Se você procurar na internet uma definição sobre o que é RPG de mesa, sempre vai encontrar uma resposta meio mecânica, mas eficiente... Então eu vou partir da definição que chat GPT me deu pra começar essa conversa:
"RPG de mesa, ou Role-Playing Game, é um jogo em que os participantes criam e interpretam personagens fictícios dentro de um cenário e narrativa previamente definidos. Diferente de outros tipos de jogos, o RPG de mesa é colaborativo, sem um objetivo final fixo, e sua principal característica é a liberdade de ação e a criatividade dos jogadores."
É isso, nesta dinâmica você vai ter a figura do mestre do jogo, ele cria a trama principal e cria todos os personagens secundários (que são todos aqueles que não são vividos pelos jogadores, sejam eles aliados, inimigos ou neutros). Também temos os jogadores, que precisam construir um personagem, tanto montar sua história como criar uma ficha que vai definir suas habilidades. Partindo disso o mestre vai criar as situações e os personagens devem descrever suas ações, interagir entre si e com os personagens do mestre e etc.
As ações são sempre balizadas por dados, desta forma quando uma pessoa diz que vai fazer uma ação o mestre vai pedir pra que ele faça uma rolagem de dado que vai avaliar se ele teve sucesso ou não nas suas intenções.
Dentro desse universo existem diversos jogos, eles te dão os elementos necessários pra vc jogar, alguns vão ter recursos como miniaturas, tabuleiro e afins, mas o básico que vai ter em todos é ficha, dados e livros. Um livro de RPG vai te dar duas dimensões importantes: O sistema e o universo.
O sistema são as regras do jogo, ele vai descrever em quais circunstâncias os dados devem ser rolados, quando vai haver um sucesso, um fracasso e suas consequências. Já o universo é o mundo em que aquela trama se passa. Pode ser uma história medieval, uma história de heróis, um mundo distópico pós apocalíptico e etc.
Tem RPG de tudo, de absolutamente tudo. O mais popular no Brasil e no mundo é o Dungeons & Dragons” (D&D). Ele tá meio que na origem da coisa, O RPG de mesa tem suas raízes em jogos de guerra ( wargames) do início do século XX, onde os jogadores simulavam batalhas militares usando miniaturas e regras construídas. O grande ponto de transição para o RPG ocorreu em 1974 com a criação de D&D por Gary Gygax e Dave Arneson. “Dungeons & Dragons” incorpora elementos de fantasia e narração, permitindo que os jogadores assumam o papel de personagens em aventuras imaginárias, em vez de apenas comandar exércitos.
A partir daí, o RPG de mesa se expandiu rapidamente, inspirando a criação de muitos outros sistemas e cenários, como “Chamado de Cthulhu”, “Vampiro: A Máscara”, “Shadowrun”, entre outros. O RPG se tornou um personagem cultural, sendo adotado em vários países e comunidades ao redor do mundo, ganhando popularidade especialmente nos anos 80 e 90.
A cena mudou bastante com a popularização e avanço dos jogos eletrônicos, não sei precisar em termos de números, mas certamente joga-se muito mais RPG por game do que o de mesa. Por mais que os games tenham avançado bastante nas suas simulações da realidade é tipo comparar livro com filme, a imaginação humana sempre será uma fonte infinitamente mais ampla de muitas possibilidades.
A dinâmica do D&D cabe bem no universo game, por que em geral ele é mais objetivo nas suas missões, outros já tem mais complexidade. Eu comecei a jogar em sistemas adaptados (aliás acho um ótimo começo). Sistemas adaptados são sistemas simplificados, com menos regras e engessamento. Em geral são mais simples, então eu jogava em sistemas similares com a dinâmica do D&D, mas bem interpretativo. Em 2018 comecei a jogar Vampiro a Máscara e desde então não parei mais. Na verdade minha relação com RPG tá diretamente ligado ao meu casamento, meu marido é um jogador veterano, orgânico, desde a adolescência. Quando casei com ele, ele veio morar comigo há mais de 700kms da sua cidade e sempre dizia "será que nunca mais vou jogar RPG?". Eu ficava com muita dó e foi assim que resolvi aprender pra poder tentar arrumar pelo menos mais um jogador e poder proporcionar isso a ele, desta forma eu fui bem atípico, pq diferente da grande maioria dos jogadores eu comecei a jogar com quase 30 anos.
A partir de então a gente passou por três grandes fases. Nosso primeiro grupo com mais dois amigos que fizemos em jogo e mais alguns que foram se incorporando, uma espécie de interlúdio que passamos quando mudamos de cidade e ficamos um tempo curto jogando com uns jogadores de D&D e depois com alguns amigos da faculdade dele, com quem jogamos até hj mesmo todo mundo estando em cidades diferentes. Depois da pandemia passamos a jogar on line e outros jogadores de outros lugares foram se incorporando a esse grupo. Nele rolam várias mesas, quase todos os jogadores narram alguma dentro do universo de Vampiro.
Vampiro a máscara é o jogo mais conhecido da série "World of Darkness" (Mundo das Trevas), um universo de RPGs que explora temas de terror gótico, drama pessoal, intrigas políticas e dilemas morais. origem de "Vampiro: A Máscara" remonta à década de 1990, quando Mark Rein-Hagen, um dos fundadores da White Wolf Publishing, decidiu criar um RPG que fosse diferente dos jogos de fantasia medieval tradicionais. Ele queria um jogo que explorasse temas mais adultos, emocionais e sombrios, e que oferecesse aos jogadores a chance de interpretar personagens complexos e moralmente ambíguos. Eu costumo brincar que D&D é o ensino médio do RPG e Vampiro a Máscara a faculdade. É um jogo que te coloca diante de conflitos morais diversas vezes, te deixa cheio de dúvidas e tendo que buscar estratégias para solucionar problemas complexos. Inclusive é um bom hobbie pra você falar que tem em entrevistas de emprego, exatamente pelas muitas possibilidades de aprendizagem de forma interativa que vc tem, já aprendi boas lições com RPG. Aliás ver jogador de RPGs conversando é no mínimo engraçado, você vai ouvir coisas do tipo: "Lembra daquela vez que a gente invadiu o castelo daquele dragão ancião", "lembra quando fulano tentou fazer aquela magia e despertou um demônio ancestral" etc etc etc...
Atualmente o Mundo das Treva estão lançando a sua quinta edição... E o que isso quer dizer? Quer dizer que eles estão relançando o jogo com mudanças no sistema e no universo. Há alterações nas regras do jogo e se o último contava as histórias dos seres das trevas até final da década de 90 agora avançamos até o final da década de 2000. Uma nova edição de um RPG não diz apenas do lançamento de um livro, mas de uma coleção inteira. Tem o livro base que vai te dar o básico pra jogar, mas tem uma série de suplementos que vai te aprofundar em determinados aspectos daquele universo. No Mundo das trevas há livro base e suplementos de várias criaturas, o que tem mais complemento é vampiro, mas a editora também lançou de caçadores, lobisomens e já estão produzindo de magos. E como mercado editorial se mantém com livros em 2024? Gerando engajamento, colecionadores, fãs... Os livros são verdadeiras obras de arte e uma grana cada um deles, mas eles são lançandos devagar e a gente vai comprando devagarzinho, aqui em casa já tem uns três anos que os presentes de aniversário, natal, dia dos namorados, tudo tem sido livros de RPG e querem saber? Ficam bem lindos na minha estante.
Pra tentar dividir um pouco dessas sensações com você que está me lendo vou contar um pouco sobre aqueles que classifico como os 4 principais personagens que joguei até hoje, conheçam os meus meninos:
Galatéa Zenon 2012- 2014Esse período é aproximado, na verdade Galatéa foi minha primeira personagem e foi com a galera da nossa primeira mesa. Os anos foram mais ou menos esses, eu n sei com exatidão, a gente foi e voltou nesse RPG algumas vezes. Tratava-se de um sistema adaptado de D&D, Galatéa era uma anti-heroína, mas posso dizer que manteve-se assim por que tinha uma boa relação com os outros personagens da mesa, mantendo o espirito de equipe, do contrários seria uma vilã mesmo.
Naquele universo mítico haviam quatro reinos que se destacavam, três de um hemisfério ao norte rico e um quarto no sul emergente, mais pobre que os outros três, mas muito mais rico que seus vizinhos, fazendo com que ele fosse crucial para as políticas expansionistas do reino principal. Galatéa torna-se rainha desse reino do sul e era uma espécie de "ditadora carismática". A grande mãe do sul, rainha dos apátridas, guerreira de Zeus, vários títulos que atribuía a si. Temida por aliados e inimigos só tinha uma pessoa que segurava bem sua onda, Richard Gutemberg, personagem de outro jogador que era exatamente o oposto dela, era um Paladino, um soldado disciplinado e virtuoso. Richard e Galatéa foram parceiros em muitas aventuras e ele fazia certa vista grossa pros seus métodos... Digamos.. Controverso, como ter uma sala de tortura em seu castelo, por exemplo. Outro jogador colocou o carinhoso apelido de GalaTrevas. Vilã ou não, ela era bastante carismática e tudo passava com certa leveza.
Logan 2019 - 2020
Logan foi meu segundo personagem no universo de mundo das trevas no polêmico "Demônio a Queda". Lembra quando eu falei que existiam diversos seres no mundo das trevas? Vampiros, caçadores, magos e e lobisomens são meio que os básicos, mas também existe suplementos para para seres como múmias, fadas e demônios. Sem menor dúvida demônios são o mais polêmicos deles e não vai haver versão dele na quinta edição, mas no grande vale tudo da década de 90 rolou e digo mais, nessa narrativa demônios são anjos que se rebelaram contra a Deus por amor a humanidade, logo us era meio que o vilão, fazia muita alusão a esse Deus maluco e vingativo do velho testamento. Na verdade a polêmica nem para por aí, um demônio para voltar do abismo precisa de um hospedeiro e esse hospedeiro precisa ser alguém que está mal, que de alguma forma não valoriza a vida e por aí vai.
Mas falando do Logan ele foi o primeiro personagem tanque que peguei (aquele cara que é o porradeiro, brutamontes mesmo) e eu amei a experiência. Ele tinha uma humana (Janine) que era uma amiga, alguém que ele pegou pra proteger e que de algum forma dava sentido a vida dele, Logan fazia tudo para proteger Janine, que era uma personagem super carismática que todos os jogadores amavam. Infelizmente es RPG durou apenas uma temporada. Foi uma mesa bastante diversificada de jogadores, curtinha, mas que me marcou bastante.
Aisha Monforte Al-Abad 2021-2023
Aisha foi minha personagem numa versão da 3ª edição de vampiro a máscara chamada idade das trevas, voltada pra quem quer jogar vampiro na idade média. A ideia era que nós jogaríamos com nossos personagens numa trama que começaria em 1.300 e iria até os dias atuais, nesses momentos nosso personagens estariam muito fortes, daí eles se tornariam personagens do mestre nós faríamos novos personagens (já da quinta edição, por que quando começamos o dark ages ela só estava anunciada no Brasil) e nossos personagens seriam NPCs. Todavia o jogo foi até mais ou menos 1750, depois disso a trama já estava insuportável e os personagens terminariam se matando. Aisha foi a personagem que joguei por mais tempo, era a mais densa e de longe a mais difícil. Tal como Galatéa eu a fiz pra ser uma ante heroína, mas num universo tão denso e complexo como o mundo das trevas, de um ante herói para um vilão é um pulo. E olha que Aisha nem cometia erro tão graves, mas ao contrário da minha primogênita ela se virou contra os membros da mesa, virou antagonista na história e chegou a matar uma personagem. Só quem joga sabe o que significa vc investir três anos num personagem e ele ser morto, eu nunca perdi um personagem e nunca tinha matado o de ninguém, foi beeeeem pesado. Se ela mereceu? Certamente, todas elas pra quem Aisha se virou mereciam, mas o jogo realmente foi ficando muito pesado, as jogadas todas sendo feitas separadas, tava ficando bem chato e com uma jogadora a menos, com as outras querendo se matar e com mais de um ano da quinta edição lançada no Brasil o mestre resolveu encerrar a mesa e pular pra atualidade. Aisha era uma personagem que tinha consigo apenas uma certeza: "Não interessa quem iria ganhar a guerra, essa pessoa seria quem ela estaria do lado do final". Ela não tinha nenhuma ambição por poder, mas por decidir quem seriam as pessoas que estariam no lugar de poder. Cínica, manipuladora e sorrateira foi sem a menor sombra de dúvida a maior vilão que eu já interpretei.
Rick Cruz 2024 até o momento dessa publicação
Depois de 03 anos com Aisha eu precisava de sombra água fresca e foi nessa pegada que nasceu Rick. Ele é um personagem de Vampiro a Máscara da quinta edição, que tem bastante dotes físicos, mas que não chega a ser o Logan, na verdade ele é acima de tudo um investigador. Além de ser um bom hacker tem várias habilidades de um bom detetive e tá entregando isso com força. Ele é apegado ao grupo, o defende com convicção e está sempre disposto a cooperar com seus parceiros, mesmo que tenha de por a vida em risco. Sua história era pra fazer dele um garoto mais descolado, mas na distribuição dos pontos na ficha sobrou pouco ponto pra carisma me fazendo interpretar mais um nerdão meio lobo solitário, mas ainda sim muito prestativo e disposto a somar. Numa história ambientada em SP, fiz questão de fazer do Rick um personagem cheio de brasilidade.... Essa era a ideia: Gente boa e a cara do Brasil.
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