Nota sobre os últimos capitulos...

Nunca foi segredo pra ninguém meu sonho de constituir família, chego a ser brega. Quero ter marido, filhos, barulho de criança em casa, natais com Papai Noel , vizinhos simpáticos, cheiro de feijão refogando, biscoitos na mesa do café e etc... O primeiro bom motivo pra isso é o fato deu adorar família... Moro em casa de vó e tenho na minha casa uma circulação de casa de vó. Me sinto afagado perto dos meus, acho linda aquela educação suíça a mesa, q passa galinha pra cá, voa farofa pra lá... Um espetáculo!!!


E o outro bom motivo é a minha preocupação com a velhice... Nessa família as pessoas vivem muito e desejo que comigo não seja diferente, mas fico sinceramente preocupado com como será a minha caminhada quando eu precisar usar andador. É claro que algumas pessoas, morrem ainda quando estão ativas e se mantem ativas durante toda a vida, como tem sido o caso dos meus avós, por exemplo. Ela com 80 e ele com 82 são absolutamente independentes, recebem pagamento, pagam as contas, cuidam da administração da casa e em geral dão conta do recado. Mas a gente sabe que a regra não é sempre essa... E se esse não for meu caso???. E se num dado momento começo a não reconhecer as pessoas??? Se me faltam as palavras e me perco nas contas??? Se preciso voltar a usar fraldas??? Com quem vou contar??? Primas??? Uma irmã??? Sobrinhos??? Os meus contemporâneos possivelmente talvez possam ajudar menos do que de fato gostariam, os seus filhos devemos torcer que façam por eles, cuidar do primo da mãe com todo o trabalho que isso pode trazer e na correria da vida é realmente muito complicado. Vocês devem estar pensando: E filhos garantem alguma coisa??? Não, eles não garantem, mas sinceramente pra mim ainda é a melhor aposta... O fato de ter filhos torna apenas provável que alguém vá cuidar de vc na velhice, o fato de n ter torna muito pouco provável. Não sei quantos de vocês que estão me lendo conhecem um asilo, quem conhecer vai entender a minha angustia.


Pensei nisso hj especialmente por um motivo... A minha avó teve quatro irmãos, de mulher era ela e mais uma... Em sua juventude era uma boa moça, pensava em casar e ter filhos, fez todas as escolhas caretas que tb não foi nenhum contrato coma felicidade. Na outra ponta a minha tia avó, absolutamente hedonista optou pelos prazeres da vida seguindo a filosofia “depois a gente morre e fica tudo ai”. Visionaria e revolucionaria, minha avó conta que quando ela tinha 20 anos, tinha um namoradinho de 85... Fazendeiros, políticos... Tanto amantes qto ouro adquiriu com essas relações... Certa vez vi uma foto com ela de vison, um enorme chapéu, luvas e toda pompa que se possa imaginar. Quando ninguém tinha carro, ela tinha motorista...


O que minha tia não esperava é que muito depois ela morreria e muito daquilo que ela imaginava que ficaria ai, se foi antes dela. Por volta dos cinqüenta anos começou a perder a sanidade, situação que foi se agravando com o passar da idade... Os ouros, assim como a pompa, terminaram no lixo... Antes de morrer minha bisavó pediu que minha avó não deixasse de cuidar da irmã nem um dia se quer... Contra tudo e contra todos minha avó tomou pra si esse fardo... Sobrinhos e irmãos insistiam para que ela fosse internada num manicômio, mas a minha avó em nome de laços que já não se fazem, comprou essa briga e disse não. Muitos foram os anos que se passaram com minha tia avó morando numa casinha pequenininha do lado da minha avó, no mesmo quintal. Nós nascemos, crescemos, nos tornamos adultos vendo ela ali... Sempre quietinha em casa... Minha avó levava as refeições pra ela... E ela gozava de uma certa liberdade... Tinha uma conta na venda do lado de casa pra que comprasse suas coisas a vontade... As vezes ela comprava um biscoito pro café, as vezes comprava dez baldes e ng sabe pra que...


Há mais ou menos dois anos a situação que já era triste piorou, ela adoeceu, ficou acamada, usando fralda... A insistência pela internação voltou e mais uma vez minha avó turrona, já cansada, já precisando de seu descanso, comprou a briga e disse não... Enqto ela tiver força e sanidade, a irmã vai estar do lado...


Atualmente com 91 anos, minha tia passa os anos, dias e horas deitada naquela cama, com um olhar distante... As vezes conversa alguma coisa na hora do banho ou de alguma refeição... As vezes não... Hoje ela começou a gritar e chorar, corremos pra ver o que acontecia, estava chamando pai, como se tivesse acabado de saber que ele morreu... Ficamos com ela, tentamos acalmar... Passou uma meia hora... Quarenta minutos... Ela estava mais calma e nós voltamos pras nossas atividades... No fim da tarde fui olhar como ela estava... E a vi distante, perguntei se tava tudo bem... Ela não respondeu... Sentei ao seu lado na cama, segurei em sua mão... Ela ainda não respondeu... Mas apertou forte e me deu um sorriso... Fiquei um tempo com ela... Tirei o celular do bolso para fotografar nossas mãos dadas... Não quero esquecer daquela imagem e tentar construir uma vida de maneira a ter alguém quando toda complexidade que vos escreve se reduzir a uma pequena sombra daquilo que sou hoje... Quando não conseguir mais racionalizar ou pelo menos verbalizar o que sinto... Qdo conseguir apenas sentir um gesto... Nesse momento só quero ter alguém para apertar a minha mão!!!