24.9.24

Catita e a causa pet na vida do gato




Conheci Catita no segundo semestre de 2018, na ocasião eu morava num apartamento que tinha um estacionamento que ficava de frente pra ele e era aberto, ela era uma vira latinha de rua que ia pra lá dormir. Sua presença gerou meio que um paradoxo, pq ela era muito carinhosa e meiga e todo mundo do prédio colocava uma comidinha e água pra ela, mas ela tbm era infestada de pulgas e carrapatos e meio que rolou uma infestação no estacionamento. Daí o dono do lugar meio que ficava querendo tirar, mas ele mesmo sentia dó.

Todas as vezes que eu ia pegar meu carro ela vinha abanando a caldinha e se por ventura eu não passasse a mão na cabeça dela, ela chorava. Quando eu ia a padaria ou super mercado ela tbm vinha atrás de mim, a vezes chorava do meu lado, daí eu parava e fazia carinho e quando eu levantava ela chorava de novo. Precisava brigar pra ela não entrar nos estabelecimentos comerciais comigo.  Eu era míope pra muita coisa naquela época, mas a verdade era uma só, ela já tinha me escolhido. 

Naquela altura eu já tava bem afim de pegar ela pra mim, mas pensava nos gastos e em tudo que um animal de rua podia ter de doenças. Um belo dia eu estava em viagem e meu marido me manda um vídeo dela dizendo que achava que algo havia acontecido, a bichinha estava arrastando as pata de trás, fiquei perturbado, mas a noite mandou outro vídeo dela chorando tentando morder os mosquitos e sem conseguir sair do lugar. Ficou claro que aconteceu algum acidente com Catita e que ela ia morrer ali, com a gente assistindo, eu não aguentei.

Logo que cheguei enrolei ela num lençol velho, levei num veterinário amigo meu, entrei com a medicação de pulgas e carrapatos, marquei exames, dei um banho nela e levei pra minha casa. Após o raio x veio a confirmação que havia sido atropelada e a cirurgia não sairia a menos de 3000 reais. Eu não tinha o dinheiro e daí lancei uma campanha na internet, consegui levantar a grana, fiz um instagram pra ela e passei a documentar toda a recuperação.

Descobrimos que Catita já era velhinha, mais ou menos uns 08 anos e que provavelmente viveu na rua todos esse tempo, sendo uma resiliente mesmo, passando fome, frio e muita carência pq a bichinha era muito carinhosa. Em função da idade avançada o médico falou que a recuperação ia ser lenta, ensinou pra gente exercícios de fisioterapia. Todo dia descíamos com ela no colo e fazíamos. A recuperação foi realmente lenta  cada passinho era comemorado, aos pouco ela voltou a andar, depois com muita dificuldade começou a subir a escada, pelos cantinhos se escorando, um dia tomei um susto quando a vi em cima do sofá.

Ela já estava com a gente há mais ou menos 08 meses, vinha recuperando no tempinho dela quando começou uma tosse muito estranha, foi tudo muito rápido. Era verme do coração, Catita nos deixou, alguns meses depois da morte dos meus avós e eu não tenho adjetivo pra descrever pra vocês o tamanho do buraco. Eu durante toda minha infância tive cachorros, com vinte e poucos anos enterrei a ultima cachorrinha da minha infância, foi um golpe tão duro que prometi que nunca mais queria ter de novo, foi Catita que me reacendeu esse desejo novamente, com seu jeito meigo, seu olhar tão expressivo e com a generosidade com que me adotou.

Eu fui atravessado pra sempre por ela, passei a olhar pra causa dos animais de rua, antes eles realmente era invisíveis pra mim, hoje eu não posso ver um cachorrinho pela rua que não consigo pensar sobre o quanto esse bichinho está exposto e negligenciado, hoje carrego comigo o desejo de envelhecer num santuário pra animais resgatados, é um sonho mesmo. Também agarrei ranço de quem compra animal e milito contra a comercialização deles.  

Algum tempo depois conheci um protetor de animais, contei minha história pra ele que super me acolheu, um dia me ligou dizendo que um dos espaços que ele tinha pra seus bichos ficava num condomínio e ele estava sendo pressionado a retirar os animais, pediu pra ser lar temporário de uma cadelinha, mas ele foi bem safado e falou "estou mandando uma na maldade, ela é a cara de vocês". O bandido acertou em cheio, nunca mais devolvemos e foi assim que Laika entrou na nossas vidas.




Quando chegou era magrinha e com os pelos igual um ursinho arrepiado, mas nada que um bom trato não transformasse ela na princesa que ela virou. Segundo nosso amigo uma mulher levou ela pra castração pública dizendo que era da sua vizinha, que vivia largada  que uma hora ia aparecer cheia de filhotes. A mulher nunca mais voltou pra pegar.  Já tem 05 anos que Laika está com agente, ela é tão meiga, sossegadinha, medrosa, que eu fico me perguntando como esse bichinho vivia largado. Seja lá como for ela hoje tem uma família e um lar.

Durante muito tempo carreguei a culpa comigo e não ter buscado um veterinário pra Catita nos primeiro sinais, hoje eu entendo que ela veio pra minha vida pra abrir meus olhos e eu vim pra dela, pra garantir um pouquinho de alegria numa vida tão sofrida, ela foi muito amada e cuidada nos seus últimos meses. Na minha ignorância eu não deixava ela subir em cima da cama, deitar comigo e hoje Laika literalmente faz o que quer. Para um casal gay ter um animal como seu dependente em casa meio que acaba sendo a cereja do bolo na formação de uma família, nós somos melhores, mais unidos e nossa casa tem muito mais amor com  presença dela aqui e certamente nunca mais deixaremos de ter um animalzinho adotado com a gente e toda essa alegria eu devo ao meu anjinho, Catita.




Nenhum comentário:

Postar um comentário