4.2.10

virtualis



E foi embebedecido pelo after de dois encontros vindos da blogsfera e com uma semana de interação frenética neste mesmo espaço, que fiquei pensativo a cerca das relações de natureza virtual e do investimento que se faz nelas.


Já tem um tempo que estou nessa historia e a Internet me acrescentou somas consideráveis à vida. Porém, às vezes, ainda me vejo divagando a cerca dessa onda toda. Nos encontros, que sempre começam com um certo frio na barriga e alguns sorrisos amarelos, existe um estagio em que vc ainda não identifica naquela figura que está na sua frente o sujeito com quem vc levou horas da vida, que riu, chorou, trocou confidencias e o diabo. Pra mim esse é o momento de maior estranheza, exige um certo jogo de cintura e alguma elaboração.


Posso seguramente dizer que até o presente momento todos os encontros que tive via net foram felizes, alguns mais, outros menos, mas todos satisfatórios. A primeira vez foi com um amigo de Brasília e lembro que evitei o que pude o encontro tamanho era meu nervoso, quebrar o anonimato me causava calafrios. Ele agiu como uma pantera, descobriu onde eu tava, foi até o lugar, me deu um toque no celular, ficou próximo ao único orelhão das redondezas e qdo fui retornar a ligação... Bingo.. Apareceu bem na minha frente!!! Que bom que o fez, naquele dia ele me espantou uma serie de fantasmas e começou um processo onde o virtual deixou de ser uma paralela a minha vida. De lá pra cá foram amigos, amigas, paqueras, amores, irmãos, um leque de possibilidades que saíram do escuro e passaram a ser parte ainda mais significativa de minha pessoa.


A minha experiência pessoal é o extremo oposto da paranóica critica da substituição. A idéia maluca de que quem se permite ter relações por via da Internet (leia relações como qq relação interpessoal), geralmente substitui o contato real pelo virtual me da muita preguiça... Pesquisas sociológicas indicam que o mais comum é que indivíduos que possuem uma rede grande pela telepresença são os que mais tem encontros presenciais. O crescimento das tecnologias de comunicação e transporte ocorreram juntas historicamente... O surgimento da escrita não substitui a fala, do cinema não substituiu o teatro, da fotografia não substitui a pintura. A premissa empobrecidamente didática de que algo que chega necessariamente substitui o que está desconsidera toda complexidade humana e o qto ela definitivamente não é linear.


Ter amigos pela Internet nunca me impediu de ter amigos na rua da minha casa. Minha empatia não tem ligação com a geografia, porém devo assumir que tendo um veiculo onde posso trocar com pessoas do mundo inteiro, prefiro explorar essa possibilidade a conversar com gente que ta na minha esquina. Fico de cara qdo vejo alguém falando coisas do tipo “só teclo com pessoas da grande São Paulo”... Porra, segunda feira sai com uns amigos, fomos num buteco, conheci uns amigos deles, batemos papo, trocamos idéia e rimos baldes... Terça sai pra lanchar com minha prima e uns amigos dela que moram lá perto de casa... Ontem vim pra casa da minha amiga estudar com ela e minha prima... Terminando tudo conversamos até cair no sono um do lado do outro na cama. E mesmo com tudo isso, na cabeça histérica das pessoas, qdo venho pra net o correto a fazer é continuar a ter contato com essas mesmas pessoas pk do contrario sou alguém que vive num mundo paralelo descontextualizado da realidade??? Ai... Preguiiiiça!!!!!


O que torna a natureza de uma relação saudável não é o espaço em que ela se da, mas a maneira que as pessoas direcionam... Claro que tem gente que faz mau uso disso, como pode acontecer com qq outra coisa. Certa vez comentava com um amigo que falei no áudio com um carinha do Belém do Pará (acho até que era o Mauri) e que o sotaque era interessante... E ai ele perguntava onde eu encontrava essas pessoas e que era legal essa possibilidade de falar com gente de uma renca de lugar e fechou dizendo:


Qdo uso skype nem reparo sotaque direito, mal começo a falar já me perguntam se sou ativo ou passivo.


E é engraçado.. Comigo nunca aconteceu... Por que será????


Bem... Nada contra, cada um no seu quadrado, mas são por essas e por outras que vez ou outra ele critica o investimento que faço no virtualis... Na cabeça dele o investimento é numa coisa e na realidade ele se da em outra.


A Verdade é que eu adoro me comunicar e descobri que um dos maiores prazeres que tenho na vida está em lidar com o outro, independente da via, a gente nunca sabe no que pode dar, mas como bem disse Sartre “Se o outro é um risco também é a nossa única opção”... Opção essa que tem toda minha dedicação para que se de da melhor maneira possível, independente de onde ocorra a trama.



9 comentários:

  1. Clap Clap Clap ... aplaudindo de pé ... sensacional ... nem vou comentar nada mais pois está perfeito isto ...

    Para fechar transcrevo: "A Verdade é que eu adoro me comunicar e descobri que um dos maiores prazeres que tenho na vida está em lidar com o outro, independente da via, a gente nunca sabe no que pode dar, mas como bem disse Sartre “Se o outro é um risco também é a nossa única opção”... Opção essa que tem toda minha dedicação para que se de da melhor maneira possível, independente de onde ocorra a trama."

    bjux miguxo Imperador

    ;-)

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  2. Mas acho que a sua experiência pessoal, que também é a de muitos, não exclui nem desqualifica os estudos que observam que muitos tendem a substituir interações reais por virtuais. Agora, não se trata de um "geralmente", é a escolha de uma quantidade de indivíduos.

    Quanto aos exemplos que você deu, acho que a questão não se trata de substituição. Porque, embora o surgimento da escrita não substitua a fala, o surgimento do cinema não substitua o teatro, a gênese da escrita afetou a fala dos povos (a fala não precisa ser mais espaço de memória, já que existe a escrita) e o cinema afetou o teatro (que inclusive descobriu outras possibilidades cênicas e dramatúrgicas). Acho que não se trata de substituir, mas de afetar.

    Do mesmo modo, o meio virtual afeta sim as relações. Para alguns indivíduos, de modo radical, com a substituição de relações reais. Para outros, há um decréscimo do hábito de leitura, sobretudo de textos mais longos como livros (já que no meio virtual os textos tendem a ser mais curtos e de linguagem mais informal).

    Acho que é mais interessante pensar que toda nova ferramenta modifica a relação que indivíduos inseridos numa cultura têm com as ferramentas pre-existentes. E é preciso investir no melhor uso de todas elas - sejam as existentes ou as novas.

    Infelizmente, nem todo mundo vai por esse caminho e adota novas ferramentas para respaldar hábitos ruins.

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  3. Também penso bastante nisso. Bastante mas não tanto assim... hehehe! Acho estranho esse novo modo de se relacionar com as pessoas... mas se for escrever tudo vira uma tese. Em resumo: vidinha virtual é divertida, mas a real também. E como!
    Valeu pelo comment, querido e tenha paciência... todo mundo terá seu dia de superhero!
    Hugz!!!

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  4. Eitcha...isto que é corte epistemológico. Num dia a gente ri, no outro racionaliza a risada. Mas eu topo!
    Concordo com o Diego, as coisas que entram em contato acabam modificando uma às outras. Aliás, tudo que está vivo, está movimento, quer se veja ou não...Então é possível investigar de que forma as coisas se afetam e nos afetam...
    E uma coisa que eu realmente gostaria de entender é sobre a tal da elaboração do Gato sobre o momento em que aquela pessoa que você tem muita intimidade virtual passa a ter rosto e trejeitos que são dela mesmo e não fantasias suas...

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  5. Sou fã confesso desta já não tão nova forma de comunicação que me possibilitou encontrar pessoas inteligentes bonitas amigas divertidas sem quase qualquer barreira! Adoro quando passam a fazer parte da vida mais "in loco, ao vivo" mas sem neuras, porque qualquer que seja a forma de interação ou a posição geográfica, essas pessoas todas são amigos muito reais.

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  6. Num esquenta...eu também não entendo muito bem o que escrevo... devia estar sob efeito da besta.
    Pois é, esta sensação é que é estranha. E não conheço um nome para ela, por isso perguntei da sua elaboração sobre isso...é bem como você descreveu, uma espécie de curto circuito entre duas sensações, a de familiaridade e a desconhecimento... É tipo um "deja vu" ao contrário...

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  7. Junto com o Paulo Braccini, fico de pé para te aplaudir pelo post. Maravilhoso! Muito bem escrito. E concordo com suas idéias. Adoro a net, adoro o blog, e as pessoas que pude conhecer através da rede mundial de computadores. Mas é claro que faço questão de conhecer pessoalmente as pessoas com quem teclo. Se são amigos, que sejam além do virtual também! Porque não?
    Parabens! Gostei mesmo.
    Forte abraço.

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  8. Bom, eu penso o seguinte: O tempo é o tempo.

    Se você tem uma pessoa que em um dia, passa 4 horas na frente de um pc, e outra que passa 10 horas na frente do mesmo, certamente a que passa 10 horas tem muito mais tempo investido nas relações virtuais, logo, menos tempo investido nas relações reais do que os que passam 4 horas.

    Não quer dizer necessariamente que um é substituido pelo outro... um não impede o outro de acontecer, mas certamente quem passa mais tempo em um, passa menos tempo no outro.

    Eu confesso que sou apaixonado pelas relações reais, mas de uns tempos pra cá, também venho descobrindo a mágica das relações virtuais (independente do nível de relação). Mas acho que o mais gostoso disso tudo, é quando você consegue transformar as duas coisas em uma só. Ai você lê o que o outro digita, e consegue visualiza-lo falando aquilo, com todo o sotaque e trejeitos que tem direito. Independente daquela pessoa ser do seu meio. Da sua cidade. Novos ares não matam ninguém XD

    Beijos gato.

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