é uma relação ainda que aberta)... Mas talvez não, o que tb não tem problema, faça o que suporta... Em todo caso tente ser honesto dentro daquilo que vc se propôs... (mais um gole d’água) ... As vezes vc não vai conseguir... Não precisa se matar por isso, só tente não fazer disso um hábito... Um minuto.. Preciso encher meu copo!!!"

 Eu já sabia, mas de maneira alguma diminuo a importância das contribuições de Regina pro meu autoconhecimento. Onze anos depois de conhecer ela conheci o trabalho de Brigite Vasaloo autora do livro "O Desafio Poliamoroso". Quem me apresentou foi um boy que eu fiquei alguma vezes numa viagem que fiz a Brasília (que vou chamar aqui de Poeta). Ele me recomendou o livro, mas acima de tudo ele trazia um debate muito sólido sobre poliamor, com percepções muito específicas e que estava muito calcado nas suas vivências, mas também na sua leitura/identificação com Vasaloo, o que me deixou tão curioso pra ler o livro que acabei comprando ainda quando estava lá. Eu me encantei muito pela leitura de mundo que o Poeta trazia, não só pq ele era lindo, generoso, inteligente etc etc etc... Mas pq ele também acendeu holofotes em outros corredores escuros que foram se criando com minha vivência com o poliamor em todos esses anos. Você deve está se perguntando o que de tão novo ele e Vasaloo traziam pra mim. 

Pois bem, o Poeta dizia que o que mais pegou ele no livro não foi as percepções dela da monogamia/poligamia, mas sobre como uma série de lógicas que são formadas e formadoras da monogamia influenciam nas relações não monogâmicas, fazendo com que a autora questionasse uma série de conduções de relações poliamorosas. O que pegava nesse livro não era sobre eles, era sobre nós. 

O Poeta trazia uma percepção das relações poliamoristas numa perspectiva de rede de apoio, tem um trecho do livro em que Brigitte fala sobre como as pessoas se questionam sobre questões frívolas da estrutura das relações não monogâmicas preocupando-se com coisas banais como quem vai sentar do lado de quem na cadeira do restaurante, mas sem ter nenhum questionamento sobre quem vai ser o acompanhante no hospital quando um adoecer. Brigitte parte de aspectos muito estruturantes para poder se embasar, reflete, por exemplo, sobre como o exclusivismo (a lógica que vc deve "pertencer" exclusivamente a um individuo) se constrói numa ideia muito mais ampla de que aquilo que não pertence a todos tem valor e isso é uma pedra angular do capital. A coisa deixa de ser valorizada pelo que efetivamente trás de benefício para o individuo, mas sobre o quanto os demais não podem ter, sobre o quão exclusivo aquilo é, um bom exemplo disso é o mercado de pedras preciosas. Diamante só vale o que vale pq é raro e a gente resolveu valorizar por isso, não é pelo benefício que ele pode trazer pra você. Por tanto, partindo do pré suposto, um parceiro que tem um sexo acessível para outros indivíduos, não tem nada de raro pra me entregar, não é exclusivo. Essa e muitas outras coisas me pegaram bastante, mas a coisa da rede de apoio me pegou mais, talvez por que eu tivesse vivido algo muito recentemente que vinha bem de encontro com o debate. 

Um ano antes disso acontecer o Calopsita (meu marido) conheceu um boy e ele começou a ficar muito próximo dele (vou chama-lo aqui de Sr Centro do Mundo, ou só Centro). Logo que ele me apresentou Centro me encantei, pq ele era um querido, um gostoso, bom demais de cama, valia cada segundo. Eles dois tinham uma puta conexão e eu começava a me entender com Centro. Nós passamos a virar um trio e eu meio que passei a tentar mediar um pouco a relação com o marido dele, pq sim ele era casado e esse debate do poliamor era bem rudimentar para eles. Identifico que muito da nossa aproximação com o marido dele foi em função exatamente dessa lógica da rede de apoio. Centro tinha graves questões de saúde mental, o que gerava problemas sérios, crises graves e o marido dele não tinha muito com quem contar, entendia que toda essa galera com quem ele tinha apenas relações fundamentadas em sexo, não chegavam junto pra nada nos momentos de fragilidade dele e foi nessa brecha que a gente entrou, foi entendendo que nós éramos apoio que ele começou a abrir essa porta. Daí que volta e meia ele ficava preocupado, mandava msg pra saber se Centro estava lá em casa e ficava tranquilo de saber que estava. Também houveram momentos de crise de Centro que ele nos ligou e nós prontamente corremos pra lá pra ajudar. Tudo corria bem quando em maio de 2023 ele nos pediu em namoro e nós aceitamos de pronto. A questão é que com muito pouco tempo as coisas entre eu e ele passaram a ficar mais nebulosas, eu viajava muito a trabalho, estava mais fora do que dentro, isso gerou uma aproximação forte entre ele e o meu marido, mas comigo além de haver menos afinidades, havia um incomodo meu em ter que estar sempre em volta dos problemas dele quando eu estava no meu pouco descanso em casa. Pq na minha leitura, quando estávamos com ele, tudo era sobre ele, sobre como o humor dele estava, sobre o quanto ele tinha que ser atendido para não desestabilizar e sobre o quanto toda precaução do mundo muitas vezes não era suficiente. Na contrapartida meu marido foi se sedimentando ainda mais como uma rede de apoio importante pra ele. Cada vez mais limitado, deixando de fazer coisas em função da sua saúde mental e precisando de companhia pra uma série de  coisas, Centro demandava e meu marido sempre estava lá pra segurar sua mão. Num determinado momento o marido dele deixou de trabalhar e dali pra frente ele passou a ter mais dificuldade de administrar esse tempo e se antes ele vivia lá em casa, ele começou a diminuir bem esse ritmo, mesmo morando há poucas quadras. Calopsita sentiu a falta, eu senti alívio! Até que um belo dia o meu marido teve uma apendicite, quem já teve sabe como tudo acontece mega rápido nesses casos. Numa sexta ele sentiu a dor, no sábado operou, domingo estava de alta, porém foi um período bem complicado, por que eu continuei trabalhando, tinha todos os cuidados de casa e ainda precisava ajuda-lo em coisas mínimas no pós operatório. A situação começou numa sexta, mas só na segunda, diante do total silêncio do Senhor Centro do Mundo que fui perguntar pro meu marido se ele soube do ocorrido e pasmem, ele contou que estava indo pro hospital sexta passando mal e o boy não perguntou mais nada depois. A situação gerou uma crise entre os dois, naquela altura dos acontecimentos eu já estava bem afastado dele, mas não aponto de deixar de falar. Pelo whatsapp o Senhor Cntro do Mundo reverteu a situação falando: "ah desculpa, eu não to bem e blá blá blá" e para a surpresa de zero pessoas o assunto começou a ser sobre ele novamente. No dia que ele foi lá em casa conversar com Calopsita, Centro mal me olhava, desconfio inclusive que ele achava que eu manipulei a narrativa, mas também não me preocupei em falar nada pq não tinha mais nenhuma intenção de reverter absolutamente nada com ele e achava que aquilo era sobre eles, porém a conversa com eles também  não foi pra lugar nenhum, pq claro que as questões de saúde mental também justificavam uma inabilidade social e uma incapacidade de discutir problemas. Dali pra frente foi ladeira morro a baixo. A conversa nunca veio, ele já não ia lá em casa nunca, pouco tempo depois separou do marido e foi pra casa da mãe, nós nos aproximamos, ajudamos inclusive na mudança, mas nenhum diálogo com ele... Calopsita começou a namorar outro cara, eu comecei a sair com outro garoto, mas nenhum diálogo com ele... A gente começou a se reaproximar numa lógica de amizade (embora a gente ainda se cumprimentasse se beijando), mas nenhum diálogo com ele... Cheguei até tentar transar um dia, mas foi total torta de climão que se sustentava num silêncio abissal, nenhum som... Nada. Quando recebemos a notícia que precisavamos mudar de cidade, começamos a viver esse luto, organizar a mudança e falamos com ele em torno de 3 semanas antes, ele teve uma relação meio que "ok" e nunca mais nos falamos. Meu marido hoje diz que nem gosta de ver as coisas dele no instagram e eu entendo, por que ele mergulhou fundo e terminou no vazio. 

O Poeta e Brigitte falavam comigo sobre como tantas vezes, numa perspectiva poliamorista, as pessoas criavam relações tão frágeis que muitas vezes ela não tinham se quer com o que terminar e isso me bateu muito. Fiquei pensando não só no que tinha acontecido com o Senhor Centro do Mundo, mas todas as zilhares de vezes que eu ocupei esse lugar. O meu autoconhecimento enquanto um homem poliamorista mudou bastante com o tempo, aliás não só o meu autoconhecimento, mas a minha dinâmica mesmo. Durante muito tempo me senti muito desconfortável com a ideia de que meu marido era obrigado a se adaptar o tempo inteiro as minhas demandas e que pra mim nunca parecia estar bom, é muito recente o meu entendimento de que na verdade relação aberta não é poliamor, que ela tem uma dinâmica muito parecida com a da monogamia e que não é que ele tivesse que se adaptar sempre, eu que vivi uma frankenstein de poliamor, fazendo uma série de pactuações que não me atendiam por que de fato não iam de encontro ao que funcionava pra mim. Todavia sinto que fim de tudo gerou em mim um módus operantes que fez com que por muitas vezes as pessoas com quem eu me relacionava ocupassem lugares quase que de amantes, eram como parênteses na minha história. Certa vez fiquei com um menino lindo, encantador e negro. De pouco a pouco ele foi se esquivando  de maneira que eu não conseguia se quer conversar com ele, mas a verdade é que eu já tinha entendido tudo e já que ele não me permitia aproximação escrevi um e-mail me desculpando e falando sobre as cicatrizes que um homem preto tantas vezes carrega pelos sub lugares que ocupa e que eu me achava o ás da modernidade, mas reproduzia padrões que historicamente colocava pessoas pretas como uma relação furtiva a ser escondida. Mais uma vez repito, eu já tinha debate sobre o fato de que muitas vezes o sujeito entra numa relação poliamorista como se tivesse entrando numa "não relação", as vezes a ponto de dizer que o fazia buscando "leveza", ignorando toda complexidade existente na dinâmica da manutenção de relações livres saudáveis, mas foi com o Poeta e com Vasaloo que parei para prestar atenção em pequenos nuances que eu reproduzia e que me colocavam no exato lugar que criticava. 

As novas reflexões me levaram a repensar uma outra relação, com um um boy que conheci numa viagem para Salvador, vivemos um romance meteórico e ao sair de lá ele foi taxativo em dizer que ele fazia seu destino e que não precisava haver um fim em função de uma distância geográfica. O baianinho é um querido com quem tenho muitas identificações de visão de mundo além de forte conexão sexual, mas um estilo de vida completamente distante do meu. Não se tratava apenas da distância geográfica, mas de muitas outras distâncias e todas as vezes que eu tentei apontar pra esse fato, tentei refletir com ele que por mais que a gente tivesse muito carinho um pelo outro talvez realmente não houvesse liga pra segurar uma relação ele era completamente relutante por questões que identifico serem muito dele, tinha muito a ver com o quão ele não se sente confortável em ocupar alguns dos lugares que nos distancia então talvez ele quisesse forçar uma narrativa onde coubesse sim, uma narrativa em que nem era tão distante assim ou pelo menos poderia deixar de ser, mas a verdade é que era e a coisa foi se esvaindo em silêncios e mais distância... Quando eu conheci a Vasaloo e comecei a pensar sobre essas coisas, tentei abordar, mas acho que talvez não tenha sido suficientemente posturado.

Quando estava deixando Rio das Ostras eu estava saindo com um garoto, pra esse deixei bem claro desde no início que não havia uma relação, ali não só eu já estava refletindo sobre tudo isso, como já sabia da eminência da mudança, mas olhando pra trás fico me perguntando até que ponto talvez eu não tenha dado sinais que iam em oposição a o que estava discursando pra depois colocar tudo na conta de uma interpretação equivocada dele. O Senhor Centro do Mundo foi uma ótima ilustração do que eu não queria e "o desafio poliamoroso" foi um passo importante para minha autopercepção e do quanto em muitos momentos eu me aproveito dos equívocos que as pessoas cometem quando pensam em poliamor para não enfrentar coisas que talvez não tenha coragem de enfrentar.

 Eu sou um homem poliamorista. Parceiros múltiplos sexuais são importante pra mim, afetos são importantes pra mim, cuidados são importantes pra mim, coerência é importante pra mim. Brigitte Vasaloo me fez olhar com atenção pra uma série de coisas importantes pra mim, que não quero  que sejam negligenciadas de mim e nem que sejam negligenciadas por mim.

24.9.24

Catita e a causa pet na vida do gato




Conheci Catita no segundo semestre de 2018, na ocasião eu morava num apartamento que tinha um estacionamento que ficava de frente pra ele e era aberto, ela era uma vira latinha de rua que ia pra lá dormir. Sua presença gerou meio que um paradoxo, pq ela era muito carinhosa e meiga e todo mundo do prédio colocava uma comidinha e água pra ela, mas ela tbm era infestada de pulgas e carrapatos e meio que rolou uma infestação no estacionamento. Daí o dono do lugar meio que ficava querendo tirar, mas ele mesmo sentia dó.

Todas as vezes que eu ia pegar meu carro ela vinha abanando a caldinha e se por ventura eu não passasse a mão na cabeça dela, ela chorava. Quando eu ia a padaria ou super mercado ela tbm vinha atrás de mim, a vezes chorava do meu lado, daí eu parava e fazia carinho e quando eu levantava ela chorava de novo. Precisava brigar pra ela não entrar nos estabelecimentos comerciais comigo.  Eu era míope pra muita coisa naquela época, mas a verdade era uma só, ela já tinha me escolhido. 

Naquela altura eu já tava bem afim de pegar ela pra mim, mas pensava nos gastos e em tudo que um animal de rua podia ter de doenças. Um belo dia eu estava em viagem e meu marido me manda um vídeo dela dizendo que achava que algo havia acontecido, a bichinha estava arrastando as pata de trás, fiquei perturbado, mas a noite mandou outro vídeo dela chorando tentando morder os mosquitos e sem conseguir sair do lugar. Ficou claro que aconteceu algum acidente com Catita e que ela ia morrer ali, com a gente assistindo, eu não aguentei.

Logo que cheguei enrolei ela num lençol velho, levei num veterinário amigo meu, entrei com a medicação de pulgas e carrapatos, marquei exames, dei um banho nela e levei pra minha casa. Após o raio x veio a confirmação que havia sido atropelada e a cirurgia não sairia a menos de 3000 reais. Eu não tinha o dinheiro e daí lancei uma campanha na internet, consegui levantar a grana, fiz um instagram pra ela e passei a documentar toda a recuperação.

Descobrimos que Catita já era velhinha, mais ou menos uns 08 anos e que provavelmente viveu na rua todos esse tempo, sendo uma resiliente mesmo, passando fome, frio e muita carência pq a bichinha era muito carinhosa. Em função da idade avançada o médico falou que a recuperação ia ser lenta, ensinou pra gente exercícios de fisioterapia. Todo dia descíamos com ela no colo e fazíamos. A recuperação foi realmente lenta  cada passinho era comemorado, aos pouco ela voltou a andar, depois com muita dificuldade começou a subir a escada, pelos cantinhos se escorando, um dia tomei um susto quando a vi em cima do sofá.

Ela já estava com a gente há mais ou menos 08 meses, vinha recuperando no tempinho dela quando começou uma tosse muito estranha, foi tudo muito rápido. Era verme do coração, Catita nos deixou, alguns meses depois da morte dos meus avós e eu não tenho adjetivo pra descrever pra vocês o tamanho do buraco. Eu durante toda minha infância tive cachorros, com vinte e poucos anos enterrei a ultima cachorrinha da minha infância, foi um golpe tão duro que prometi que nunca mais queria ter de novo, foi Catita que me reacendeu esse desejo novamente, com seu jeito meigo, seu olhar tão expressivo e com a generosidade com que me adotou.

Eu fui atravessado pra sempre por ela, passei a olhar pra causa dos animais de rua, antes eles realmente era invisíveis pra mim, hoje eu não posso ver um cachorrinho pela rua que não consigo pensar sobre o quanto esse bichinho está exposto e negligenciado, hoje carrego comigo o desejo de envelhecer num santuário pra animais resgatados, é um sonho mesmo. Também agarrei ranço de quem compra animal e milito contra a comercialização deles.  

Algum tempo depois conheci um protetor de animais, contei minha história pra ele que super me acolheu, um dia me ligou dizendo que um dos espaços que ele tinha pra seus bichos ficava num condomínio e ele estava sendo pressionado a retirar os animais, pediu pra ser lar temporário de uma cadelinha, mas ele foi bem safado e falou "estou mandando uma na maldade, ela é a cara de vocês". O bandido acertou em cheio, nunca mais devolvemos e foi assim que Laika entrou na nossas vidas.




Quando chegou era magrinha e com os pelos igual um ursinho arrepiado, mas nada que um bom trato não transformasse ela na princesa que ela virou. Segundo nosso amigo uma mulher levou ela pra castração pública dizendo que era da sua vizinha, que vivia largada  que uma hora ia aparecer cheia de filhotes. A mulher nunca mais voltou pra pegar.  Já tem 05 anos que Laika está com agente, ela é tão meiga, sossegadinha, medrosa, que eu fico me perguntando como esse bichinho vivia largado. Seja lá como for ela hoje tem uma família e um lar.

Durante muito tempo carreguei a culpa comigo e não ter buscado um veterinário pra Catita nos primeiro sinais, hoje eu entendo que ela veio pra minha vida pra abrir meus olhos e eu vim pra dela, pra garantir um pouquinho de alegria numa vida tão sofrida, ela foi muito amada e cuidada nos seus últimos meses. Na minha ignorância eu não deixava ela subir em cima da cama, deitar comigo e hoje Laika literalmente faz o que quer. Para um casal gay ter um animal como seu dependente em casa meio que acaba sendo a cereja do bolo na formação de uma família, nós somos melhores, mais unidos e nossa casa tem muito mais amor com  presença dela aqui e certamente nunca mais deixaremos de ter um animalzinho adotado com a gente e toda essa alegria eu devo ao meu anjinho, Catita.




21.9.24

Bela, recatada, chão de taco e do lar


 

Em 2016, logo após o golpe de estado  que retirou a presidenta democraticamente eleita, Dilma Rousseff, do poder a revista veja publicou uma matéria falando da nova primeira dama (esposa do golpista), Marcela Temer, que tinha como manchete a máxima "Bela, recatada e do lar". Na ocasião Marcela tinha 33 anos e seu marido 75, o que diz muito do modus operantes do homem e bem, das contradições da "tradicional família brasileira", do patriarcado  e etc etc etc...

Claro que geral caiu em cima, afinal com tanto avanço do debate feminista uma revista se propor a fazer uma matéria sobre uma primeira dama que parecia estar falando de uma dona de casa americana da década de 50 só podia gerar muita polêmica. A bem da verdade é que olhando pra trás isso foi apenas o começo de um mar de retrocesso que viria depois, que até hoje seguimos amargando. 

Feito a devida crítica a manchete escrota devo confessar que se pra uma primeira dama o título soa retrocesso, para uma gay jovem senhora de meia idade é a revolução, pq sim... Amo essa vibes "do lar". A parte do recatada talvez não tenha tanto alinhamento e do bela é uma questão de ponto de vista, mas do lar, eu amo e reivindico.

Durante muitos anos usei o pseudônimo aqui Gato Van e Kamp fazendo alusão a personagem da Bree Van de Kamp da instinta série desperate housewife, que era uma eximia dona de casa. Em 2010 adotei o apelido pq começava a me interessar por prenda domésticas e isso estava cada vez mais evidente na minha personalidade. Em 2014 fiz um post falando do quanto isso se sedimentou e eu realmente curtia muito. Em 2024 afirmo com toda certeza que virou um traço tão forte da minha personalidade que é comum nego reclamar que não tô mais colocando receita na minhas redes sociais.

A maior motivação pra eu escrever esse post é pq ando considerando abrir um canal pra divulgar achadinhos da shopee e que embora minha predileção seja itens de cozinha, eu tbm adoro comprar e conhecer novos produtos de limpeza, compra roupa de cama, arrumar mesa e por aí vai..

Claro que tudo isso com um toque chão de taquer, pq se vc me perguntar o melhor life stile pra se existir no planeta eu certamente vou falar que é a gay chão de taco, com eu apartamento de chão de taco num centro de um grande centro, cheia de plantas, seus gatos, vinis e frequentando suas cafeterias , teatro, exposições e afins. Vivo a frustração de nunca ter morado no centro de um grande centro (isso é um papo pra um outro post), mas atendo vários requisitos: Casa lotada de planta, pai de pet, amante de cafeterias e por aí vai... No fim da história ela faz a pinup dela e assim seguiu sendo esse hibrido de Marcela Temer e Rogéria, pq sim, equilíbrio é tudo.






15.9.24

Um Gostoso

 Ontem teve Imagens Dragon no Rock in Rio e a gente pode ver mais uma vez 1,93 de macho gotoso, suado, talentosos, inteligente e tudo maais que é Dan Reynolds. Ele sacudiu bandeira do Brasil, ele sacudiu bandeira LGBTQUIAPN+, ele sacudiu meu óvulos... Olha... Que macho!




Aí alguém pode me falar: "ain gato, vc fic aqui pagando pau pra homem branco e europeu e... "

Cale a boca agora, militante! e veja as imagens abaixo agora!



É gotoso sim e que ninguém mais venha interromper minha pagação de pau, porra!
Deus meu!




Aí a moda....

 



Hei que essa semana uma amiga me mandou um trecho de "Paradise" novo single da Anitta que tá pra sair. A música conta com a participação do DJ Khaleb e do rapper Fat Joe. Eu assistindo o clipe achei engraçado o fato do Fat Joe tá usando um lenço na cabeça igual uma mãe da praça de maio.

Faat Joe a direita de Anitta


As Mães da Praça de Maio


Achei exótico, mas enfim, cada doido coma  tua mania. Porém, estava eu zapeando a internet e hei que me deparo com a notícia que João Guilherme resolveu ir ao Rock in rio com o look camponesa.


João Guilherme  RIR 2024


Daí comecei a pensar: "Meu Deus, tem uma tendência vindo aí", jogo no google "look camponesa" e  descubro que Sabrina Satto e Bruna Gonçalves também foram de camponesa.




Brunna Gonçalves RIR 2024

Sabrina Satto  RIR 2024


Enxerguei uma tendência se formando em baixo dos meus olhos e eu não tenho maturidade pra lidar com esse monstro. Eu tô melhorando, eu tô buscando evoluir, eu tô procurando não fazer críticas ao corpo as pessoas, ao estilo das pessoas, mas na hora que eu for pra rua e ver um boyinho com o look camponesa, terei que ser forte para não rir... Eu sei que a falha é minha, que eu preciso melhorar, mas a moda não me ajuda... A Balenciaga não me ajuda, João Guilherme não me ajuda.

Procurando mais sobre isso eu vi que a bota que João Guilherme tava usando uma bota de 14K... Uma bota horrorosa. Uma bota igual um mascote de filme de terror, uma fantasia de ursinho de Salent Hill

Bota de 14k de João Guilherme

Fantasia de Ursinho Sinistro da Shopee




Eu não tô pronto pra isso, já tem algum tempo que tudo que tá em alta me parece meio ruim, agora é me treinar pra ser um coroinha educadinho em vez de ficar ridicularizando o outros! Deus me dê força.



E pensar que tudo isso começou com você!






13.9.24

RPG de Mesa



Se você procurar na internet uma definição sobre o que é RPG de mesa, sempre vai encontrar uma resposta meio mecânica, mas eficiente... Então eu vou partir da definição que chat GPT me deu pra começar essa conversa:

"RPG de mesa, ou Role-Playing Game, é um jogo em que os participantes criam e interpretam personagens fictícios dentro de um cenário e narrativa previamente definidos. Diferente de outros tipos de jogos, o RPG de mesa é colaborativo, sem um objetivo final fixo, e sua principal característica é a liberdade de ação e a criatividade dos jogadores."

É isso, nesta dinâmica você vai ter a figura do mestre do jogo, ele cria a trama principal e cria todos os personagens secundários (que são todos aqueles que não são vividos pelos jogadores, sejam eles aliados, inimigos ou neutros). Também temos os jogadores, que precisam construir um personagem, tanto montar sua história como criar uma ficha que vai definir suas habilidades. Partindo disso o mestre vai criar as situações e os personagens devem descrever suas ações, interagir entre si e com os personagens do mestre e etc.

As ações são sempre balizadas por dados, desta forma quando uma pessoa diz que vai fazer uma ação o mestre vai pedir pra que ele faça uma rolagem de dado que vai avaliar se ele teve sucesso ou não nas suas intenções. 

Dentro desse universo existem diversos jogos, eles te dão os elementos necessários pra vc jogar, alguns vão ter recursos como miniaturas, tabuleiro e afins, mas o básico que vai ter em todos é ficha, dados e livros. Um livro de RPG vai te dar duas dimensões importantes: O sistema e o universo.

O sistema são as regras do jogo, ele vai descrever em quais circunstâncias os dados devem ser rolados, quando vai haver um sucesso, um fracasso e suas consequências. Já o universo é o mundo em que aquela trama se passa. Pode ser uma história medieval, uma história de heróis, um mundo distópico pós apocalíptico e etc.

Tem RPG de tudo, de absolutamente tudo. O mais popular no Brasil e no mundo é o Dungeons & Dragons” (D&D). Ele tá meio que na origem da coisa, O RPG de mesa tem suas raízes em jogos de guerra ( wargames) do início do século XX, onde os jogadores simulavam batalhas militares usando miniaturas e regras construídas. O grande ponto de transição para o RPG ocorreu em 1974 com a criação de D&D por Gary Gygax e Dave Arneson. “Dungeons & Dragons” incorpora elementos de fantasia e narração, permitindo que os jogadores assumam o papel de personagens em aventuras imaginárias, em vez de apenas comandar exércitos.

A partir daí, o RPG de mesa se expandiu rapidamente, inspirando a criação de muitos outros sistemas e cenários, como “Chamado de Cthulhu”, “Vampiro: A Máscara”, “Shadowrun”, entre outros. O RPG se tornou um personagem cultural, sendo adotado em vários países e comunidades ao redor do mundo, ganhando popularidade especialmente nos anos 80 e 90.

A cena mudou bastante com a popularização e  avanço dos jogos eletrônicos, não sei precisar em termos de números, mas certamente joga-se muito mais RPG por game do que o de mesa. Por mais que os games tenham avançado bastante nas suas simulações da realidade é tipo comparar livro com filme, a imaginação humana sempre será uma fonte infinitamente mais ampla de muitas possibilidades.

A dinâmica do D&D cabe bem no universo game, por que em geral ele é mais objetivo nas suas missões, outros já tem mais complexidade. Eu comecei a jogar em sistemas adaptados (aliás acho um ótimo começo). Sistemas adaptados são sistemas simplificados, com menos regras e engessamento. Em geral são mais simples, então eu jogava em sistemas similares com a dinâmica do D&D, mas bem interpretativo. Em 2018 comecei a jogar Vampiro a Máscara e desde então não parei mais. Na verdade minha relação com RPG tá diretamente ligado ao meu casamento, meu marido é um jogador veterano, orgânico, desde a adolescência. Quando casei com ele, ele veio morar comigo há mais de 700kms da sua cidade e sempre dizia "será que nunca mais vou jogar RPG?". Eu ficava com muita dó e foi assim que resolvi aprender pra poder tentar arrumar pelo menos mais um jogador e poder proporcionar isso a ele, desta forma eu fui bem atípico, pq diferente da grande maioria dos jogadores eu comecei a jogar com quase 30 anos.

A partir de então a gente passou por três grandes fases. Nosso primeiro grupo com mais dois amigos que fizemos em jogo e mais alguns que foram se incorporando, uma espécie de interlúdio que passamos quando mudamos de cidade e ficamos um tempo curto jogando com uns jogadores de D&D e depois com alguns amigos da faculdade dele, com quem jogamos até hj mesmo todo mundo estando em cidades diferentes. Depois da pandemia passamos a jogar on line e outros jogadores de outros lugares foram se incorporando a esse grupo. Nele rolam várias mesas, quase todos os jogadores narram alguma dentro do universo de Vampiro.

Vampiro a máscara é o jogo mais conhecido da série "World of Darkness" (Mundo das Trevas), um universo de RPGs que explora temas de terror gótico, drama pessoal, intrigas políticas e dilemas morais.  origem de "Vampiro: A Máscara" remonta à década de 1990, quando Mark Rein-Hagen, um dos fundadores da White Wolf Publishing, decidiu criar um RPG que fosse diferente dos jogos de fantasia medieval tradicionais. Ele queria um jogo que explorasse temas mais adultos, emocionais e sombrios, e que oferecesse aos jogadores a chance de interpretar personagens complexos e moralmente ambíguos. Eu costumo brincar que D&D é o ensino médio do RPG e Vampiro a Máscara a faculdade. É um jogo que te coloca diante de conflitos morais diversas vezes, te deixa cheio de dúvidas e tendo que buscar estratégias para solucionar problemas complexos. Inclusive é um bom hobbie pra você falar que tem em entrevistas de emprego, exatamente pelas muitas possibilidades de aprendizagem de forma interativa que vc tem, já aprendi boas lições com RPG.  Aliás ver jogador de RPGs conversando é no mínimo engraçado, você vai ouvir coisas do tipo: "Lembra daquela vez que a gente invadiu o castelo daquele dragão ancião", "lembra quando fulano tentou fazer aquela magia e despertou um demônio ancestral" etc etc etc...

Atualmente o Mundo das Treva estão lançando a sua quinta edição... E o que isso quer dizer? Quer dizer que eles estão relançando o jogo com mudanças no sistema e no universo. Há alterações nas regras do jogo e se o último contava as histórias dos seres das trevas até final da década de 90 agora avançamos até o final da década de 2000.  Uma nova edição de um RPG não diz apenas do lançamento de um livro, mas de uma coleção inteira. Tem o livro base que vai te dar o básico pra jogar, mas tem uma série de suplementos que vai te aprofundar em determinados aspectos daquele universo. No Mundo das trevas há livro base e suplementos de várias criaturas, o que tem mais complemento é vampiro, mas a editora também lançou de caçadores, lobisomens e já estão produzindo de magos. E como mercado editorial se mantém com livros em 2024? Gerando engajamento, colecionadores, fãs... Os livros são verdadeiras obras de arte e uma grana cada um deles, mas eles são lançandos devagar e a gente vai comprando devagarzinho, aqui em casa já tem uns três anos que os presentes de aniversário, natal, dia dos namorados, tudo tem sido livros de RPG e querem saber? Ficam bem lindos na minha estante. 

Pra tentar dividir um pouco dessas sensações com você que está me lendo vou contar um pouco sobre aqueles que classifico como os 4 principais personagens que joguei até hoje, conheçam os meus meninos:


                                  Galatéa Zenon 2012- 2014

Esse período é aproximado, na verdade Galatéa foi minha primeira personagem e foi com a galera da nossa primeira mesa. Os anos foram mais ou menos esses, eu n sei com exatidão, a gente foi e  voltou nesse RPG algumas vezes. Tratava-se de um sistema adaptado de D&D, Galatéa era uma anti-heroína, mas posso dizer que manteve-se assim por que tinha uma boa relação com os outros personagens da mesa, mantendo o espirito de equipe, do contrários seria uma vilã mesmo. 

Naquele universo mítico haviam quatro reinos que se destacavam, três de um hemisfério ao norte rico e um quarto no sul emergente, mais pobre que os outros três, mas muito mais rico que seus vizinhos, fazendo com que ele fosse crucial para as políticas expansionistas do reino principal. Galatéa torna-se rainha desse reino do sul e era uma espécie de "ditadora carismática". A grande mãe do sul, rainha dos apátridas, guerreira de Zeus, vários títulos que atribuía a si. Temida por aliados e inimigos só tinha uma pessoa que segurava bem sua onda, Richard Gutemberg, personagem de outro jogador que era exatamente o oposto dela, era um Paladino, um soldado disciplinado e virtuoso. Richard e Galatéa foram parceiros em muitas aventuras e ele fazia certa vista grossa pros seus métodos... Digamos.. Controverso, como ter uma sala de tortura em seu castelo, por exemplo. Outro jogador colocou o carinhoso apelido de GalaTrevas. Vilã ou não, ela era bastante carismática e tudo passava com certa leveza.

                          Logan 2019 - 2020

Logan foi meu segundo personagem no universo de mundo das trevas no polêmico "Demônio a Queda". Lembra quando eu falei que existiam diversos seres no mundo das trevas? Vampiros, caçadores, magos e e lobisomens são meio que os básicos, mas também existe suplementos para para seres como múmias, fadas e demônios. Sem menor dúvida demônios são o mais polêmicos deles e não vai haver versão dele na quinta edição, mas no grande vale tudo da década de 90 rolou e digo mais, nessa narrativa demônios são anjos que se rebelaram contra a Deus por amor a humanidade, logo us era meio que o vilão, fazia muita alusão a esse Deus maluco e vingativo do velho testamento.  Na verdade a polêmica nem para por aí, um demônio para voltar do abismo precisa de um hospedeiro e esse hospedeiro precisa ser alguém que está mal, que de alguma forma não valoriza a vida e por aí vai.

Mas falando do Logan ele foi o primeiro personagem tanque que peguei (aquele cara que é o porradeiro, brutamontes mesmo) e eu amei a experiência. Ele tinha uma humana (Janine) que era uma amiga, alguém que ele pegou pra proteger e que de algum forma dava sentido a vida dele, Logan fazia tudo para proteger Janine, que era uma personagem super carismática que todos os jogadores amavam. Infelizmente es RPG durou apenas uma temporada. Foi uma mesa bastante diversificada de jogadores, curtinha, mas que me marcou bastante. 

                                                                                      Aisha Monforte Al-Abad 2021-2023

Aisha foi minha personagem numa versão da 3ª edição de vampiro a máscara chamada idade das trevas, voltada pra quem quer jogar vampiro na idade média. A ideia era que nós jogaríamos com nossos personagens numa trama que começaria em 1.300 e iria até os dias atuais, nesses momentos nosso personagens estariam muito fortes, daí eles se tornariam personagens do mestre nós faríamos novos personagens (já da quinta edição, por que quando começamos o dark ages ela só estava anunciada no Brasil) e nossos personagens seriam NPCs. Todavia o jogo foi até mais ou menos 1750, depois disso a trama já estava insuportável e os personagens terminariam se matando. Aisha foi a personagem que joguei por mais tempo, era a mais densa e de longe a mais difícil. Tal como Galatéa eu a fiz pra ser uma ante heroína, mas num universo tão denso e complexo como o mundo das trevas, de um ante herói para um vilão é um pulo. E olha que Aisha nem cometia erro tão graves, mas ao contrário da minha primogênita ela se virou contra os membros da mesa, virou antagonista na história e chegou a matar uma personagem. Só quem joga sabe o que significa vc investir três anos num personagem e ele ser morto, eu nunca perdi um personagem e nunca tinha matado o de ninguém, foi beeeeem pesado. Se ela mereceu? Certamente, todas elas pra quem Aisha se virou mereciam, mas o jogo realmente foi ficando muito pesado, as jogadas todas sendo feitas separadas, tava ficando bem chato e com uma jogadora a menos, com as outras querendo se matar e com mais de um ano da quinta edição lançada no Brasil o mestre resolveu encerrar a mesa e pular pra atualidade. Aisha era uma personagem que tinha consigo apenas uma certeza: "Não interessa quem iria ganhar a guerra, essa pessoa seria quem ela estaria do lado do final". Ela não tinha nenhuma ambição por poder, mas por decidir quem seriam as pessoas que estariam no lugar de poder. Cínica, manipuladora e sorrateira foi sem a menor sombra de dúvida a maior vilão que eu já interpretei. 

       Rick Cruz 2024 até o momento dessa publicação

Depois de 03 anos com Aisha eu precisava de sombra  água fresca e foi nessa pegada que nasceu Rick. Ele é um personagem de Vampiro a Máscara da quinta edição, que tem bastante dotes físicos, mas que não chega a ser o Logan, na verdade ele é acima de tudo um investigador. Além de ser um bom hacker tem várias habilidades de um bom detetive e tá entregando isso com força. Ele é apegado ao grupo, o defende com convicção e está sempre disposto a cooperar com seus parceiros, mesmo que tenha de por a vida em risco. Sua história era pra fazer dele um garoto mais descolado, mas na distribuição dos pontos na ficha sobrou pouco ponto pra carisma me fazendo interpretar mais um nerdão meio lobo solitário, mas ainda sim muito prestativo e disposto a somar.  Numa história ambientada em SP, fiz questão de fazer do Rick um personagem cheio de brasilidade.... Essa era a ideia: Gente boa e a cara do Brasil. 





Ficou curioso? Quer conhecer mais? Chama aê, até hoje jogamos on line você pode ouvir uma das nossas sessões caso deseje. Te garanto que RPG é um universo que vale toda dedicação, capaz de te gerar lazer de qualidade, boas risadas, historias pra contar e aprendizagem com prazer, como todo processo de aprendizagem deveria ser. 


 

12.9.24

Toda Babada XVII - Marina Senna e Juliano Floss



Calma minha gente, mamãe continua bicha, bichérrima, bicherrerééééésima... Todavia, Marina teve que ser a primeira mulher a ocupar o quadro em 17 edições por esse casal exala sensualidade.

Eu acho que de fato ela mantém uma energia bastante sensual... Manhosa... Charmosa! E ele é tão gostosinho... Assim, muito bebê ainda, mas como diria Inês, passou dos 18 anos eu tô fazendo amor e aí não dá pra negar que é um delicinha, eu faria lindamente.

E você não? Fala pra mamãe!

Juntos, os dois! Aí é absurdo, amor! Aí é papo de apocalipse mesmo! Eles publicaram umas fotos em julho que super repercutiram por serem cheias de etilo e sensualidade e são essas que vou compartilhar aqui, por que foi onde o casal realmente terminou de ganhar meu coração.


É, amor! É iso!









"Eu já deitei pro teu sorriso só você não sabe"

10.9.24

O Poliamor em 2024




Quando eu cheguei aqui era tudo mato, mas felizmente avançamos! Num avanço que foi importante pra mim não só pela via do social, pela abertura e aceitação as pessoas, mas importante pela via do meu autoconhecimento.

Volta e meia tento resgatar quando foi que eu soube que existia a possibilidade da vivência de uma relação não monogâmica. Sempre uso 2013 como marco, pq foi nesse momento que conheci a expressão poliamor, é um marco no sentido de que ter percebido a possibilidade enquanto uma instituição mesmo, um modelo que estava em vigência, que podia ser levado a sério de alguma forma, mas existe uma "pré história" anterior a isso.

Se eu for caçar lá na arte rupestre dessa história vou me lembrar que na adolescência eu dizia que queria muito um namoro a três, pq era um número ímpar e a decisões poderiam ser tomadas de uma forma democrática. Vou lembrar também que eu dizia que queria ser como a Gretchen ou Fábio Júnior e casar diversas vezes, por que a ideia de um único parceiro para o resto da vida me soava extremamente enfadonha, vou lembrar que escrevi aqui em 2009 um texto neste blog com o título "o amor é o sentimento e o blues da piedade é a trilha" onde eu falava de um desconforto enorme de sentir que me enquadrava em um modelo de relação que valorizava coisas pequenas, se agarrando em fidelidade, em vez de priorizar o que fato é fundamental. Esse texto é a prova mais cabal que sim, eu já era esse ponto fora da curva e sabia disso.

Porém eu, como muitos outros, fiz um caminho pro poliamor muito protestando pela minha liberdade sexual e esse caminho é cheio de demonizações e culpas. Passei anos da minha vida entendendo que era o "torto" e que estar comigo era um sacrifício enorme pro meu marido se adaptar, mesmo percebendo que ele sempre desfrutou muito bem das liberdades do poliamor. Todavia ainda sim carregava comigo um sentimento de que no fundo eu era só um homem promiscuo buscando uma narrativa para encobrir minha promiscuidade.

Quando falo em liberdades nem estou falando só da liberdade sexual, mas por exemplo, quando a gente ainda namorava a distância certa vez ele veio lamentar comigo que queria ir a parada gay da sua cidade e que ele não iria por que não queria que eu frequentasse certos lugares e ouviu de mim: "Eu acho que vc deve ir, pq eu n deixaria de ir a nenhum lugar pelo simples fato de você não gostar"... Pois bem, ele foi! A monogamia parte de uma premissa básica de que você não pode se envolver afetiva ou sexualmente com outra pessoa, desse ponto em diante existem uma série de pessoas, lugares, roupas, comportamentos e relações que não cabem pra alguém comprometido e aí essa pessoa que tá do seu lado se coloca na posição de gerenciar essas "gatilhos para traição". Através do ciúme a vida vai se tornando um campo minado e nesse jogo a grande maioria das relações terminam ou por infidelidade ou pelo medo de que ela aconteça. Eliminar essa premissa da equação gera um série de vantagens em termos de liberdade, identidade e autonomia, que não necessariamente tem uma ligação direta com sexo.

Regina Navarro Lins
Mas voltando a 2013 no momento em que li Regina Navarro Lins! Regina é uma picanalista e escritora que figurava vários programas de rádio e  televisão na época, inclusive a bancada do "Amor  Sexo" da Fernanda Lima e já tinha o best seller  "A cama na varanda" naquela época. O primeiro livro dela que li foi "O Livro o Amor" que eram dois volumes contando como o amor e o sexo foram mudando de perspectiva da pré-história até o dias atuais. Foi ali que vi a primeira vez a expressão poliamor enquanto uma possibilite factível, defensível, que conversava com um projeto de vida e não apenas com a possibilidade de fazer sexo com quem eu quisesse. Depois disso assisti a série "Amores Livres" na GNT que foi bem importante pra mim e algum tempo mais tarde a Regina lançou o "Novas Formas de Amar" que falava exclusivamente do tema.


Paralelo a uma.. Digamos "consciência teórica" da coisa eu ia vivendo a minha história com o poliamor quando abrimos nossa relação em 2013. Foi muito legal e importante pra mim, mas a gente foi amadurecendo isso junto enquanto casal, mas sob perspectivas ainda muito diferentes.  Na época vivíamos uma relação aberta, que  eu achava que era poliamor e hoje vejo claramente que não era. Só podíamos sair com outras pessoas juntos e nem sempre era fácil, a dinâmica era a mesma, eu ficava nos aplicativos com um perfil de casal, dialogando e buscando gente que estivesse afim e ele decidia se queria ou não. Essa dinâmica funcionou muito e atendia muito os meus desejos com relação a sexo, mas era extremamente problemática. Meu marido se colocava numa posição de definir quem eram os nossos parceiro e consequentemente os meus, numa dinâmica muito similar ao da monogamia, ele gerenciava meu corpo e meus afetos, de pouco a pouco aquilo foi realmente se tornando insuficiente pra mim.

Vivemos uma longa crise que teve seu estopim no fim de 2016, mas que levou um bom tempo pra chegar num meio de caminho, que ainda sim era problemático. Em 2017 negociamos a possibilidade de ficar com pessoas sozinhos, era um avanço, mas ainda não me era suficiente. Pq pra mim sempre soou fake o pacto de que eu não vou me apaixonar, eu não vou me envolver. Talvez você que esteja lendo considere que eu queria demais e nunca estava satisfeito, mas na verdade, mesmo sem entender com clareza o que eu sempre quis foi de fato uma relação poliamorista. No fundo eu entendo que NINGUÉM, absolutamente ninguém pode efetivamente pactuar que nunca mais vai se apaixonar de novo, os monogâmicos fazem esse acordo, mas obviamente muitas vezes fracassam miseravelmente neste pacto.

Só em 2022 que meu parceiro resolveu tentar efetivamente seguir nesse modelo, de lá pra cá "namoramos" um boy (coloco entre aspas por que a formalização da relação aconteceu, mas acho que nunca fomos um trisal efetivamente, apenas ele e meu marido), atualmente meu marido namora um cara e eu tava meio que saindo com outro e nós quatro ficamos meio que amigos, fazendo vários rolês juntos (aé mudarmos de cidade). Sempre que falo sobre isso as pessoas fazem mil perguntas como se fosse muito complicado, mas a bem da verdade é que é muito mais fácil viver do que explicar. 


Onze anos depois da minha incursão acho que o debate está mais aberto e n só enquanto sociedade

Geni Nunes
avançamos. No campo do teórico surgem na cena figuras como Geni Nunes e Brigitte Marsalo trazendo uma perspectiva do poliamor muito mais social e afetiva de fato, enxergando o amor pela ótica do cuidado mútuo, das redes de apoio e cooperação. Poliamor não tem só a ver com quantas pessoas vc vai fazer sexo, mas tem a ver com quantas pessoas efetivamente vc vai poder contar quando adoecer, por exemplo. 


Eu tenho uma prima que tá ficando com dois caras poliamoristas, ambos deram pra ela de presente o "Decolonizando Afetos" da Geni, na festa de aniversário dela desse ano, ambos estavam lá, ele e toda nossa família. Não que todo mundo soubesse o que tava rolando, mas bastante gente sabia. No meu trabalho falo abertamente sobre o fato de viver uma relação poliamorista, falo abertamente sobre "o namorado do meu marido". Todos esses cenários são cenários possíveis para 2024 e nem de longe eram um cenário em 2013. Lembro que na época um amigo me disse entender meus pontos, mas que a sociedade não estava pronta pra isso. Eu cresci na sociedade que não estava pronta pra ver o beijo gay na novela das oito, minha vida é hoje, não vou estar daqui há 200 anos pra performar o etilo de vida que preciso pra ser feliz, então sigo com meu facão desmatando todo esse matagal e feliz por ser persistente no mundo melhor que acredito. 


 

8.9.24

Sobre amor, racismo e redes de apoio!

 

Eu acredito no amor e sei lá que tom essa frase pode ter em 2024, quando eu era mais novo acho que teria um tom cafona, hoje acho que soa apenas inocente, mas realmente acredito. Todavia acho importante deixar claro que acredito no amor numa perspectiva Paulo Freiriana, não tô falando do amor romântico fortemente construído pela cultura de massa, esse amor que sustenta o patriarcado, o machismo e várias outras opressões. Eu estou falando sobre o amor que motiva pessoas, enaltece, que faz com que gente que se ama se apoie e avance, cresçam enquanto pessoas, tô falando do amor que Paulo Freire apresenta com tanta habilidade na pedagogia do amor, do amor que me faz pensar no sentido da vida mesmo, que me faz entender que estamos aqui pelo laços que construímos.

Talvez acreditar nisso tenha a ver comigo viver uma história de amor há pelo menos 15 anos, tempo pra bastante coisa. E como uma história de amor, ancorada na realidade, esse sentimento não se manteve intacto de uma forma horizontal desde o primeiro dia, claro que não. Existem momento de dúvida, de questionamentos... Houveram vários momentos que eu me perguntei "será que é isso mesmo?", mas por uma série de bons motivo, bem palpáveis e materiais, já faz um bom tempo que eu tenho absoluta certeza que é. Um deles é o mais proeminente e é o que vou compartilhar aqui com vocês.

Quando conheci meu marido ele trabalhava num call center. O boy vem de uma família humilde a mãe uma mulher negra retinta que estou apenas até o primário, trabalhou e trabalha até hoje como empregada doméstica. Em alguns momentos com faxina, outros como babá e já tem alguns ano como cuidadora de idosos, mas sempre na esfera doméstica. Ele terminou o ensino médio fazendo EJA numa escola pública, logo que terminou trabalhou alguns meses numa fábrica de refrigerantes, até cair num call center. Quando me conheceu, após um ano e meio namorando a distância optou por vir morar onde eu trabalhava e foi trabalhar na boate de um amigo. Na época eu n tinha a menor ideia de que eu estava casando, achava que ele vivia de uma forma tão desassistida pela sua família que perto de mim talvez vivesse melhor, hoje com a cabeça que tenho entendo a  dimensão do passo que estava sendo dado e se entendesse na época certamente não daria, ainda bem que não entendia. 

Ele não levou muito tempo na boate, logo depois foi pra call center de novo, trabalhou como vigia e seguiu em outros sub empregos, certa vez numa visita da sua família aqui falou pra sua cunhada que queria fazer faculdade por que todo mundo na minha família tinha faculdade, ela perguntou sobre os meus amigos e ele respondeu "todos em volta dele tem faculdade", então ela disse que ele deveria fazer mesmo.

Eu nunca coloquei essa pressão, acho que faculdade é daquele tipo de coisa que dá muito mais valor quem não tem. Eu acho importante o sujeito se tornar um adulto funcional, alguém que é capaz minimamente de cuidar de si mesmo e do espaço em que vive. Nesse pacote inclui você se sustentar, do básico até seus pequenos luxos. Sustentar-se tem a ver com monetizar, mas monetizar não significa necessariamente ter ensino superior. Não que eu não valorize a educação e não ache um caminho importante das possibilidades de ascensão de um menino pobre, mas também sei que há muito fetiche em cima disso e que ter um faculdade não é sinônimo de sucesso, tá cheio de gente que tem uma faculdade e que não deu certo na sua vida profissional e cheio de gente que não tem e deu, há outros fatores. Porém isso é o que eu penso, não era o que ele pensava ou valorizava naquele momento e ele fez o que ele quis.

Partiu tudo dele, entrou num pré vestibular social, estudou um ano, passou no vestibular e viveu o desafio de, enquanto um rapaz pobre, começar uma faculdade pública e integral com 25 anos, ou seja, ele teria que parar de trabalhar. A mãe trabalhava como babá em tempo integral de sexta a domingo, passou a pegar uma faxina  em dias de quarta pra mandar um dinheiro pra ele, o pai também mandava, eu sustentava as contas da casa e assim fomos levando. Cinco anos é tempo pra muita coisa, foram várias reviravoltas financeiras que me fez em muitos momento pensar que ele teria de trancar, mas fomos até o fim.

Eu não sei se você que está me lendo já viveu a experiência de tentar falar pra um menino pobre, negro e periférico que um espaço tão elitizado como é a universidade pública também pertence  ele. Não é fácil, existe uma coisa chamada "síndrome do escravo", quando vc é criado sendo apresentando a um único horizonte, sem nenhuma referencia diferente pra se espelhar o caminho normal é você entender que é o que te resta. Você pode até se imaginar "Doutor", mas você imagina igual a gente fica imaginando o que faria se ganhasse na loto... É um lugar bem distante! Acho que foi a partir de mim que ele teve uma referência e todos se juntaram numa força tarefa pra faze-lo a primeira pessoa com ensino superior da sua família.

É importante destacar que eu não venho de uma família rica, eu também fui um menino pobre, preto e periférico, porém eu venho de uma família de classe média e sobretudo de uma família de educadores. Muitas professoras que valorizavam e apostavam na educação, o que me fez estudar nas escolas mais caras da minha cidade, sempre com muito sacrifício, eu convivia no meu bairro com menino como eu e na escola com pessoas de outras realidades. Ainda que eles fossem diferentes de mim em muitos aspectos, imbuído nessa realidade eu segui todo protocolo educacional, nunca tive dúvida que faria uma faculdade. O curso que eu queria não havia pública na minha cidade e minha família não teria grana pra me manter numa capital, na época eu e minha mãe entendemos que o melhor era eu fazer uma particular aqui e ela se comprometeu que daqui, até eu terminar meu ensino superior eu não precisaria trabalhar, podendo me dedicar completamente aos meus estudos, como de fato eu fiz.  Meu pais dividiam a prestação da faculdade, eu morava com os meus avós que ajudavam com as minhas despesas e fui assim até o fim. 

Quando entrou na faculdade pública o meu marido me incentivava a retornar a estudar, a tentar um mestrado, um doutorado, ele dizia que aquele ambiente tinha tudo a ver comigo, mas eu tinha certeza que não era pra mim. Basicamente por que desde que me formei, pra ter o mínimo eu sempre trabalhei muito. Dois, as vezes três empregos, como conseguiria suportar a rebordose de uma universidade pública? Ele terminou a faculdade dele em 2020, pandemia, tava complicado trabalhar, algum tempo depois ingressou no mestrado, muito em função da bolsa. No fim de 22 eu perdi um emprego e foi nessa deixa que ele me incentivou a tentar fazer um mestrado profissional. Ele estudou inglês comigo, me ajudou a olhar o currículo dos professores, me orientou como fazer um pré projeto... Eu passei. 

De lá pra cá tem sido só pedrada, conciliar a faculdade e dois empregos em cidades diferentes, tava pesado. Meu carro velho, deu vários problemas, perdi aulas importantes, achei que perderia semestre, meu pai pagou um concerto caro uma vez, minha mãe me ajudou a trocar de carro no meio do processor. Luta... Luta atrás de luta.

Dentro da faculdade eu descobri que ele não estava errado quando achava que a faculdade não era pra ele, nem eu estava errado quando achava que não era pra mim. Não é mesmo! A universidade pública, os ensinos superiores e de pós graduação, não são feitos para pessoas de origem preta e periférica, o que faz com que nós nos mantenhamos lá é o amor de quem quer que a gente cresça. Minha mãe, meu pai, meu marido, os pais dele, meus avós, nossos amigos, sem eles seriam impossível. E é por isso que eu acredito no amor, no amor revolucionário de Paulo Freire, no amor que é tão grande, mas tão grande que rompe a barreira monstruosa do racismo estrutural e a crueldade da diferença de classe desse país. É isso que eu chamo de amor, quando eu digo todos dias "eu te amo" para o meu marido. 

Trevante Rhodes e André Holland em “Moonlight.” (Imagem: Cena do Filme/ Reprodução)



2.9.24

O Mestrado Profissional e a Fake News nossa de cada dia.




 Quando eu resolvi entrar no mestrado profissional foi meio que nu período de recuo na minha vida. Em geral eu tenho meu tempo muito ocupado trabalhando em vários empregos, na ocasião meu marido me colocou uma pilha (ele sempre me estimulou nesse sentido, próximo post vai ser esse tema), considerando que eu teria um pouco mais de tempo.

Diferente do mestrado acadêmico o mestrado profissional não prevê bolsa (é possível, mas não é usual), não exige exclusividade, é mais voltado para o trabalho e é mais flexível, já que as aulas são ministradas pra pessoas que tem outras atividades.  

Parecia ideal pra mim, com mais de 15 anos de formado sem nunca mais ter voltado a academia, no máximo fazendo um curso aqui e uma capacitação ali, a possibilidade de fazer um mestrado na UFRJ me encheu os olhos. E pra mim que venho de universidade particular, sempre pareceu distante e surreal conseguir alcançar esse espaço, mas fato é que todos os ano entra menos gente do que vaga. Essa informação me soava uma facilidade a princípio, mas a bem da verdade é que tem gente que perde no processo e nunca completar o quadro e vagas podia dizer mais de um desafio do que eu pudesse estar prevendo.

Porém não foi, segui os tramites, elaborei um projeto, olhei os professores disponíveis no site da UFRJ, observei os trabalhos deles no lates, enviei e-mail para aqueles que poderiam se interessar por aquilo que eu queria pesquisar, fui aceito por um, fiz  prova de inglês, passei pela banca e voilá... Entrei!

E por que você tá falando que que o mestrado profissional é fake news, Gato? Bem... O mestrado não é, o que é efetivamente é esse papo de flexibilidade, por que veja bem.. Se você tem uma rotina de trabalho puxada e vai entrar no mestrado profissional, não se engane, você vai colocar um elefante na sua rotina. A quantidade de horas de disciplina serem cursadas são idênticas, você precisa conciliar em apertados dois anos várias horas de aula, com uma dissertação (e a grande maioria das disciplinas e trabalho não vão ter absolutamente nada a ver com  sua dissertação), o professores võ exigir uma série de trabalhos de você do mesmo jeito e mais todas as suas obrigações da vida normal. Aliás eu vou além, você tem ainda mais entrega que o mestrado acadêmico (pelo menoS na UFRJ), por que além de um artigo cientifico, uma dissertação como o mestrado acadêmico faz, você ainda precisa entregar um produto. Você precisa passar por toas as bancas até a sua banca final, cumprir toda carga horária e tudo isso sem ter nenhum incentivo. Por que se hoje eu ganhasse uma bolsa eu tentaria pelo menos diminuir em um ou dois dias da semana minhas atividades abrindo mais tempo pra me dedicar, mas o mestrado profissional só restringe as suas possibilidades de ter benefício, a ralação continua igual..

Honestamente eu nem acho que a gente deveria entregar menos, talvez mais tempo fosse o suficiente, mais um ano.. Tal qual o mestrado acadêmico o profissional poderia ter que ter 360 horas de disciplina e mais todas essas entregas, mas com cumprimento em três anos em vez de dois, dessa forma você teria mais tempo pra diluir as disciplinas e ter que conciliar menos coisa ao mesmo tempo. Poderia deixar aberto pra defesa partir do segundo ano, mas ter mais um de folga pra defesa, só isso já ajudaria tanto.

Se alguém que quer fazer mestrado profissional cair nesse post eu de coração não gostaria de desestimular, com todos os problemas, o que ter um mestrado numa universidade pública te traz de reconhecimento é realmente positivo, eu amei voltar aos bancos escolares, mas recomendo que se prepare... Você vai precisar ter uma rede de apoio, sobretudo se tiver algum dependente, é importante ter algum nível de apoio da sua chefia no seu trabalho e  principalmente venha preparado. Acredite, dois anos passam rápido, as vezes a gente deixa de fazer algo por considerar que é muito tempo, num estalar de dedo dois anos passam e quando você vai ver está no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa. Fazer um mestrado é fazer algo por si mesmo, é se valorizar mesmo, vale a pena, só esteja preparado por que são dois anos de pedreira e flexibilidade de cu é rola, tem nada disso não. Fica a dica!